O rei está nu? Para o BTG, Nubank quase não tem espaço para subir na bolsa; veja a projeção para os papéis do banco digital
A combinação de uma valorização elevada e um momento ruim podem tornar a ação uma aposta muito arriscada
O Nubank tem muito do que uma fintech pode desejar: uma marca amada, milhões de clientes engajados e um fundador aspiracional. Com um valor de mercado de US$ 46 bilhões, já é a instituição financeira mais valiosa do Brasil.
Mas nem tudo são flores no caminho do roxinho. O BTG Pactual iniciou a cobertura do Nubank fixando o preço-alvo para os papéis em US$ 10,00 ao fim de 2022, o que representa um potencial de ganho de apenas 4,5% considerando a cotação desta sexta-feira (17), de US$ 9,57 na Bolsa de Valores de Nova York. A classificação para o papel é neutra.
“No geral, não temos dúvidas de que a história é muito convincente. Tememos, no entanto, que a combinação entre múltiplos extremamente altos e o momento ruim das ações tornem o investimento uma aposta muito arriscada. O Nu ainda parece muito mais com um banco do que com um software”, diz o BTG.
Muita calma nessa hora
O mercado ficou agitado na semana passada com a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Nubank em Nova York, que o transformou no banco mais valioso da América Latina.
A operação, realizada no último dia 9, atraiu figurões como Warren Buffett, que já investiu US$ 760 milhões no roxinho por meio de seu veículo de investimentos, a Berkshire Hathaway, antes e depois do IPO.
Em meio à euforia com a estreia na gringa, o BTG chama atenção para as necessidades de capital que os bancos têm e também para os custos de inadimplência enquanto crescem.
“Dada a deterioração macroeconômica do Brasil, ser prudente em 2022 pode ser a estratégia certa”, diz o BTG.
Ser digital é bom, mas…
Ser digital pode ser uma vantagem competitiva poderosa, já que o Nubank pode aumentar as receitas sem incorrer em custos de agências e funcionários.
Por exemplo, hoje o Nubank possui 5.403 funcionários e 48,1 milhões de clientes (proporção de 8.902 clientes por funcionário), enquanto o Itaú, considerando dados do primeiro semestre deste ano, atende 50 milhões de clientes com 85.611 funcionários no Brasil.
Por ter um produto simples e fácil de usar, com comunicação limpa e transparente, o Nubank pode chegar a muito mais pessoas com menor custo de atendimento. Mas o BTG alerta que, ainda assim, é importante ver se e como essa simplicidade funciona quando adicionados mais produtos ou atuação em outros países.
“Para investidores mais acostumados a analisar a economia da unidade de empresas de tecnologia, é importante ter em mente que olhar apenas para isso, num negócio bancário como o Nubank, pode ser enganoso”, diz o BTG.
“Diferentemente das empresas de software, linhas de custo importantes, como provisões e despesas de financiamento, não devem se beneficiar significativamente de ganhos de escala; e o crédito é um negócio de capital intensivo, o que significa que mais patrimônio líquido é naturalmente necessário para sustentar o alto crescimento”, acrescenta.
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Principais riscos do Nubank
O Nubank oferece grandes oportunidades pela frente, segundo o BTG. No entanto, o banco lembra que todas as grandes histórias têm riscos. E, neste caso, destaca a questão da regulamentação.
“O Nubank não tem licença bancária no Brasil e é regulamentado como instituição de pagamento e financeira. O Banco Central permitiu aos ‘neobancos’ mais margem de manobra regulatória do que os bancos tradicionais, dando mais permissões em outros tipos de licenças. Mas tornar-se um banco completo pode ser um passo adiante”, diz.
Sem ter a mesma carga regulatória que os bancos - a exemplo de capital mais alto, requisitos de conformidade, taxa de imposto mais alta e leis trabalhistas mais rígidas, para citar alguns -, o Nubank ainda pode emitir moeda eletrônica e oferecer serviços de iniciação de pagamento, crédito e produtos de investimento.
“Os bancos históricos têm expressado preocupação com a assimetria regulatória em relação às fintechs. E acreditamos que o Banco Central provavelmente aumentará as exigências de capital para essas grandes instituições de pagamento. Se isso acontecer, o Nubank pode ter requisitos de capital semelhantes aos dos bancos no Brasil”, diz o BTG.