Esquenta dos mercados: Bolsas internacionais caem com avanço da Rússia sobre a Ucrânia; Ibovespa acompanha cenário fiscal, Paulo Guedes e Campos Neto
Na agenda de balanços do dia, Johnson & Johnson, Netflix e IBM divulgam os resultados do primeiro trimestre
As bolsas internacionais amanheceram de olho em um novo capítulo da invasão da Ucrânia. De acordo com Volodymyr Zelensky, presidente do país, os russos iniciaram uma ofensiva em Donbass, a leste do país.
Com isso, a volta das negociações nas bolsas da Europa começou o dia no campo negativo. No entanto, a ofensiva em larga escala não foi suficiente para disparar as cotações do petróleo, sensível aos desdobramentos da guerra, por enquanto.
Enquanto isso, na Ásia, os investidores acompanham os estímulos financeiros a empresas e indivíduos afetados pela nova onda de covid-19 na China. Ainda no final do dia, o Banco do Povo da China (PBoC, em inglês) deve divulgar as taxas básicas de referências para empréstimos de 1 a 5 anos, o equivalente à taxa básica de juros por lá.
Os investidores aguardam a divulgação da política monetária com cautela, tendo em vista que os planos de retomada da economia chinesa, com a redução dos juros para estimular as atividades, tenham sido frustrados pela volta do coronavírus.
Por aqui, o Ibovespa segue de olho na greve dos servidores do Banco Central e na participação do Ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em eventos do Fundo Monetário Internacional (FMI) na tarde desta terça-feira (19).
Na sessão da última segunda-feira (18), o principal índice da B3 fechou no menor patamar em 30 dias, com um recuo de 0,43%, aos 115.687,25 pontos. Por sua vez, o dólar à vista caiu 1,02%, sendo negociado em R$ 4,64.
Saiba o que movimenta a bolsa, o dólar e o Ibovespa nesta terça-feira:
Deterioração fiscal, greve e cenário alternativo do BC: os perigos do Ibovespa
O reajuste dos servidores federais ainda não foi definido pelo governo, que busca a aprovação de um aumento linear de 5% para todas as categorias. Contudo, o Orçamento apertado e a insatisfação dos funcionários não deve cessar a greve.
Há três semanas, os servidores do Banco Central cruzaram os braços e permanecem assim desde então. A paralisação das atividades resultou no atraso da divulgação da balança comercial e do Boletim Focus, que traz as perspectivas do mercado para a economia.
E estamos a pouco mais de uma semana da próxima reunião do Copom, que decidirá a taxa básica de juros e o futuro da política monetária brasileira.
Panos quentes na decisão do Copom
Mesmo com o atraso na divulgação do Focus, o BC afirma que os diretores que decidirão sobre a política de juros têm acesso a esses dados.
Em outras palavras, a greve não limitou as informações disponíveis para decidir sobre a política monetária, o que alivia — em partes — o mercado.
O cenário alternativo mais provável
Entretanto, o reajuste dos servidores alimenta o cenário de incerteza fiscal, com um déficit esperado para 2022 na casa dos R$ 25 bilhões. Somado a isso, o “cenário alternativo” do Banco Central, que leva em conta a alta do petróleo no exterior, parece cada vez mais real, o que deve exigir um reajuste da política monetária do BC.
Por fim, a melhora do câmbio não deve ter um impacto tão grande na inflação como se esperava, de acordo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Dessa forma, o patamar de 12,50% não deve ser o teto da Selic este ano: algumas casas de análise já projetam os juros básicos em 13%.
As incertezas pela frente: bolsas contra a guerra
A guerra entre Rússia e Ucrânia continua a pressionar os índices internacionais. A nova ofensiva de Moscou deve buscar a tomada total do leste do país.
De acordo com a chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, a economia global passa por um momento de “incerteza excepcional”. Além da guerra, ela destaca os lockdowns na China e até mesmo a disparada das commodities e inflação em todo o mundo.
Assim sendo, os investidores permanecem em estado de cautela, no aguardo de novas sanções à Rússia e uma tentativa de paz no extremo-leste da Europa.
Os balanços de Nova York
Enquanto o cessar-fogo entre os dois países permanece como um sonho distante, os investidores ainda precisam acompanhar uma série de balanços do dia.
Nesta terça-feira, Johnson & Johnson, Netflix e IBM divulgam os resultados do primeiro trimestre deste ano. O sentimento geral com os balanços é positivo, de acordo com analistas ouvidos pelo Yahoo Finance e Market Watch, ainda que as bolsas estejam no vermelho pela manhã.
Federal Reserve no radar — mais uma vez
Por último, as falas de dirigentes do Federal Reserve, o Banco Central americano, devem ficar em segundo plano hoje.
Os investidores já esperam uma alta de 50 pontos-base na próxima reunião da autoridade monetária. Por outro lado, o tom mais agressivo (hawkish, no jargão do mercado) contra a inflação pode exigir maiores esforços do Fed para conter a alta de preços.
E por “maiores esforços”, leia-se: uma retirada de estímulos da economia ainda mais intensa e a elevação mais forte dos juros no curto prazo.
Agenda do dia
- Estados Unidos: Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, e presidente do Banco Mundial, David Malpass, participam de reunião de primavera do FMI (12h30)
- Economia: Ministro da Economia, Paulo Guedes, participa do Diálogo no Think Tank — Center for Strategic and International Studies (CSIS) hoje (17h30)
- Banco Central: Ministro Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participam de evento fechado em Washington em virtude do encontro do FMI, Banco Mundial e G20 (sem horário específico)
- China: Banco Central da China divulga a taxa básica de juros, as taxas de referência para empréstimos de 1 a 5 anos (sem horário específico)
Balanços do dia
Antes da abertura
- Johnson & Johnson (EUA)
Após o fechamento
- Netflix (EUA)
- IBM (EUA)