O FESTIVAL DOS BALÕES… DE ENSAIO
Lá fora, as ações asiáticas fecharam em alta nesta terça-feira (29), com o nervosismo do mercado relacionado aos protestos na China diminuindo — como conversamos ontem, as manifestações foram desencadeadas pela crescente raiva da população frente às restrições do Covid-19. O movimento positivo na Ásia também foi impulsionado pelas empresas imobiliárias chinesas depois que o regulador de valores mobiliários da China suspendeu a proibição de refinanciamento de ações para empresas imobiliárias listadas.
Apesar de os mercados europeus não terem uma manhã tão boa, não apresentando uma única direção, os futuros americanos sustentam certo otimismo, tal qual o pregão asiático, pelo menos por enquanto. Nos EUA, ainda há muita apreensão para os dados da semana, bem como para as falas dos chamados Fed boys, que vem causando sentimentos mistos no mercado, muito por conta das contradições entre as falas — enquanto uns antecipam um possível pivô por parte da autoridade monetária americana, outros insistem na necessidade de mais juros para controlar a inflação.
A ver…
00:38 — Charminho
No Brasil, o governo eleito faz charminho há semanas para apresentar o nome do ministro da Fazenda, que deverá realmente ser o ex-prefeito da capital paulista, Fernando Haddad. Ontem, na saída do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), sede da transição de governo, Haddad disse que passaria a integrar hoje a equipe dos economistas da transição. O mercado parece já ter entendido o movimento. Resta saber os nomes dos demais ministérios, segundo escalão e outros órgãos, como BNDES, bem como os planos para a PEC da Transição e para a próxima âncora fiscal.
Haddad é visto como um membro menos ideológico do partido, sendo ele mesmo considerado mais lulista do que petista. Está longe de ser o que o mercado queria ou uma solução de centro, mas não é o pior cenário. Afinal, imagine se fosse o Mercadante… Bem, com isso, Lula coloca seu sucesso espiritual no "pior emprego do mundo" (em homenagem ao livro de Thomas Traumman sobre o Ministério da Fazenda), deixando-o na linha de fogo para os próximos anos (imaginem se o plano econômico der errado ou o Lula ser forçado a demitir seu sucessor, que situação).
O anúncio formal deverá ser feito em breve. Para minimizar o estresse, Lula deve colocar nomes mais moderados no segundo escalão de relevância, como o de Felipe Salto na Secretaria do Tesouro (possível, mas ainda não confirmado). Além disso, se prepara um Conselho Econômico Especial ligado à Presidência, muito parecido com o da Casa Branca, nos EUA — Pedro Malan, Armínio Fraga, José Roberto Affonso e Pérsio Arida, entre outros, deverão fazer parte. Resta agora ver como a PEC da Transição será trabalhada na reta final do ano antes do recesso legislativo.
01:46 — Ansiedade americana
Os mercados americanos estão voltando de uma semana encurtada por feriados que foi relativamente leve em notícias corporativas e dados econômicos. Agora, os investidores têm uma semana mais movimentada pela frente, pois continuam monitorando a inflação mais alta em décadas e seu impacto nos consumidores, negócios e política monetária. Diante disso, a segunda-feira foi negativa — mais de 90% das ações do S&P 500 fecharam no vermelho.
Naturalmente, nos EUA, o principal evento da semana será o relatório de empregos na sexta-feira. O mercado antecipa um crescimento de 200 mil empregos em novembro, uma desaceleração em relação ao forte ritmo de contratação de 261 mil em outubro. Contudo, isso não seria uma má notícia para o mercado, se a implicação for que o Federal Reserve pode diminuir sua trajetória de alta de juros. Por outro lado, um declínio maior no crescimento do emprego pode aumentar os temores de recessão.
A ansiedade continua alta sobre a capacidade do Federal Reserve de domar a inflação aumentando as taxas de juros sem ir longe demais, causando uma recessão. A taxa de referência do banco central está atualmente em 3,75% a 4%, já bem acima dos quase zero em março. O mercado sentiu o movimento, mas agora começa a pensar mais no final do ciclo de aperto monetário e na recessão que está por vir.
02:39 — Mais aperto monetários nos EUA e na Europa
Apesar do otimismo verificado nesta manhã, ainda que tímido, as últimas manifestações das autoridades monetárias não foram lá muito positivas. Para ilustrar, o presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, sugeriu mais aperto na política monetária, ainda que haja a possibilidade de cortes nas taxas em 2024 — o sinal é misto, uma vez que diante da incerteza os investidores preferem certa cautela; afinal, é incomum falar em flexibilização quando o ciclo de aperto não está completo.
Enquanto isso, na Europa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, indicou que a inflação europeia pode não ter atingido o pico e que mais aumentos de juros são necessários para controlar a situação. Por isso, muitos investidores estão mastigando cada detalhe dos números preliminares da inflação de novembro na Alemanha e na Espanha, que são divulgados hoje — a situação europeia fica mais delicada por conta da guerra na Ucrânia, da crise energética e da questão fiscal dos países.
04:16 — A dor de cabeça de Xi Jinping
A situação toda na China tem sido uma dor de cabeça para Xi Jinping, que viu o sentimento dos investidores ser prejudicado pelas recentes manifestações na China. Ainda que a calma possa retornar nas próximas sessões, algum estrago já foi feito, uma vez que a segunda maior economia do mundo foi sufocada por uma política de “zero-COVID”, que inclui restrições que ameaçam continuamente a cadeia de suprimentos global. A agitação alimentou as preocupações de que, se o líder chinês Xi Jinping reprimir ainda mais os dissidentes ou expandir as restrições, isso poderia desacelerar a economia chinesa, o que prejudicaria o crescimento econômico global.
Por enquanto, os mercados asiáticos reverteram as quedas de ontem, enquanto as autoridades chinesas controlavam os protestos locais (em alguns casos de maneira bastante agressiva). Na nova década, ao que tudo indica, as oscilações do mercado em eventos políticos provavelmente serão uma característica crescente. O problema é que o mercado é, na média, um péssimo avaliador de eventos políticos marginais (vide o exemplo brasileiro, como tem sido caótico o mês de novembro). A ausência de qualquer escalada dos protestos pode ajudar a trazer alguma calma aos mercados.
04:01 — Os barris de petróleo
Os preços do petróleo caíram na manhã de segunda-feira e se recuperaram nesta terça-feira, depois da diluição do receio de que protestos e casos recordes de Covid-19 na China provocaram temores sobre a demanda global. Isso fez com que a reunião da OPEP no começo do mês que vem se tornasse ainda mais importante.
No mês, o petróleo Brent, referência internacional, está caindo cerca de 10%, negociando hoje a pouco acima de US$ 85 por barril. O West Texas Intermediate, padrão dos EUA, também caiu, negociando ao redor de US$ 80 por barril. Ambos os contratos estão próximos das mínimas de 10 meses.
Outro fator que afeta o mercado de petróleo são as negociações entre os líderes da União Europeia para estabelecer um teto para o preço das exportações russas. As negociações terminaram sem uma resolução na semana passada. O limite do que a Rússia pode cobrar, que será aplicado pelos membros do G7, deve entrar em breve.
Com isso, a OPEP certamente observará de perto os eventos recentes ao tomar sua decisão sobre a produção de petróleo. Com vários fatores convergindo ao mesmo tempo, pode ser uma semana de volatilidade para o petróleo, que poderá ter sua oferta cortada mais uma vez, voltando a ver seus preços subindo.