Tesouro Direto: negociação de títulos públicos é paralisada devido à disparada dos juros
Suspensão da negociação de alguns títulos ocorre quando a volatilidade nos mercados secundário e de juros futuros se eleva
O Tesouro Direto teve as suas negociações paralisadas na tarde desta quinta-feira (09) devido à disparada dos juros futuros, após a divulgação de uma inflação em agosto mais alta do que o esperado.
Foram suspensas a compra e a venda dos títulos públicos prefixados (Tesouro Prefixado com e sem juros semestrais, também chamados de NTN-F e LTN) e dos títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA+ com e sem juros semestrais, também chamados de NTN-B e NTN-B Principal).
Assim, durante uma parte da tarde, só era possível negociar os títulos Tesouro Selic (LFT), indexados à taxa básica de juros.
Perto das 17h, as negociações de todos os títulos voltaram ao normal, apenas para serem suspensas de novo instantes depois, após o presidente Jair Bolsonaro ter emitido uma nota moderando o seu discurso e apoiando as instituições democráticas, o que deixou os mercados mais otimistas. Afinal, o tom belicoso que o presidente vinha adotando contra os demais Poderes da República também vinha pesando sobre os juros futuros.
Perto do horário do fechamento do mercado, às 18h, a plataforma novamente retomou a negociação de todos os títulos.
Medida de segurança
O Tesouro Nacional paralisa a negociação dos títulos prefixados e atrelados à inflação sempre que o mercado secundário de títulos públicos, onde operam os grandes investidores institucionais, é acometido por forte volatilidade de preços e taxas.
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Em geral, isso acontece quando os juros no mercado futuro disparam, o que acaba resultando numa derrubada dos preços dos títulos que têm parte ou toda a sua remuneração prefixada, isto é, definida no ato do investimento. Conforme as regras de precificação desses títulos, quando os juros sobem, sua remuneração também sobe, mas seus preços de mercado recuam, e vice-versa.
Como o Tesouro Direto só atualiza seus preços e taxas três vezes ao dia, a paralisação desta plataforma, voltada para as pessoas físicas, visa a proteger o pequeno investidor de acabar negociando títulos a preços e taxas muito diferentes daqueles que estão sendo praticados no mercado secundário, quando o sobe e desce está muito intenso.
Durante a crise do coronavírus nos mercados em março de 2020, foram vários os casos de suspensão do Tesouro Direto devido à forte volatilidade dos juros.
A rentabilidade dos títulos públicos é garantida para quem os carrega até o vencimento; mas quem os vende antes do fim do prazo deve negociá-los pelo preço de mercado praticado no dia, o que pode acarretar em ganhos ou perdas, pois o título pode ter se valorizado ou não.
A remuneração dos títulos prefixados e atrelados à inflação tem avançado nos últimos tempos, com o aumento do risco fiscal e da expectativa para a taxa Selic. Em prazos mais longos, os prefixados já voltaram a pagar juros de dois dígitos.
Hoje, o título prefixado mais longo chegou a oferecer remuneração de 11,13% ao ano, enquanto o Tesouro IPCA+ mais longo chegou a pagar quase 5% ao ano acima da inflação.
Após o mercado reagir positivamente à fala de Bolsonaro, o juro do prefixado mais longo, com vencimento em 2031, recuou para 10,92%, e o do Tesouro IPCA+ mais longo, com vencimento em 2055, caiu para 4,84% + IPCA.
Surpresa no IPCA
Nesta quinta, os juros futuros dispararam com a divulgação do IPCA de agosto, que foi de 0,87%, bem acima da mediana das expectativas do mercado, que era de 0,71%. Nos últimos 12 meses, o índice já acumula alta de 9,68%, muito acima da meta de 3,75% para este ano.
Com o aumento da inflação acima do esperado, o mercado agora recalibra suas perspectivas para inflação e taxa Selic, a qual já está em um ciclo de alta, jogando os juros futuros lá para cima. Veja como fecharam os principais vencimentos dos contratos futuros de DIs hoje:
- Janeiro de 2022: de 6,983% para 7,40%
- Janeiro de 2023: de 8,796% para 9,245%
- Janeiro de 2025: de 10,066% para 10,27%
- Janeiro de 2027: de 10,544% para 10,72%
Após a nota conciliadora do presidente Bolsonaro, porém, os juros futuros passaram por um movimento de alívio na sessão de negociação estendida.
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