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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
ENTREVISTA EXCLUSIVA

A IMC (MEAL3) vinha de um banquete indigesto. Seu novo CEO deu um toque de chef ao KFC, Frango Assado e Pizza Hut

Sob o comando de Alexandre Santoro, o IMC (MEAL3) priorizou o KFC, Pizza Hut e Frango Assado — e teve uma virada operacional

Victor Aguiar
Victor Aguiar
13 de dezembro de 2021
5:42 - atualizado às 13:56
Montagem com Alexandre Santoro, presidente da IMC (MEAL3), ao lado dos logos do Frango Assado, Pizza Hut e KFC, três das principais marcas da empresa
Imagem: IMC/Montagem Andrei Moraes

As coisas não estavam nada boas para a IMC (MEAL3) no começo de 2021. À mesa, um combo de problemas operacionais, acompanhados por uma porção extra grande de questões jurídicas e um copo tamanho família de prejuízos acumulados. A operadora de marcas como KFC, Pizza Hut e Frango Assado no Brasil estava perto de uma crise de dor de estômago.

A International Meal Company (daí a sigla IMC), afinal, é particularmente sensível à dinâmica da pandemia: seus restaurantes têm presença forte em shoppings e estradas, e a segunda onda da Covid-19 no país foi um golpe duro nos planos de retomada. É verdade que as operações internacionais conseguiam se segurar relativamente bem, mas um gosto amargo vinha à boca do mercado financeiro sempre que as ações MEAL3 viravam tema do almoço.

Pois, passado menos de um ano do período mais crítico, o banquete indigesto deu lugar a uma dieta bem menos gordurosa. Os prejuízos seguem presentes, mas a receita líquida vem crescendo e o plano de abertura de novas lojas está a pleno vapor. Além disso, as brigas da IMC com o KFC global, que quase foram parar nos tribunais no começo do ano, deram lugar a uma relação bem mais amistosa — as partes quase dividem uma sobremesa juntas.

E o que mudou de lá para cá? Bem, muita coisa, a começar pelo cozinheiro: Alexandre Santoro, ex-presidente global da rede Popeye's — uma das rivais do KFC no segmento de frango frito nos EUA — chegou em março para revigorar a cozinha da companhia. E, a julgar pelos resultados obtidos desde então, tem tido um desempenho digno de chef com estrelas Michelin.

É claro que seria injusto colocar a recuperação da IMC nos últimos meses apenas na conta de Santoro. Com o avanço da vacinação no Brasil e no mundo, o fluxo de clientes aos restaurantes da companhia foi se normalizando aos poucos, o que, por si só, já serviu como um santo remédio para o mal estar que a empresa vinha sentindo.

Mas, em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro, o executivo também falou sobre o seu papel nessa mudança de cardápio — e deixou claro que, para 2022, a ideia é continuar crescendo, tanto no Brasil quanto no exterior, e deixar o 'modo sobrevivência' dos últimos anos para trás.

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Alexandre Santoro, presidente da IMC (MEAL3), em frente a uma parede azul
Alexandre Santoro chegou à IMC (MEAL3) em março de 2021; anteriormente, ele foi presidente global da rede Popeye's, também focada em fast food de frango.

Frango Assado, KFC e Pizza Hut: as estrelas

Para entender a guinada operacional da IMC, é preciso conhecer um pouco mais a fundo seu modelo de negócio. No Brasil, a empresa tem como carros-chefes as marcas Frango Assado, KFC e Pizza Hut; ela, no entanto, também opera outras redes de restaurante, como Viena, Olive Garden, Batata Inglesa e Expresso Mineiro.

Dito isso, a estratégia é clara: estar presente em locais com um alto fluxo de pessoas. A rede Frango Assado, por exemplo, possui 26 unidades, quase todas localizadas à beira de estradas; os outros empreendimentos costumam ser figurinha carimbada em shoppings, centros comerciais e aeroportos — onde, aliás, ela também atua ao prestar os serviços para alimentação nas aeronaves.

Restaurantes de rua, em linhas gerais, são exceção. E esse tipo de posicionamento foi particularmente ruim para a companhia durante a pandemia: com shoppings fechados, estradas vazias e aeroportos praticamente paralisados, as operações da IMC tiveram uma queda forte na demanda — uma situação que se arrastou até meados de abril.

"Fechamos o terceiro trimestre com o indicador de vendas mesmas lojas (SSS) 12% acima do patamar de 2019, foi uma virada de resultado muito importante", disse Santoro — um desempenho que apenas reforça a percepção de que a IMC precisava enxugar seu menu.

O gráfico acima mostra duas tendências bastante claras: em primeiro lugar, há o crescimento forte da receita obtida no exterior, sobretudo com os restaurantes Margaritaville — falaremos mais sobre isso em breve. Em segundo, há o fortalecimento da receita no Brasil, mas não de maneira igual entre as marcas.

