Hapvida (HAPV3) x SulAmérica (SULA11): a briga de gigantes por um pequeno grupo de saúde no interior de SP
A HB Saúde atua na porção norte/nordeste/noroeste de São Paulo, área rica do estado e que é bastante visada pelos grupos de saúde
O ano de 2021 tem sido bastante agitado no lado das fusões e aquisições, particularmente no setor de saúde: quase toda semana há anúncios de compra por parte dos principais players. E, nessa corrida por novos ativos, Hapvida (HAPV3) e SulAmérica (SULA11) entraram em rota de colisão pela HB Saúde, um grupo com sede em São José do Rio Preto (SP).
O Hapvida deu o primeiro passo, avaliando a HB Saúde em R$ 450 milhões fechando um acordo de compra ainda em julho. No entanto, a SulAmérica atravessou o negócio em agosto, oferecendo uma quantia maior — e desencadeando uma disputa direta, com lances cada vez maiores sendo dados por ambos os lados.
A última rodada aconteceu nesta manhã: a SulAmérica colocou R$ 563 milhões na mesa, enquanto o Hapvida foi além e fez uma proposta de R$ 650 milhões, voltando à liderança na corrida — é um aumento de 45% em relação ao valor original. Por enquanto, ainda não há uma nova oferta por parte da rival.
Essa queda de braço chama a atenção, considerando o porte das partes envolvidas. SulAmérica e Hapvida são gigantes do setor de saúde, com receitas líquidas na casa dos bilhões de reais apenas no segundo trimestre; a HB Saúde, por outro lado, é minúscula na comparação: seu faturamento em todo o ano de 2020 foi de "apenas" R$ 310 milhões.
Indo além: o grupo do interior paulista tem cerca de 150 mil beneficiários de planos de saúde e odontológicos, uma fração da carteira de 4,3 milhões de pessoas da SulAmérica e de 7,2 milhões de usuários do Hapvida.
Dito isso, o que explica essa briga? Por que as duas gigantes do setor de saúde estão tão empenhadas em comprar um ativo tão pequeno em relação aos seus portfólios atuais?
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Bem, o que está em jogo é muito mais que uma rede de hospitais ou uma carteira de beneficiários. Hapvida e SulAmérica duelam pelo território atualmente atendido pela HB — e, no tabuleiro do mercado de saúde, quem chega primeiro consegue uma vantagem competitiva importante.
HB Saúde e a briga por territórios
Para entender melhor o racional por trás desses movimentos, é preciso antes consultar um mapa. A HB Saúde atua no norte/nordeste/noroeste do estado de São Paulo, uma área economicamente próspera e que é impulsionada pelo agronegócio. Além de São José do Rio Preto, o grupo atende também os mercados de Barretos, Fernandópolis, Votuporanga, Catanduva e Araçatuba, chegando ainda a Três Lagoas (MS) e Uberaba (MG).
É uma área que possui quase quatro milhões de habitantes e tem cerca de 1,1 milhão de beneficiários de planos de saúde privados, segundo dados divulgados pelo Hapvida. Ou seja: estamos falando de um mercado com tamanho nada desprezível e de poder econômico elevado.
Considerando os potenciais 1,1 milhão de beneficiários, a HB Saúde e sua carteira de 150 mil clientes correspondem a cerca de 13% do mercado da região. Assim, Hapvida e SulAmérica querem uma porta de entrada para o Norte/Nordeste/Noroeste paulista — e, a partir daí, usar sua capacidade financeira para avançar sobre a área.
E dinheiro tem sido o nome do jogo no setor: em meio à pandemia, pequenos grupos hospitalares e de planos de saúde têm encontrado dificuldades para se manter de pé, o que tem sido um prato cheio para quem tem mais poder de fogo
Além de Hapvida (HAPV3) e SulAmérica (SULA11), companhias como NotreDame Intermédica (GNDI3) e Rede D'Or (RDOR3) estão aproveitando para fazer aquisições e aumentar seu alcance geográfico. E, em regiões mais pulverizadas, como o interior paulista, fincar a bandeira antes dos concorrentes é sinônimo de ganho rápido de escala.
E, vale lembrar: Hapvida e NotreDame Intermédica já acertaram a combinação de seus negócios, criando um conglomerado com atuação nacional e participação de mercado próxima de 20%; a operação ainda está sendo analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Mas, voltando à HB Saúde: o grupo tem como principal ativo o hospital HBS Mirassol; seu portfólio ainda conta com oito unidades ambulatoriais, uma clínica infantil, centros clínicos e de diagnóstico e espaços de medicina preventiva e ocupacional, além de um centro oncológico.
É uma rede que não é desprezível, mas que é pequena para o tamanho da população da região. Sendo assim, com SulAmérica ou Hapvida por trás, o grupo terá mais facilidade para ampliar suas instalações e, consequentemente, conquistar mais beneficiários, atender mais pacientes e gerar mais receita.
Hapvida (HAPV3) versus SulAmérica (SULA11)
A questão territorial é o racional mais macro do setor de saúde. Mas é claro que Hapvida e SulAmérica têm seus motivos particulares para terem interesse na HB Saúde.
No caso do Hapvida, há um potencial ganho administrativo e operacional a ser destravado com a incorporação da rede do grupo paulista: a empresa já possui operações em Ribeirão Preto, mais ao nordeste de São Paulo, e em Uberaba, contando com 110 mil beneficiárias na área de atuação da HB Saúde. Assim, caso concluída, os ganhos de sinergia tornariam o Hapvida uma força relevante na região.
Para a SulAmérica, a compra representa o avanço numa região considerada estratégica para o seu plano de expansão — a companhia trabalha com um modelo de 'hubs regionais'; um exemplo é a atuação no sul do país, via Paraná Clínicas.
Seja qual for o desfecho, o mercado financeiro não se mostra muito empolgado com a guerra de preços pela HB Saúde: tanto as ações ON do Hapvida (HAPV3) quanto as units da SulAmérica (SULA11) operam em queda nesta quinta-feira (16), acompanhando o movimento do Ibovespa, que recua mais de 1% hoje.
Vale lembrar, ainda, que as propostas dizem respeito à 100% da HB Saúde, mas que não necessariamente será fechada a venda do grupo inteiro. Tanto Hapvida quanto SulAmérica deixam claro que uma eventual transação precisa envolver mais de 50% do grupo paulista, de modo a garantir o controle da companhia.
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