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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Alta forte

Como ficam os seus investimentos em renda fixa com a Selic em 5,25% ao ano

Veja como fica o retorno das aplicações conservadoras de renda fixa agora que o Banco Central elevou a Selic mais uma vez

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
4 de agosto de 2021
18:53 - atualizado às 18:54
bloquinhos com o símbolo de porecentagem, indicando elevação da taxa Selic e dos Juros; renda fixa | Selic
Imagem: Shuterstock

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1,00 ponto percentual nesta quarta-feira (04), confirmando as expectativas do mercado. Com isso, a Selic passa de 4,25% para 5,25% ao ano.

Na última reunião do Copom, realizada em junho, o Banco Central já havia acenado com uma nova elevação de 0,75 ponto percentual, mas já deixando a porta aberta para uma alta maior, caso necessário. Isso levou o mercado rapidamente a precificar como bastante provável uma elevação de 1,00 ponto.

Parte do mercado ainda via como provável que o BC mantivesse sua previsão inicial de aumento de 0,75, mas a divulgação do IPCA-15 de julho acendeu a luz amarela para as ameaças inflacionárias.

Na ocasião, o índice - considerado a prévia da inflação oficial do mês - foi de 0,72%, dentro do intervalo das estimativas dos analistas compiladas pelo Broadcast, mas acima da mediana de 0,65%.

A inflação prevista para este ano é de 6,79%, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, já acima do teto da meta para 2021, de 5,25%. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 8,35%. Em razão disso, o mercado prevê novas altas para a Selic nas próximas reuniões e projeta uma taxa de 7,00% no fim do ano.

A recuperação econômica mais forte que o esperado e as pressões inflacionárias estão levando o BC ao aperto monetário, na tentativa de conter o descontrole de preços, mas sem prejudicar excessivamente o crescimento. Afinal, o desemprego continua alto no país.

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No vídeo a seguir, eu explico o que é a reunião do Copom e como a definição da Selic afeta a sua vida. Assista:

Vencendo o dragão

No patamar de 5,25% ao ano, a Selic já não perde para a inflação oficial projetada para os próximos 12 meses (de 4,47%, segundo o último Focus), ao contrário do que vinha acontecendo há algum tempo.

No entanto, as aplicações financeiras cuja remuneração é atrelada à Selic ou à taxa DI - taxa de juros que costuma acompanhar a taxa básica - podem ainda ter alguma dificuldade de vencer o dragão, em razão de taxas, spread entre preços de compra e venda e/ou imposto de renda, por exemplo.

Ainda assim, com a continuidade esperada para o ciclo de alta dos juros, a tendência é que o retorno dessas aplicações siga crescendo, enquanto a inflação vá sendo controlada.

Assim, os investimentos conservadores estão voltando a ter rentabilidades atrativas, aumentando sua probabilidade de ganhar da inflação e preservar o poder de compra do investidor. É o caso do Tesouro Selic (LFT), da caderneta de poupança, dos fundos DI e de títulos bancários, como os CDB, LCI e LCA pós-fixados.

Como ficam os investimentos conservadores com a Selic em 5,25% ao ano

Para você ter uma ideia de como o retorno da renda fixa conservadora está neste momento, eu fiz uma simulação de rentabilidade com quatro aplicações pós-fixadas no novo cenário de juros: caderneta de poupança, Tesouro Selic (LFT), fundo de renda fixa e Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Considerei Selic constante de 5,25% ao ano e o CDI constante de 5,15%, um pouco abaixo, como costuma acontecer.

PrazoPoupançaTesouro SelicFundo de renda fixaLCI 100% do CDI
3 meses0,91%0,95%0,98%1,26%
8 meses2,44%2,68%2,71%3,38%
1 ano3,68%4,22%4,25%5,15%
2 anos7,49%8,96%8,96%10,54%

Vale frisar aqui que o retorno do Tesouro Selic é um pouco maior do que o que aparece na tabela, pois desde 1º de agosto de 2020, aplicações de até R$ 10 mil nesse título ficaram isentas da taxa de custódia cobrada pela B3, de 0,25% ao ano. Aplicações superiores a este valor sofrem cobrança dessa taxa apenas sobre o que exceder os R$ 10 mil.

