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Ivan Ryngelblum
Ivan Ryngelblum
Jornalista formado pela PUC-SP, com pós-graduação em Economia Brasileira e Globalização pela Fipe. Trabalhou como repórter no Valor Econômico, IstoÉ Dinheiro e Agência CMA.
entrevista exclusiva

“Diferentona”, Ambipar prevê crescimento de dois dígitos do Ebitda em 2021

Única da área de gestão ambiental na B3, empresa planeja expandir atuação nos Estados Unidos por meio de novas aquisições

Ivan Ryngelblum
Ivan Ryngelblum
3 de fevereiro de 2021
5:32 - atualizado às 9:27
Cristina Andriotti, CEO da Ambipar
Cristina Andriotti, CEO da Ambipar - Imagem: Divulgação

Responda rápido (e honestamente): você sabe quem é a Ambipar (AMBP3) e o que ela faz?

Se a sua resposta foi não, calma, você não está sozinho. Tem muito investidor dito qualificado por aí que também não conseguiria responder a esta pergunta.

Explicar quem é a Ambipar e o que ela faz foi um dos desafios que os executivos se depararam durante o encontro que empresas e bancos fazem com investidores antes de uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o chamado roadshow.

Também, pudera. Não há nenhuma companhia na Bolsa que atua na mesma área que a Ambipar – de gestão ambiental, com uma divisão de valorização de resíduos e outra de atendimentos de acidentes envolvendo produtos químicos.

“Para 99% [dos investidores] foi novo”, disse a CEO da Ambipar, Cristina Andriotti, em entrevista exclusiva. “O nosso roadshow foi basicamente explicar o que era o nosso negócio nas duas verticais, porque nenhum [investidor] conhecia.”

Além de ser a única empresa de gestão ambiental na B3, ela é uma das poucas a ser comandada por uma mulher – para se ter uma ideia, todas as companhias que compõem o Ibovespa são encabeçadas por homens.

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Mas ser diferente dos outros é considerado pelos executivos um dos principais pontos da tese de investimento da Ambipar. Desde que foi fundada em 1995, a empresa aposta no desenvolvimento de tecnologias próprias para uma área que apenas recentemente ganhou importância, diante da conscientização da sociedade e do mundo financeiro sobre a necessidade de preservação do meio ambiente.

Enquanto outros nomes ainda se posicionam no mercado, a Ambipar já é considerada referência em gestão ambiental, com presença em 15 países, 3 mil funcionários e uma receita na casa de R$ 500 milhões.

E a empresa não demonstra sinais de que vai se acomodar. A administração já tem planos de continuar a expandir as atividades, principalmente no exterior, e prevê fechar o ano com um crescimento de dois dígitos do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

Tirando dinheiro do lixo

Sediada em Nova Odessa, interior de São Paulo, a Ambipar foi fundada por Tercio Borlenghi Junior, atualmente presidente do conselho de administração e acionista controlador, com 56,2% do capital social (a quantidade de ações em circulação no mercado é de 33,3%).

Cristina – que entrou na empresa há 12 anos como diretora de serviços – contou que Borlenghi quis fundar uma empresa de gerenciamento de resíduos quando esta questão não era discutida no País. E mais, teve a ambição de transformar os resíduos em novos produtos.

“Lixo era lixo, e normalmente, seja industrial ou comercial, ia para aterro”, disse. “Era complicado naquele momento prospectar os clientes, porque isso era um tema muito novo no Brasil, valorizar resíduos.”

Um dos primeiros contratos da Ambipar foi com a indústria de papel e celulose, grande geradora de resíduos. Com uma política de aterro zero, a empresa apostou na técnica da compostagem, processo de decomposição de materiais, o que resultou na geração de adubo orgânico, que acabou sendo utilizado nas florestas deste cliente – os executivos da Ambipar não revelam com quem têm contratos, mas afirmam que trabalham com grandes nomes da Bolsa.

“Nós somos uma das pioneiras a montar compostagem a partir de lodo industrial. O primeiro pátio de compostagem aqui, no Estado de São Paulo, é da Ambipar. Esse pátio existe até hoje”, diz a CEO.

O sucesso fez a Ambipar investir para além da gestão de resíduos vindos da área de papel e celulose. Apostando no desenvolvimento de tecnologia própria, a empresa expandiu para outros segmentos, como a indústria de cosméticos e mineração. E com a questão da preservação do meio ambiente em voga pelo mundo, abordar os clientes ficou muito fácil.

  • No Seleção Empiricus, Max Bohm cita a Ambipar como uma ação fora do radar e que está barata (veja vídeo abaixo, no trecho 1h07min)
https://www.youtube.com/watch?v=PzXiNW3AxwU&feature=emb_title

Respondendo a acidentes

Ser dominante numa área poderia ser suficiente para qualquer empresa, mas a Ambipar resolveu desbravar outro mercado. Em 2008, ela criou a parte de response.

Esta divisão atua em gerenciamento de crises e atendimento a emergências ambientais, químicas e biológicas. Ela possui uma série de especialistas capacitados para lidar com acidentes envolvendo produtos químicos e poluentes, atuando em diversos modais de transporte, com 150 bases de atendimento espalhadas pelo Brasil e o mundo.