"A meta é fechar o ano acima de 540 lojas", disse o executivo, destacando o plano de abertura de 25 restaurantes nos três últimos meses de 2021, com foco nas marcas estratégicas — leia-se Pizza Hut, Frango Assado e KFC. As três bandeiras, mais tradicionais e com uma demanda mais aquecida, são as prioridades da IMC no futuro próximo.

IMC (MEAL3) no Brasil: e os outros?

E qual o futuro das demais redes de restaurante? Em julho, o Seu Dinheiro apurou com exclusividade que a IMC (MEAL3) estava num processo ativo de busca por compradores para as operações das bandeiras Batata Inglesa e Olive Garden no Brasil; na ocasião, fontes afirmaram que a empresa tinha pressa em se desfazer das duas operações.

Santoro diz que não há nenhuma decisão tomada quanto às outras marcas do portfólio da IMC no Brasil, mas admite que foi preciso priorizar algumas marcas em detrimento de outras.

É impossível expandir tudo. Há uma série de marcas, e não temos capital nem gente para expandir todas as marcas do modo que a gente quer, promovendo um crescimento grande, transformacional.

Alexandre Santoro, CEO da IMC (MEAL3)

Sendo assim, enquanto KFC, Pizza Hut e Frango Assado seguem se expandindo e abrindo mais lojas, as demais redes entram numa dieta: a ordem do dia é retomar as vendas e melhorar a margem operacional, de modo a rentabilizar essas marcas não estratégicas — e, quem sabe no futuro, tomar alguma decisão quanto à venda ou não.

"Não é que as outras não tenham potencial, mas essas quatro (KFC, Pizza Hut, Frango Assado e Margaritaville) já são rentáveis e têm potencial grande de crescimento", disse o executivo, ressaltando que nenhuma dessas outras redes administradas pela IMC no país está com margens operacionais negativas no momento.

Sucesso no exterior

As operações externas da IMC (MEAL3) são o segundo pilar da reformulação da companhia. Naturalmente, o efeito cambial tem um papel importante aqui: a receita gerada nos Estados Unidos e no Caribe, ao ser convertida para reais, acaba dando um salto por causa da desvalorização da moeda brasileira ante o dólar.

Mas não se trata apenas de uma questão de conversão de divisas. Fato é que a Margaritaville — uma rede de restaurantes ao estilo casual dining — está se expandindo pelos EUA: já são 28 operações no país, das quais quatro foram abertas neste ano, geralmente em localidades que recebam um grande fluxo de turistas.

"Estamos bem acima de 2019 na comparação em dólares, sem efeito do câmbio", diz Santoro, destacando a abertura recente de uma unidade do restaurante em Nova York e uma segunda loja em Miami. "É uma marca querida nos Estados Unidos, com público cativo e que está com demanda crescente".

Outras operações no exterior têm tido um desempenho melhor no segundo semestre deste ano. As operações no aeroporto internacional do Panamá, por exemplo, se recuperaram à medida que a demanda por voos no terminal foi se normalizando; restaurantes no Caribe e na Colômbia também estão com uma dinâmica mais saudável.

Os restaurantes nos aeroportos e a operação de catering, aliás, mostram uma tendência complementar: como voos mais curtos, muitas vezes, não contam com oferta de comida por causa da pandemia, a IMC tem visto um fluxo maior clientes às lojas, seja antes do embarque ou após o desembarque.

Fachada de restaurante Margaritaville, da IMC (MEAL3), nos Estados Unidos
Atualmente, são 28 unidades do restaurante Margaritaville nos EUA.

IMC (MEAL3): animação cautelosa

Os bons resultados obtidos no terceiro trimestre e a expectativa de continuidade de recuperação da demanda ao longo dos três últimos meses do ano — férias e festas de fim de ano, afinal, aumentam o fluxo nas estradas, aeroportos e shoppings — animam Santoro. No entanto, ele faz questão de ressaltar que há desafios no horizonte.

"A disciplina financeira é um pilar importante", diz o executivo, ponderando que a estratégia de crescimento da empresa, tanto no Brasil quanto no exterior, será pautada pelo controle bastante firme da alocação de recursos. Afinal, há dois grandes pontos de interrogação no curto prazo: a inflação crescente e as novas variantes da Covid-19.

Quanto ao aumento dos preços, Santoro reconhece que há uma pressão maior no lado dos custos e dos insumos, mas destaca que a companhia tem trabalhado para não repassar esse efeito ao consumidor. Mudanças no cardápio dos restaurantes, promoções novas e a chamada "engenharia do menu" têm sido fundamentais para a manutenção do valor dos itens vendidos.

"Não estamos vendo a demanda arrefecer", diz Santoro, ponderando que os repasses limitados aos clientes têm ajudado a manter a competitividade de KFC, Pizza Hut e Frango Assado frente aos rivais.

