Como ficam os seus investimentos em renda fixa com a Selic em 6,25%
Renda fixa “voltou ao jogo”, mas ainda não dá para ficar rico. Veja como fica o retorno das aplicações conservadoras agora que o Banco Central elevou a Selic mais uma vez

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1,00 ponto percentual nesta quarta-feira (22), confirmando as expectativas do mercado. Com isso, a Selic passa de 5,25% para 6,25% ao ano.
Na última reunião do Copom, realizada em junho, o Banco Central já havia acenado com uma nova elevação de 1,00 ponto percentual, mas a continuidade das pressões inflacionárias fez com que o mercado chegasse a apostar numa alta ainda maior.
A inflação oficial medida pelo IPCA no mês de agosto foi de 0,87%, acima do teto das expectativas do mercado, compiladas pelo Projeções Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Estadão. Os agentes financeiros esperavam um índice entre 0,62% e 0,85%. A mediana das expectativas era de 0,70%.
No entanto, uma fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, levou as perspectivas do mercado de volta para a alta de 1,00 ponto: ele disse que o BC vai fazer tudo o que estiver a seu alcance para provocar uma convergência da inflação para dentro das metas estabelecidas pela autoridade monetária, mas não vai alterar sua estratégia ao sabor de cada novo indicador econômico.
Dito e feito. Mesmo assim, as projeções do mercado para inflação e Selic no fim deste e do próximo ano continuam subindo semana após semana, enquanto as previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vão se reduzindo. Depois de uma recuperação econômica forte logo após o fim da fase mais aguda da pandemia, os dados recentes de crescimento já não têm sido tão animadores, e juros mais altos tendem a inibir a atividade econômica.
Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, a inflação prevista para 2021 é de 8,35%, enquanto a Selic deve fechar o ano em 8,25%. No seu comunicado na reunião de hoje, o Copom já deixou mais uma alta de 1,00 ponto percentual contratada para a próxima reunião, a ser realizada em outubro.
Leia Também
O mercado espera que o BC tenha sucesso em conter a alta dos preços, pois projeta um IPCA de 4,10% em 2022, com uma Selic em 8,50%. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 9,68%.
No vídeo a seguir, eu explico o que é a reunião do Copom e como a definição da Selic afeta a sua vida. Assista:
Vencendo o dragão
No patamar de 6,25% ao ano, a Selic já não perde para a inflação oficial projetada para os próximos 12 meses (de 4,93%, segundo o último Focus), como vinha acontecendo há algum tempo.
No entanto, as aplicações financeiras cuja remuneração é atrelada à Selic ou à taxa DI - taxa de juros que costuma acompanhar a taxa básica - podem ainda ter alguma dificuldade de vencer o dragão, em razão de taxas, spread entre preços de compra e venda e/ou imposto de renda, por exemplo.
Ainda assim, com a continuidade esperada para o ciclo de alta dos juros, a tendência é que o retorno dessas aplicações siga crescendo, enquanto a inflação vá sendo controlada. Assim, as aplicações de renda fixa pós-fixada voltam a ganhar os holofotes e a despertar o interesse do investidor pessoa física.
Os investimentos conservadores estão de fato voltando a ter rentabilidades atrativas, aumentando sua probabilidade de ganhar da inflação e preservar o poder de compra do investidor. É o caso do Tesouro Selic (LFT), da caderneta de poupança, dos fundos DI e de títulos bancários, como os CDB, LCI e LCA pós-fixados.
Como ficam os investimentos conservadores com a Selic em 6,25% ao ano
Para você ter uma ideia de como o retorno da renda fixa conservadora está neste momento, eu fiz uma simulação de rentabilidade com quatro aplicações pós-fixadas no novo cenário de juros: caderneta de poupança, Tesouro Selic (LFT), fundo de renda fixa/CDB e Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Considerei Selic constante de 6,25% ao ano e o CDI constante de 6,15%, um pouco abaixo, como costuma acontecer.
Escolhi quatro prazos de forma a contemplar as quatro alíquotas de IR possíveis, no caso das aplicações tributadas (Tesouro Selic e fundos/CDB). Também incluí o prazo do Tesouro Selic 2024, o título pós-fixado mais curto disponível atualmente no Tesouro Direto, que vence em 1º de setembro de 2024, cerca de três anos.
