Commodities dão força extra e bolsa fecha o dia em alta firme enquanto NY fica no vermelho
Com o exterior negativo, restou ao setor de commodities e energia salvar o Ibovespa da cautela. O dólar à vista aproveitou e teve um dia de leve queda
É um pássaro? É um avião? Não, é o minério de ferro na casa dos US$ 230 puxando todo o setor de mineração e siderurgia, evitando assim (mais uma vez) que o Ibovespa ceda e feche o dia no vermelho.
Nesta missão de levar a bolsa brasileira na direção contrária dos índices em Wall Street a colaboração das ações da Eletrobras foi essencial. Com mais um sinal positivo de que a privatização está no caminho certo, o mercado foi às compras, colocando tanto as ações ON quanto as PNB no carrinho.
O dia prometia ser de holofotes para a ata da última reunião do Copom e os dados de inflação, mas não teve jeito. As commodities roubaram a cena. E não foram só as metálicas não. A Petrobras também avançou quase 2% - o petróleo teve um dia bem volátil, mas acabou fechando em alta.
Missão dada é missão cumprida e o Ibovespa fechou o dia nas máximas, com alta de 0,87%, aos 122.964 pontos. O placar parece folgado, mas para chegar até aqui foi um caminho com muitos obstáculos. Lá fora, o temor de uma pressão inflacionária nos Estados Unidos segue firme e forte, deixando Wall Street no vermelho e levando o retorno dos Treasuries a ter mais uma disparada. Sem falar no tradicional risco-Brasília, que nunca sai de moda.
O dólar à vista foi sustentado pelo apetite por risco doméstico e o fluxo estrangeiro para o setor de commodities e acabou cedendo 0,18%, a R$ 5,2227. Mas, assim como na bolsa, o dia foi de alta volatilidade - a moeda americana foi de uma alta de quase 1% na máxima para um fechamento em queda.
Na reta final do pregão a queda das bolsas americanas deu uma amenizada. O comentário de um dos dirigentes do Federal Reserve agradou o mercado e fortaleceu o movimento de recuperação que já vinha desde o meio da tarde. James Bullard afirmou que a inflação em 2021 não deve superar os 3% e, no longo prazo, deve ficar dentro da meta.
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Mas não deu tempo de reverter o quadro. Depois de uma queda expressiva na sessão de ontem, o Nasdaq recuou apenas 0,09%. Já o Dow Jones teve queda de 1,36% e o S&P 500 caiu 0,87%. O comentário, no entanto, não teve impacto nos juros americanos, que acabaram fechando em alta.
No Brasil, os contratos de DI mais curtos tiveram um dia de queda expressiva, em ajuste após a divulgação da ata do Copom. Confira as taxas de fechamento:
- Janeiro/2022: de 4,84% para 4,78%
- Janeiro/2023: de 6,65% para 6,50%
- Janeiro/2025: de 8,16% para 8,07%
- Janeiro/2027: de 8,69% para 8,66%
Tônico de força
O minério de ferro continua protagonizando voos cada vez mais altos. Com a demanda em alta, a produção reduzida e os atritos entre China e Austrália - que podem prejudicar o abastecimento da segunda maior economia do mundo -, a commodity alcançou a casa dos US$ 230. Desde o início da pandemia o rali segue e parece longe de parar.
Quem não tem do que reclamar são a Vale e as siderúrgicas. Em conjunto, elas possuem uma representação muito expressiva no Ibovespa, o que explica o saldo positivo da bolsa brasileira mesmo em meio às constantes tensões em Brasília e problemas fiscais.
Hoje, no entanto, Brasília também ajudou a impulsionar o principal índice da bolsa para cima. O governo voltou a sinalizar avanços no processo de privatização da Eletrobras.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sinalizou mais uma vez para a capitalização da companhia e afirmou que a estimativa é de que a privatização seja concluída até janeiro de 2022. A Câmara dos Deputados vota a medida provisória que abre caminho para a operação na próxima semana. Confira os principais destaques do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
ELET3 | Eletrobras ON | R$ 39,57 | 6,54% |
ENEV3 | Eneva ON | R$ 16,20 | 4,85% |
ELET6 | Eletrobras PNB | R$ 39,82 | 4,54% |
VALE3 | Vale ON | R$ 118,72 | 3,51% |
GGBR4 | Gerdau PN | R$ 37,65 | 3,49% |
Quem não conseguiu surfar essa onda foi o setor tech - que acompanhou o Nasdaq - e o varejo - um dos maiores dependentes da rápida vacinação da população. Confira também as maiores quedas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
TOTS3 | Totvs ON | R$ 31,80 | -3,69% |
LCAM3 | Locamérica ON | R$ 25,71 | -2,13% |
UGPA3 | Ultrapar ON | R$ 19,44 | -2,11% |
RADL3 | Raia Drogasil ON | R$ 26,83 | -2,04% |
HGTX3 | Cia Hering ON | R$ 28,17 | -1,85% |
Otimista, mas depende
A ata do Copom sinalizou que a instituição está preocupada com o avanço da pandemia e reafirma que a vacinação (que ainda patina no país) terá efeito significativo na retomada econômica.
Enquanto isso, o IPCA, índice oficial de inflação, desacelerou na passagem de março para abril. “Aparentemente soa como um alívio, mas no acumulado é preocupante”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, lembrando que nos últimos 12 meses o índice acumula alta acima do centro da meta.
Para a economista, o cenário ainda preocupa principalmente porque o ambiente global - com excesso de estímulos fiscais e monetários - é mais inflacionário e a pressão das commodities deve ser sentida. Dois pontos mais uma vez reforçados pela ata do Copom, assim como foi no comunicado.
O Banco Central se mantém otimista com a retomada da economia no segundo semestre. Para a autoridade monetária, a economia deve se recuperar na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos "de forma mais abrangente".
Abdelmalack, no entanto, é menos otimista. Embora a economista enxergue uma janela de oportunidade na taxa de câmbio com a superação do orçamento, ela também acredita que os últimos seis meses do ano devem ser marcados pela retomada da preocupação com o político-fiscal.
Na última reunião, o Copom elevou a taxa básica de juros, de 2,75% para 3,50% e sinalizou mais uma vez com uma “normalização parcial” da Selic. O mercado agora segue atento para sinais de que o ciclo de alta esteja chegando ao fim - o que, segundo as projeções, deve ocorrer na faixa dos 5,5% ao ano.
- O Seu Dinheiro preparou um comparativo entre as duas últimas atas do Copom. Confira aqui.
*Colaborou: Rodrigo Barreto, analista da Necton
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