Mercado coloca no preço chance de Selic voltar aos 10% na véspera da eleição de 2022
Essa não é uma mera previsão, e sim a taxa com a qual os investidores trabalham (e colocam dinheiro). Entenda a diferença entre os juros de mercado e as projeções dos analistas e como fica o cenário para investir em renda fixa

Em meio à alta da inflação, a incerteza fiscal e a crise política, a taxa básica de juros (Selic) pode voltar à casa dos dois dígitos às vésperas da eleição presidencial de 2022. E não se trata de uma mera previsão. Os investidores estão colocando dinheiro nesse cenário.
As taxas negociadas no mercado de juros futuros no início desta semana embutem uma Selic na casa dos 8,5% no fim deste ano — uma alta de 3,25 pontos percentuais em relação aos 5,25% atuais. Lembrando que o Copom só tem mais três reuniões em 2021.
A chamada “curva de juros” dos contratos de depósitos interfinanceiros (DIs) também considera que as taxas devem seguir em alta até chegarem à casa dos 10% em outubro de 2022, quando acontece o primeiro turno da eleição que vai definir um novo mandato ou o sucessor de Jair Bolsonaro.
O mercado trabalha hoje com uma Selic bem acima das projeções compiladas pelo Banco Central na pesquisa Focus. Na última edição, também de segunda-feira, a mediana das estimativas apontava juros de 8% em dezembro deste ano e também ao fim de 2022.
A diferença entre as expectativas é natural. Como os negócios com juros futuros envolvem dinheiro, os investidores acabam exigindo uma taxa maior do que a esperada para acomodar uma eventual piora no cenário.
Esse é o famoso “prêmio de risco”. E quanto mais conturbado o ambiente, maior costuma ser a distância entre as projeções dos analistas e as taxas negociadas no mercado.
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De cabelos em pé
As últimas semanas foram especialmente estressantes para o mercado, que embutiu todo esse risco nos DIs. Desde março, quando o BC voltou a indicar uma normalização da taxa de juros, ainda que naquele momento a ideia fosse apenas um retorno “parcial” para ancorar as expectativas de inflação, o combate à elevação dos preços tem se mostrado uma tarefa ainda mais difícil do que o inicialmente previsto.
A crise hídrica segue elevando a tarifa de energia e pode impactar também o preço dos alimentos, já que o agronegócio é diretamente impactado por questões climáticas, e de bens industriais. A alta do dólar e a disparada das commodities também encarecem o combustível e pressionam ainda mais o BC.
A crise política dos últimos tempos, marcada pelo cabo de guerra entre os Poderes, foi determinante para a elevação expressiva dos DIs como vimos nas últimas semanas. Com a aproximação das eleições e a possibilidade de discussão sobre aumento de juros também nos Estados Unidos, a volatilidade deve continuar, segundo o economista Alexandre Almeida, da CM Capital.
O impacto mais notável da inflação é concentrado nos vencimentos mais curtos (até 2024), já que o mercado acredita que o BC deve agir de forma mais tempestiva para a convergência para a meta de inflação. Já os vencimentos mais longos refletem mais a deterioração do cenário político e fiscal.
Selic em 10% é uma realidade?
É claro que a Selic de 10% refletida na curva de juros para a véspera da eleição é muito influenciada pelo ambiente atual. Uma eventual redução da temperatura política, por exemplo, pode tirar um pouco dessa pressão. Aliás, foi o que aconteceu nos últimos dias, quando o mercado de juros futuros teve um alívio nas taxas.
Nesta terça-feira (13), o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, afirmou que o “plano de voo” da instituição é mais longo e que não existe reação imediata a cada novo dado publicado, rebatendo em partes a reação dos investidores ao número salgado do IPCA na última semana.
“Quando falamos em atingir a meta da inflação por um horizonte relevante, a gente quer dizer que vai levar a Selic aonde for, mas não vai alterar o plano de voo a cada número de alta frequência que saia.”
Para um experiente gestor de fundos consultado pelo Seu Dinheiro, “uma Selic de 10% não é o cenário-base, mas a probabilidade aumentou e a curva reflete isso”.
Rafael Passos, sócio da Ajax Capital, também acredita que os números vistos no começo da semana contam com alguns excessos, mas o estresse no mercado de juros, principalmente nos vencimentos mais curtos, deriva de uma falta de cenários mais definidos.
“Hoje o mercado ainda não consegue enxergar um limite para essa Selic para ancorar as expectativas de inflação para os próximos anos, por isso a volatilidade”.
E a próxima reunião?
Outra forma de avaliar quais serão os próximos passos do Banco Central é por meio dos contratos de opção de Copom negociados na B3. A modalidade criada neste ano pela bolsa permite que os investidores apostem diretamente em qual será a decisão sobre a Selic.
Para a reunião da próxima semana, 45% dos investidores apostam em um aumento de 1,25 ponto percentual nos juros, acima da sinalização de 1 ponto feita na última reunião (com 29% do mercado apostando nessa opção).
As apostas para o encontro dos dias 21 e 22 de setembro cresceram após a surpresa com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto — alta de 0,88% — e têm dividido o mercado.
Existem apostas ainda mais ousadas. O boletim mais recente da B3 informa que 22% dos investidores acreditam em uma elevação de 1,5 ponto percentual e 2% indicam uma alta de 1,75 p.p ou 2 p.p. Saiba mais sobre como funcionam as opções de Copom nesta matéria.
Hora de colocar mais renda fixa na carteira?
Para Gabriel Mallet, head de renda fixa da Vitreo, o aumento da Selic e o que ainda deve estar por vir não só abre a curva de juros como também começa a trazer excelentes oportunidades na renda fixa.
Entre os títulos públicos, que possuem um menor risco de crédito, ele destaca o Tesouro IPCA 2026, que oferecia ontem uma rentabilidade anual de IPCA + 4,52% ao ano.
Para a reserva de emergência, Mallet aponta o Tesouro Selic 2024 como uma boa alternativa. Além da rentabilidade superior à da poupança, os papéis passaram a contar com liquidez diária caso a ordem de resgate seja feita até às 13 horas. Você pode conferir as taxas dos demais títulos disponíveis diretamente no site do Tesouro.
Quem tolera uma dose maior de risco pode diversificar a carteira com títulos privados, como CDBs de bancos médios, que já oferecem juros de 12% ao ano para prazos de três anos, segundo Mallet.
O especialista da Vitreo também destaca títulos corporativos como os certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA), que são isentos de imposto de renda para pessoas físicas.
“Temos emissores com classificação de risco (rating) "AAA" [os mais seguros de acordo com os critérios das agências de classificação de risco] pagando IPCA + 5% ao ano.”
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