Usei datas reais para poder usar o simulador do Tesouro Direto para calcular o retorno do Tesouro Selic, de modo a incluir a taxa de custódia e o spread nos cálculos no caso de uma venda antes do vencimento.
Para calcular o retorno da poupança utilizei os prazos em meses e anos. Já para simular os retornos do fundo/CDB e da LCI, levei em conta o número de dias úteis entre as duas datas reais consideradas em cada prazo.
Prazo | Poupança | Tesouro Selic | Fundo ou CDB | LCI 100% do CDI |
3 meses | 1,08% | 1,11% | 1,15% | 1,48% |
8 meses | 2,90% | 3,14% | 3,19% | 3,99% |
1 ano | 4,38% | 5,02% | 5,07% | 6,15% |
2 anos | 8,94% | 10,70% | 10,75% | 12,65% |
Até 01/09/2024* | 13,30% | 16,16% | 16,21% | 19,07% |
Parâmetros
A poupança atualmente paga 70% da taxa Selic mais Taxa Referencial (TR), que no momento encontra-se zerada. Não tem taxas nem imposto de renda, e sua rentabilidade é mensal, apenas no dia do aniversário.
Já o Tesouro Selic é um título público que paga, no vencimento, a Selic mais um ágio ou deságio. Se vendido antes do vencimento, o retorno é levemente sacrificado em função de uma diferença entre as taxas de compra e venda do papel (spread), o que pode deixar a rentabilidade inferior à Selic do período.
Em todos os prazos, eu simulei o retorno de um Tesouro Selic 2024. Também simulei o que aconteceria ao investimento se levado até o vencimento do papel, ocasião em que não há o custo do spread.
O rendimento do Tesouro Selic é diário, e há cobrança de IR e de uma taxa de custódia obrigatória de 0,25% ao ano, paga à B3, apenas sobre o que exceder o saldo investido de R$ 10 mil. Em todos os prazos, porém, eu considerei um investimento superior a este valor, ou seja, há alguma cobrança de taxa de custódia.
Levei em conta, ainda, que a corretora utilizada para operar no Tesouro Direto não cobra taxa de agente de custódia, que é aquela taxa de administração que as corretoras podem cobrar para oferecer acesso à plataforma do Tesouro - mas que a maioria já não cobra.
Considerei também os fundos de renda fixa que só investem em Tesouro Selic e não cobram taxa de administração, supondo que seu retorno represente a variação do CDI no período menos o imposto de renda. Assim, esses fundos se equiparam, por exemplo, aos CDBs, RDBs ou contas de pagamentos que remuneram100% do CDI.
Vale aqui uma observação: os fundos Tesouro Selic não costumam pagar exatamente 100% do CDI. Sua remuneração tem ficado um pouco abaixo disso, e eles também estão sujeitos a eventuais quedas nos preços dos títulos, que são raras, mas podem acontecer. A simulação é apenas ilustrativa.
Por fim, simulei o retorno da LCI porque se trata de um título isento de taxas e de IR. Considerei um papel que pague 100% do CDI (às vezes surge uma dessas por aí), apenas para você ver o que seria receber uma rentabilidade líquida de 100% do CDI.
A taxa de custódia pesa no Tesouro Selic
Nas simulações com venda antecipada do Tesouro Selic, é possível que a rentabilidade do título seja um pouco maior do que aparece na tabela. Isso porque, nesses casos, a calculadora do Tesouro Direto não confere a isenção de taxa de custódia para o valor investido inferior a R$ 10 mil.
Já na simulação do título levado ao vencimento, essa isenção para os primeiros R$ 10 mil parece ser incluída pela calculadora. Mesmo assim, você pode ver que o retorno líquido do Tesouro Selic ainda é um pouco inferior ao das aplicações tributadas que pagam 100% do CDI, como os fundos Tesouro Selic sem taxa e os CDBs.
Parece estranho, se você considerar que, atualmente, o Tesouro Selic 2024 está pagando Selic + 0,16% no vencimento - ou seja 6,25% + 0,16%, o que daria um retorno bruto de 6,41% - enquanto, na simulação, eu considerei um CDI de apenas 6,15% para balizar o retorno dos fundos e CDBs. E tanto o Tesouro Selic quanto os fundos e CDBs são tributados à mesma alíquota de 15% no vencimento.