Pode até parecer que a Ambipar fugiu do escopo original de negócios quando inaugurou a frente de response, mas Cristina explicou que há muita sinergia com a parte de gestão de resíduos.

“A maioria das emergências [atendidas] é um tombamento numa área verde, de preservação, de nascente de rio. Se não for feito da forma correta, com equipes especializadas, você tem um grande estrago ambiental”, disse.

A divisão chegou, inclusive, a atuar durante a pandemia, dado que também é especializada em desinfecção de ambientes. Em fevereiro, quando o governo do Reino Unido retirou seus cidadãos da cidade de Wuhan, epicentro da covid-19 na China, a Ambipar foi chamada pelas autoridades para realizar a descontaminação das aeronaves usadas no translado.

Este e outros episódios ajudaram a Ambipar a acessar mercados em que ela não atuava, como varejo e alimentos. Como parte da veia inovadora, ela desenvolveu um desinfetante composto por nano partículas e reagentes capazes de inativar a covid-19 e outros vírus presentes no ambiente e em superfícies.

Apesar de mais nova, a divisão de response respondeu por quase 52% da receita líquida da Ambipar no terceiro trimestre. Com R$ 91,3 milhões, a receita do segmento registrou alta de 56% em relação ao mesmo período de 2019, puxada pelas operações fora do Brasil, onde a administração entende que está o caminho do crescimento.

Abrir capital para ganhar o mundo

Mesmo com presença no exterior e com atividades consolidadas no País, a Ambipar ambicionava por mais, especialmente fora do País. Para não ficar estagnada, a empresa precisava de capital. E foi aí que entrou o IPO.

A Ambipar estreou no mercado acionário em meados de julho. Mesmo com a pandemia pesando sobre o desempenho da Bolsa, a empresa conseguiu precificar as ações no topo da faixa indicativa, em R$ 24,75, levantando R$ 1,08 bilhão. E no final do primeiro dia de negócios, as ações fecharam com alta de mais de 18%.

Os planos de abertura de capital já estavam sendo preparados há muito tempo. Em 2012, ela realizou uma reorganização societária, virando uma holding. Além disso, investiu durante este período para ganhar “musculatura”, adquirindo empresas na América do Sul, Europa e Estados Unidos. Tudo isso para estar pronta para abrir o capital.

“O que nos motivou a ir para o IPO foi a vontade de expandir e sermos maiores, mas para isso precisávamos de mais investimento, de investir mais no negócio. O Tércio é uma pessoa que sempre falou ‘olha, sei exatamente para onde quero ir’”, afirmou a CEO.

A maior parte dos recursos levantados foi destinada justamente para novas fusões e aquisições. Com o foco voltado na expansão de sua presença no mercado de atendimento emergencial nos Estados Unidos, a Ambpar fez algumas aquisições desde o IPO, caso da Intracoastal Environmental, One Stop Environmental Services e Allied International Emergency. Com estas empresas, ela passou a ter bases de atendimento nos estados do Texas, Alabama, Georgia e Flórida

Segundo o CFO e diretor de relações institucionais, Thiago Silva, a ideia é replicar nos Estados Unidos a estrutura criada aqui no Brasil, com padronização de procedimentos e centralização dos atendimentos de chamadas. Ele explica que, nos Estados Unidos, os serviços de atendimento emergencial são bastante pulverizados, sem um grande nome nacional.

“A gente acredita que replicando a estrutura lá, fazendo aquisições de empresas regionais ou especializadas em um tipo de produto químico ou modal de transporte, levando toda essa standarização e criando essa central de emergência, além de criar bastante sinergia, temos um potencial enorme de crescimento”, disse. “Mas longe de querer consolidar o mercado americano, até porque o maior player não tem nem 4% [de participação], é um mercado muito grande.”

O foco lá fora não significa que os recursos do IPO não foram utilizados no Brasil também. A ideia é fortalecer ainda mais a parte de gestão de resíduos em áreas em que a Ambipar é pouco presente, especialmente no Norte e Nordeste.

Recentemente, ela anunciou a aquisição de 60% de participação na AFC Soluções Ambientais, que atua com gerenciamento de resíduos industriais em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Também no segmento de meio ambiente, a Ambipar adquiriu, no ano passado, a Verde Ghaia e a Âmbito Negócios Sustentáveis, duas empresas especializadas em sistemas de monitoramento legal capazes de monitorar alterações em requisitos da legislação ambiental e realizar a gestão de prazos de licenças.

E para não dizer que o IPO fez com que a Ambipar deixasse de investir em tecnologia própria, Cristina promete revelar em breve um novo produto que permitirá aos clientes rastrear os resíduos. A perspectiva é de que ele seja lançado ainda neste semestre.

“Eu quero que cada um dos meus clientes tenha absoluta certeza, 24 horas por dia eles vão poder acessar, é o que estamos fazendo com os resíduos. De que forma eles estão sendo valorizados e para onde eles estão sendo destinados”, disse.

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