Para montar a tabela, eu considerei aportes de R$ 1.000, mas a calculadora do Tesouro Direto, utilizada para fazer as contas do Tesouro Selic, não foi atualizada com os novos parâmetros para a taxa de custódia.

Nos atuais patamares de taxa de juros, o Tesouro Selic ganha da poupança nova em todos os cenários, mesmo quando há cobrança de taxa de custódia e nos prazos mais curtos, quando a alíquota de IR é maior. Como víamos no início do ano, porém, nos patamares mais baixos de Selic isso nem sempre é verdade.

Parâmetros

A poupança atualmente paga 70% da taxa Selic mais Taxa Referencial (TR), que no momento encontra-se zerada. Não tem taxas nem imposto de renda, e sua rentabilidade é mensal, apenas no dia do aniversário.

Já o Tesouro Selic é um título público que paga, no vencimento, a Selic mais um ágio ou deságio. Se vendido antes do vencimento, o retorno é levemente sacrificado em função de uma diferença entre as taxas de compra e venda do papel (spread), o que pode deixar a rentabilidade inferior à Selic do período.

O rendimento é diário, e há cobrança de IR e de uma taxa de custódia obrigatória de 0,25% ao ano, paga à B3, apenas sobre o que exceder o saldo investido de R$ 10 mil. Na simulação acima, eu considerei, ainda, que a corretora utilizada para operar no Tesouro Direto não cobra taxa de agente de custódia. O título simulado foi o Tesouro Selic com vencimento em 2024.

Para simular o retorno do fundo de renda fixa, considerei um fundo que só invista em Tesouro Selic e não cobre taxas. Supus, portanto, que seu retorno represente a variação do CDI no período menos o imposto de renda. Seria similar, por exemplo, para um CDB, RDB ou conta de pagamentos que pagasse 100% do CDI.

Vale aqui uma observação: os fundos com esse perfil não têm pago 100% do CDI. Sua remuneração tem ficado um pouco abaixo disso. A simulação é apenas ilustrativa.

Por fim, simulei o retorno da LCI porque se trata de um título isento de taxas e de IR. Considerei um papel que pague 100% do CDI (às vezes surge uma dessas por aí), apenas para você ver o que seria receber uma rentabilidade líquida de 100% do CDI.

Escolhi quatro prazos de forma a contemplar as quatro alíquotas de IR possíveis, no caso das aplicações tributadas (Tesouro Selic e fundos). Usei datas reais para poder usar o simulador do Tesouro Direto para calcular o retorno do Tesouro Selic, de modo a incluir a taxa de custódia e o spread nos cálculos no caso de uma venda antes do vencimento.

Para calcular o retorno da poupança utilizei os prazos em meses e anos. Já para simular os retornos do fundo e da LCI, levei em conta o número de dias úteis entre as duas datas reais consideradas em cada prazo.

Retorno da renda fixa permanece baixo

É importante notar, porém, que uma Selic a 5,25% - ou mesmo 6,00% ou 7,00%, como é esperado para o fim do ano - ainda é historicamente baixa para parâmetros brasileiros.

Há não muito tempo, tínhamos taxas de juros de dois dígitos, e assim foi durante a maior parte da era pós-Real.

Como eu mostrei acima, quem permanecer 100% conservador num cenário como esse ainda tem chance de perder da inflação.

A Selic mais alta ainda é baixa o suficiente para não ter tirado totalmente a atratividade dos investimentos com maior risco, seja por terem menor liquidez, seja por terem uma volatilidade mais alta no dia a dia.

Assim, além da parcela conservadora e pós-fixada da carteira - onde deve ficar aplicada a sua reserva de emergência -, o ideal ainda é diversificar em investimentos com mais risco e para prazos mais longos, a fim de obter retornos maiores, superiores à inflação e capazes de multiplicar seu patrimônio.

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