Nas simulações de resgate antecipado, a desvantagem relativa do Tesouro Selic parece se dever justamente à questão do spread entre as taxas de compra e venda do título, um verdadeiro pedágio que o Tesouro cobra para a pessoa física sair do investimento antes do fim do prazo.
Mas quando o título é levado ao vencimento, a rentabilidade não é machucada pelo spread. O que significa que a questão, aqui, parece ser mesmo a taxa de custódia.
Mesmo com retorno bruto maior que 100% do CDI (6,41% vs. 6,15%) e a mesma alíquota de imposto de renda dos fundos e CDBs (15%), o investimento em Tesouro Selic sofre a cobrança daquela taxa de 0,25% ao ano semestralmente, desde o início do investimento.
Se a taxa fosse paga somente no resgate, como ocorre com o IR, possivelmente as rentabilidades do Tesouro Selic e das aplicações tributadas que pagam 100% do CDI praticamente se igualariam; no entanto, essa "antecipação" de um custo que se equipara a uma taxa de administração - o que os fundos Tesouro Selic e CDBs não têm - acaba pesando sobre o retorno final do título.
Tanto que, quando simulamos um investimento inferior a R$ 10 mil na calculadora do Tesouro Direto, que não paga taxa de custódia, o retorno do Tesouro Selic 2024 no vencimento passa a ser de 16,97%, ante os 16,21% das aplicações tributadas que rendem 100% do CDI.
A renda fixa voltou - mas ainda não dá para ficar rico
Com a Selic em 6,25%, já dá para dizer que os investimentos de renda fixa atrelados à taxa básica de juros, mesmo os conservadores, "voltaram para o jogo".
Repare que, no prazo de um ano e considerando uma Selic constante, as rentabilidades líquidas projetadas para o Tesouro Selic (5,02%), os fundos Tesouro Selic ou CDBs que rendem 100% do CDI (5,07%) e as LCIs que rendem 100% do CDI (6,15%) já vencem a inflação projetada para 12 meses, de 4,93%. Isso ainda não ocorria em 4 de agosto, data da última reunião do Copom, quando apenas a LCI era capaz de render mais que a inflação projetada neste prazo.
Essa diferença tende a aumentar à medida que a Selic subir mais, conforme o previsto, e a inflação for, consequentemente, sendo controlada.
Repare ainda que a poupança se mantém desvantajosa frente aos demais investimentos conservadores, e assim deve continuar, ao menos enquanto a Selic estiver abaixo de 8,50%, e o retorno da caderneta for de 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR). A poupança inclusive ainda se mostra incapaz de repor a inflação projetada em 12 meses.
Além disso, nos atuais patamares de juros, o Tesouro Selic ganha da poupança nova em todos os cenários, mesmo quando há cobrança de taxa de custódia, no resgate antecipado e nos prazos mais curtos, quando a alíquota de IR é maior. Porém, como víamos no início do ano, nos patamares mais baixos de Selic, nem sempre isso é verdade.
Seja como for, é preciso lembrar que 6,25% ainda é uma Selic baixa para patamares brasileiros. Agora já é possível dizer que a reserva de emergência voltou a render alguma coisa, mas com a inflação nas alturas, o retorno real (rentabilidade acima da inflação) permanece muito baixo.
Ou seja, já é possível preservar o poder de compra da sua reserva de emergência, e até mesmo ganhar um trocado a mais, desde que não seja na poupança, claro. Isso não estava acontecendo com a Selic nas mínimas históricas, quando a renda fixa havia se transformado em "perda fixa", mesmo quando a inflação ainda estava comportada.
Ainda assim, daí a ficar rico com renda fixa conservadora vai uma distância. Os tempos do rentismo ainda não voltaram - e talvez não voltem mais mesmo.