RestaurantePedido padrão*DescriçãoPreço
KFCDouble CrunchSanduíche com duas tiras de frango frito, queijo cheddar, maionese e molho barbecueR$ 30,90
Popeye'sThe SandwichSanduíche com filé de peito de frango empanado, maionese e piclesR$ 29,90
McDonald'sMcChickenSanduíche com frango empanado com molho e alfaceR$ 38,00
Burger KingCombo Chicken DuploSanduíche com duas tiras de frango, queijo, alface e maioneseR$ 30,90
Pizza HutPizza 8 fatiasEscolha entre 15 sabores diferentesA partir de R$ 59,90
Domino'sPizza 8 fatiasEscolha entre 25 sabores diferentesA partir de R$ 60,90
*No caso dos restaurantes de sanduíche, foi considerado como pedido padrão a opção mais barata que incluía uma opção com frango, porção de batata frita e bebida. Entre as pizzarias, o pedido padrão é uma pizza de oito pedaços, sem especificidades quanto à massa. Fonte: iFood

No que diz respeito à Covid, o executivo diz que a empresa está monitorando a dinâmica da pandemia, tanto no Brasil quanto no exterior, estando atento a eventuais novos ciclos de fechamento de restaurantes. E, embora no momento ele não veja um novo lockdown se desenhando, a IMC tem tomado iniciativas para evitar novas indigestões.

A primeira delas diz respeito às operações em si: no fim de 2020, a empresa inaugurou uma cozinha central no interior de São Paulo, de modo a padronizar a qualidade dos produtos e cortar os custos — novas unidades poderiam ser abastecidas por essa unidade, dispensando os investimentos na construção de cozinhas individuais.

A segunda está nos esforços de digitalização: com a pandemia, a IMC se viu forçada a acelerar os investimentos em multicanalidade, e as iniciativas para diversificar os modos de venda ainda estão em andamento. "Em janeiro, vamos habilitar a venda via WhatsApp e, no ano que vem, vamos instalar totens de autoatendimento no KFC. Já temos hoje um app próprio da Pizza Hut, mas não do KFC, vamos lançar", diz Santoro.

A terceira está nos caminhos a serem seguidos no front da expansão. Segundo ele, ainda há espaço para a abertura de novas lojas do KFC e da Pizza Hut nos shoppings, dando continuidade à estratégia tradicional da empresa; apesar disso, ele não descarta a abertura de mais unidades de rua, de modo a contemplar o drive thru e o público que busca uma experiência diferente da obtida numa praça de alimentação.

E, ainda nessa última vertente, Santoro deixa no ar a possibilidade de abertura de uma dark kitchen — uma cozinha 100% focada no delivery e que produza os itens de diversos restaurantes — no ano que vem. "Tem oportunidade, principalmente nas regiões em que não se justifica um investimento alto para uma única marca", diz. "Temos olhado com atenção".

MEAL3: Finanças melhores, ações nem tanto

No lado financeiro, embora a IMC tenha ficado no vermelho no terceiro trimestre, é bastante nítido como a situação é bem mais tranquila que a vista há um ano: as receitas têm crescido de maneira consistente, e o Ebitda retornou a patamares mais saudáveis — a margem Ebitda ficou acima dos 10% nos últimos dois trimestres.

Mesmo no front do endividamento, a companhia agora vive um período bem menos turbulento: após uma oferta de ações em meados de 2020 para fortalecimento do caixa, a dívida tem se mantido abaixo dos R$ 200 milhões; a alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda nos últimos 12 meses, ficou em 1,9 vez — muito abaixo do limite contratual, de 7,5 vezes.

Essa evolução, no entanto, não encontra paralelo nas ações MEAL3. Por mais que, em meados do ano, os papéis tenham chegado à casa de R$ 4,50 — um patamar superior ao do fim de 2020 —, os ativos da IMC não resistiram à turbulência vista na bolsa brasileira e entraram num forte movimento de correção de lucro.

Tanto é que, na última sexta-feira (10), as ações MEAL3 encerraram a R$ 2,82, amargando perdas de 33% no ano e muito próximas às mínimas históricas. No mercado, a posição dos analistas segue cautelosa: segundo dados do TradeMap, há duas recomendações neutras para o papel, com preço-alvo médio de R$ 4,25 — um potencial de alta de 50% em relação aos níveis atuais.

No lado do valuation, as ações MEAL3 operam atualmente com um EV/Ebitda de 7,1 vez, com tendência de queda nesse indicador nos próximos meses — a média dos últimos três anos gira em torno de 11,6 vezes, novamente de acordo com o TradeMap.

"Estamos otimistas para 2022. A cautela é sempre importante, nunca deixaremos de ter. Mas o negócio e as marcas, o momento da companhia... Temos oportunidade de crescimento em todos os negócios", finalizou Santoro.

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