CHÁ DE PESSIMISMO
Lá fora, as ações asiáticas caíram nesta quinta-feira depois que o Federal Reserve sinalizou que as taxas de juros dos EUA poderiam subir mais do que o esperado e alertou que a maior economia do mundo cresceria menos do que o esperado no próximo ano, alimentando temores de que uma recessão esteja a caminho.
Para piorar o humor dos mercados globais, embora o Fed tenha aumentado as taxas em 50 pontos-base, conforme o esperado, o famoso "gráfico de pontos", com previsões dos membros da autoridade monetária, sugeriu pico do processo de aperto monetário acima de 5%, como temos falado há algum tempo que seria o mais provável.
Repercutindo a notícia e ansiosos pela reunião do BCE (Zona do Euro) e do BoE (Reino Unido), os investidores europeus têm uma manhã difícil. Os futuros americanos também experimentam queda por enquanto. O Brasil deve continuar a viver sua própria lógica doméstica, muita pautada pela agenda política volátil e incerta.
A ver…
00:47 — Não parece haver votos suficientes
Hoje, por aqui, o mercado acompanha de perto os vetores políticos em Brasília, enquanto também aguarda a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, que deve passar uma visão mais detalhada do BC sobre os preços no Brasil. Contudo, como temos percebido ao longo de novembro e dezembro, o que tem dado o tom do dia é o agrupamento de eventos políticos. Ontem, foi a entrevista do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que aprimorou o ambiente das ações locais, ainda que continue existindo muito pessimismo depois da mudança na Lei das Estatais.
O grande assunto do dia é a tentativa do PT de passar da PEC da Transição na Câmara, apesar de não ser consenso se há votos necessários para a aprovação. O julgamento no STF sobre as emendas de relator piora ainda mais o clima dos congressistas, que se veem pressionados pelo judiciário e por Lula. O tempo é curto e ainda há muita incerteza no ar, apesar de sabermos que o grande diferencial de longo prazo se dará por um novo arcabouço fiscal, que será discutido com maior profundidade no início de 2023. Até lá, teremos volatilidade sobre a curva de juros.
01:45 — Mais juros
Nos EUA, as ações fecharam em queda ontem depois do aumento de 50 pontos-base na taxa de juros pelo Federal Reserve, para a faixa-alvo de 4,25% a 4,50% — foi uma desaceleração das elevações dos juros depois de quatro aumentos consecutivos de 75 pontos-base. O problema ficou, porém, na mensagem de Jerome Powell aos mercados: não há nenhum pivô de política monetária à vista.
Além do aumento da taxa de ontem, as autoridades sinalizaram uma taxa de pico mais alta em 2023, acima de 5%. Coletivamente, eles esperam uma economia menos robusta no próximo ano do que o esperado, juntamente com um caminho mais longo para baixo da inflação de décadas. Ou seja, bem diferente do que uma parte considerável esperava, não deveremos ter queda dos juros nos EUA no ano que vem.
Sabíamos que o rali mais recente era fruto de muita ansiedade do mercado por uma mudança de postura, a qual não deve acontecer tão cedo. A previsão mediana dos 19 membros do FOMC prevê que a taxa máxima de fundos federais em 2023 atinja 5,1%, em comparação com uma estimativa de 4,6% em setembro e 3,8% em junho. Ou seja, a política restritiva veio para ficar, uma vez que a experiência histórica adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política monetária.
02:49 — E a Europa, como fica?
Se ontem foi a vez dos EUA, hoje, na Europa, teremos a reunião de política monetária do Banco Central Europeu, para a Zona do Euro, e do Banco da Inglaterra, para o Reino Unido. Espera-se que as duas autoridades continuem elevando os juros, o que gera ansiedade nos mercados europeus, provocando uma realização nesta manhã.
Espera-se, porém, que nos dois casos o ritmo de aumento das taxas seja reduzido para 50 pontos-base. A situação europeia, no entanto, é bem mais delicada que em outras regiões, uma vez que o continente passa por uma guerra, uma crise energética e a pior inflação em décadas, tudo isso no começo do inverno.
03:22 — A China manteve sua postura
Na China, o Banco do Povo da China (a autoridade monetária chinesa) manteve algumas de suas principais taxas inalteradas, mesmo diante dos temores de desaceleração econômica, herança das restrições por conta da Covid-19, que embora estejam em processo de relaxamento, deixaram um legado perverso para os investidores, considerando o estrago feito sobre as cadeias de suprimentos e atividade.
As taxas mantidas foram a de linha de crédito de médio prazo, de um ano, e do acordo de recompra reversa de sete dias. Com o movimento, os formuladores de política monetária na China indicam que as demais taxas da economia, como a de empréstimos de 1 e 5 anos, também devem ficar inalteradas, mesmo diante das pressões por mais estímulos depois das frustrações com a produção industrial e com as vendas no varejo. O fato é problemático para a atividade econômica asiática.
04:04 — Mudanças no cominho
A prisão de Sam Bankman-Fried (SBF), realizada na segunda-feira nas Bahamas a pedido do governo dos EUA, pode trazer grandes mudanças para as criptomoedas, de modo a evitarmos novas fraudes e violações de regulamentos, como aconteceu no caso da FTX. Como sabemos que muitas pessoas adoram chutar cachorro morto, várias entidades entraram para punir SBF e o que sobrou da FTX — promotores federais, a SEC e a Commodity Futures Trading Commission são alguns dos nomes interessados em punir as partes envolvidas.
SBF pode pegar prisão perpétua a depender do caminho que o julgamento tomar, mas não é isso que chama atenção. O processo pode gerar consequências para o resto do mercado cripto, em especial para as companhias como a FTX.
Agora, legisladores americanos e reguladores estão debatendo quem tem o poder de supervisão sobre as criptos. Mais rigidez nos controles sobre o mercado deve ser o principal tema dos próximos capítulos, matando um pouco do espírito livre que era parte da essência desse mundo desde a sua concepção. Faz parte do amadurecimento.