Ato falho relevante: Ibovespa tenta manter tom positivo em meio a incertezas com tarifas ‘recíprocas’ de Trump
Na véspera, teor da ata do Copom animou os investidores brasileiros, que fizeram a bolsa subir e o dólar cair
Selic em 14,25% ao ano é ‘fichinha’? EQI vê juros em até 15,25% e oportunidade de lucro de até 18% ao ano; entenda
Enquanto a Selic pode chegar até 15,25% ao ano segundo analistas, investidores atentos já estão aproveitando oportunidades de ganhos de até 18% ao ano
Sem sinal de leniência: Copom de Galípolo mantém tom duro na ata, anima a bolsa e enfraquece o dólar
Copom reitera compromisso com a convergência da inflação para a meta e adverte que os juros podem ficar mais altos por mais tempo
Com a Selic a 14,25%, analista alerta sobre um erro na estratégia dos investidores; entenda
A alta dos juros deixam os investidores da renda fixa mais contentes, mas este momento é crucial para fazer ajustes na estratégia de investimentos na renda variável, aponta analista
Cuidado com a cabeça: Ibovespa tenta recuperação enquanto investidores repercutem ata do Copom
Ibovespa caiu 0,77% na segunda-feira, mas acumula alta de quase 7% no que vai de março diante das perspectivas para os juros
Inocentes ou culpados? Governo gasta e Banco Central corre atrás enquanto o mercado olha para o (fim da alta dos juros e trade eleitoral no) horizonte
Iminência do fim do ciclo de alta dos juros e fluxo global favorecem, posicionamento técnico ajuda, mas ruídos fiscais e políticos impõem teto a qualquer eventual rali
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Eles perderam a fofura? Ibovespa luta contra agenda movimentada para continuar renovando as máximas do ano
Ata do Copom, balanços e prévia da inflação disputam espaço com números sobre a economia dos EUA nos próximos dias
Agenda econômica: Ata do Copom, IPCA-15 e PIB nos EUA e Reino Unido dividem espaço com reta final da temporada de balanços no Brasil
Semana pós-Super Quarta mantém investidores em alerta com indicadores-chave, como a Reunião do CMN, o Relatório Trimestral de Inflação do BC e o IGP-M de março
Juros nas alturas têm data para acabar, prevê economista-chefe do BMG. O que esperar do fim do ciclo de alta da Selic?
Para Flávio Serrano, o Banco Central deve absorver informações que gerarão confiança em relação à desaceleração da atividade, que deve resultar em um arrefecimento da inflação nos próximos meses
Co-CEO da Cyrela (CYRE3) sem ânimo para o Brasil no longo prazo, mas aposta na grade de lançamentos. ‘Um dia está fácil, outro está difícil’
O empresário Raphael Horn afirma que as compras de terrenos continuarão acontecendo, sempre com análises caso a caso
Não fique aí esperando: Agenda fraca deixa Ibovespa a reboque do exterior e da temporada de balanços
Ibovespa interrompeu na quinta-feira uma sequência de seis pregões em alta; movimento é visto como correção
Deixou no chinelo: Selic está perto de 15%, mas essa carteira já rendeu mais em três meses
Isso não quer dizer que você deveria vender todos os seus títulos de renda fixa para comprar bolsa neste momento, não se trata de tudo ou nada — é até saudável que você tenha as duas classes na carteira
Ainda sobe antes de cair: Ibovespa tenta emplacar mais uma alta após decisões do Fed e do Copom
Copom elevou os juros por aqui e Fed manteve a taxa básica inalterada nos EUA durante a Super Quarta dos bancos centrais
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Renda fixa mais rentável: com Selic a 14,25%, veja quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI
Conforme já sinalizado, Copom aumentou a taxa básica em mais 1,00 ponto percentual nesta quarta (19), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas
Copom não surpreende, eleva a Selic para 14,25% e sinaliza mais um aumento em maio
Decisão foi unânime e elevou os juros para o maior patamar em nove anos. Em comunicado duro, o comitê não sinalizou a trajetória da taxa para os próximos meses
A recessão nos EUA: Powell responde se mercado exagerou ou se a maior economia do mundo está em apuros
Depois que grandes bancos previram mais chance de recessão nos EUA e os mercados encararam liquidações pesadas, o chefe do Fed fala sobre a situação real da economia norte-americana
Decisão do Federal Reserve traz dia de alívio para as criptomoedas e mercado respira após notícias positivas
Expectativa de suporte do Fed ao mercado, ETF de Solana em Wall Street e recuo da SEC no processo contra Ripple impulsionam recuperação do mercado cripto após semanas de perdas
Nova York vai às máximas, Ibovespa acompanha e dólar cai: previsão do Fed dá força para a bolsa lá fora e aqui
O banco central norte-americano manteve os juros inalterados, como amplamente esperado, mas bancou a projeção para o ciclo de afrouxamento monetário mesmo com as tarifas de Trump à espreita