Ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) despencam mais de 5% após balanço positivo, mas declarações de Silva e Luna pioram sentimento do investidor; entenda
Balanço, ameaças de privatização e investigação da CVM: o que aconteceu com a maior estatal brasileira esta semana?
Os reflexos dos balanços divulgados na noite da última quinta-feira (28) estão sendo sentidos nas ações da Petrobras (PETR4 e PETR3) no último pregão da semana.
TICKER | PREÇO | VAR(%) |
PETR4 | R$ 27,31 | -5,73% |
PETR3 | R$ 27,28 | -5,81% |
Presidente da estatal
Na tradicional coletiva de imprensa após a divulgação dos dados do terceiro trimestre, o presidente da Estatal, general Joaquim Silva e Luna afirmou que a Petrobras "continuará atuando com disciplina de capital, investindo em ativos com altas taxas de retorno, com foco na geração de valor para a sociedade. O resultado numérico desse trabalho é traduzido em lucro”.
Entretanto, ele enfatizou: "mas é bom enfatizar que a Petrobras não persegue o lucro pelo lucro, o nosso objetivo é retornar valor para os nossos acionistas e para a sociedade, por meio de impostos, dividendos e geração de empregos e investimentos, que dentro do contexto da transição energética devem ser acelerados".
As falas foram mal recebidas pelo mercado e os papéis da empresa aceleraram a queda na tarde desta sexta-feira.
O presidente da estatal ainda reiterou que não controla a cotação internacional do petróleo, uma das variáveis consideradas no reajuste do preço dos combustíveis. Por fim, Silva e Luna lembrou que a Petrobras obedece a lei e, por isso, não pode segurar os preços dos combustíveis.
Aliás, na repercussão pós-balanço da estatal, os ADRs (ações da Petrobras com lastro na bolsa americana) da petroleira também despencaram após fala de Jair Bolsonaro. Fizemos uma análise de mercado sobre a situação e apresentamos a fala do presidente da República no nosso Instagram.
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Dentro do balanço
Falando de números primeiro, o resultado do terceiro trimestre da Petrobras foi divulgado na última quinta-feira (28), após o fechamento do mercado no Brasil. A receita foi 72% maior do que a do mesmo período do ano passado, registrando R$ 121,6 bilhões em 2021.
Mas outros dados chamaram a atenção. A estatal obteve lucro líquido quase 90% acima das expectativas do mercado, revertendo os R$ 1,5 bilhão de prejuízo em 2020 para R$ 31,1 bilhões neste ano. Entre os destaques que impulsionaram os números da Petrobras estão a alta no preço do barril de petróleo e alguns ganhos tributários excepcionais.
Na mão do investidor
Com os resultados positivos, os investidores miraram nos dividendos que a empresa poderia distribuir. Dito e feito: após o anúncio do lucro de R$ 31,1 bilhões, a estatal comunicou à CVM um adicional nos proventos pagos aos acionistas.
No total, serão pagos R$ 63,4 bilhões em antecipação de proventos relativos ao exercício de 2021, o equivalente a R$ 3,250 bruto por ação preferencial e ordinária.
A Petrobras ainda não definiu se a distribuição será feita por meio de dividendos ou JCP, mas o pagamento das duas parcelas está previsto para o dia 12 de dezembro e ainda dá tempo de garantir uma fatia da remuneração: basta possuir ações ordinárias ou preferenciais da empresa no dia 1 do mesmo mês.
O que o mercado pensa?
Entre privatizar ou não, um relatório do BTG Pactual destaca algumas opções para a estatal. A privatização da Petrobras é bem vista pelo mercado, é claro, mas a venda de fatias que dão pouco retorno para a empresa é uma demanda de longa data dos investidores minoritários.
A venda de partes da cadeia produtiva de óleo e gás seria benéfica tanto para a concorrência quanto para o desempenho da empresa como um todo, afirma o documento. Contudo, o relatório destaca que os riscos políticos da empresa são muito altos e a interferência é um desafio, mesmo após a privatização.
Vale lembrar que a Petrobras mantém o monopólio de mais de 70% da produção de petróleo e gás, além de 80% das refinarias e 50% do mercado de gás natural. “Essa venda serviria apenas para privatizar uma parte dessa cadeia, mas o governo ainda estaria com uma boa parcela do restante”, afirma o BTG, que segue com recomendação neutra para os papéis da empresa.
Bolsonaro X Petrobras
Antes da divulgação do balanço da Petrobras, o presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua tradicional live de quinta-feira, questionou os lucros da estatal. Bolsonaro declarou que a estatal deve ser uma empresa que “dê lucro não muito alto, como tem dado” aos acionistas.
Por aqui, a negociação das ações já havia sido encerrada antes da nova onda de críticas — a petroleira terminou o pregão com alta de quase 1%, com as boas perspectivas que o mercado tinha com o balanço. Já nos Estados Unidos, o pós-mercado foi duro para os papéis da empresa.
Os ADRs da Petrobras, recibo de ações negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), recuaram 4,36%, em US$ 10,10. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais no Brasil, já tem uma apuração contra o presidente que envolve uma outra fala sobre uma possível privatização da empresa.
Explique-se
Na última quarta-feira (27), a CVM abriu um processo administrativo envolvendo a Petrobras. O motivo não foi divulgado, mas o mercado especula que a apuração deve investigar as falas do presidente sobre a privatização da estatal.
O presidente pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, um estudo sobre a possível privatização da petroleira por meio da venda das ações da União. Na segunda-feira (25), Bolsonaro voltou a dizer que a privatização "entrou no radar" após um novo reajuste de preços de combustíveis.
A batalha entre o presidente e o preço dos combustíveis é antiga e tem pressionado a alta da inflação nos últimos meses, de acordo com dados do IBGE.