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Jasmine Olga
Jasmine Olga
É repórter do Seu Dinheiro. Formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), já passou pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e o setor de comunicação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
DIA DE DECISÃO

Copom eleva Selic para 3,5% ao ano e indica aumento semelhante na próxima reunião

Essa é a segunda alta consecutiva da Selic em 0,75 ponto percentual — no começo do ano, a taxa de juros estava nas mínimas históricas, em 2% ao ano

Jasmine Olga
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5 de maio de 2021
18:38 - atualizado às 19:43
Homem puxa juros para cima
Imagem: Shutterstock

O Banco Central (BC) acaba de confirmar o movimento que já havia sido sinalizado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A autoridade monetária aumentou em 0,75 ponto percentual a Selic, elevando a taxa básica de juros a 3,5% ao ano, nesta quarta-feira (05).

A decisão da 238ª reunião foi unânime. O aumento já estava previsto desde a última reunião, quando o BC iniciou o novo ciclo de ajuste na taxa básica de juros em uma tentativa de reduzir a probabilidade de não cumprimento da meta para a inflação, e era esperado pelo mercado.

Essa é a segunda alta consecutiva da Selic em 0,75 ponto percentual - a primeira foi no encontro de março. E não deve ser a última caso os cenários para a atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação se mantenham os mesmos. Na próxima terça-feira (11) a ata da reunião deve trazer maiores informações sobre esses cenários.

O Comitê já deixou sinalizado que deve continuar o processo de normalização "parcial" do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. No começo do ano, a taxa de juros estava nas mínimas históricas, em 2%.

Perseguindo o dragão

No comunicado, o BC reforçou que acredita que a pressão inflacionária seja temporária, e que os indicadores recentes da atividade da economia mostram uma evolução "mais positiva do que o esperado, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia estar maior do que o antecipado". Mas o contrário também não é descartado: caso a superação da pandemia se mostre mais lenta, a trajetória pode ficar abaixo do projetado.

O documento também mostra preocupação com o impacto da manutenção dos estímulos fiscais e monetários nos países desenvolvidos, já que a sombra de uma pressão inflacionária nos países mais ricos - mesmo que transitória, como tem sido reforçado pelo Federal Reserve e autoridades do Banco Central Europeu - podem deixar o ambiente mais desafiador para os países emergentes. 

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Além disso, a elevação dos preços das commodites também é mencionada como um fator de impacto para a projeções de preços de alimentos. O BC projeta a inflação de preços administrados em 8,4% para 2021 e 5,0% para 2022.

  • O que mudou de março para cá? O Seu Dinheiro produziu um comparativo entre os comunicados divulgados pelo Banco Central na reunião de março e na decisão de hoje. Confira aqui.
  • Ouça abaixo o comentário do Matheus Spiess, analista da Empiricus e colunista do Seu Dinheiro, sobre a decisão:

E agora, BC?

Com a alta de 0,75 ponto percentual já contratada, o mercado estava de olho mesmo no preview  das cenas dos próximos capítulos. O tom mais incisivo era outro ponto já esperado, assim como o grande foco no controle da inflação - mas não de forma tão enfática quanto a apresentada. 

Na leitura dos analistas, o BC iria deixar a porta aberta para ter uma maior liberdade de decisão no próximo encontro. A redação do comunicado de fato reforça que tudo depende da manutenção dos cenários-base traçados pela instituição - e inclusive menciona que a atividade tem se recuperado de forma mais positiva -, mas o aumento de 0,75 ponto percentual, para uma taxa de 4,25% ao ano já fica contratado. 

Para Licinio Neto, sócio-gestor da Ajax Capital, o movimento do Copom não deve ser recebido com maus olhos pelo mercado, já que o nível de 2% ao ano era visto como ‘insustentável’ e essa normalização parcial significa que o BC está ‘caindo na real’. 

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, reforça essa visão. Assim como o gestor da Ajax Capital,  a economista vê uma taxa de juros mais neutra - tendo como base um índice de inflação nos últimos doze meses girando em torno de 6% e o persistente problema fiscal do país - na faixa dos 5,50% e 6% ao fim de 2021, já que uma taxa de juros real negativa, como tem sido a realidade, não faz sentido em um país com tantos problemas nas contas públicas. 

Os problemas fiscais, prolongados pelos enroscos em Brasília, a falta de avanço das reformas estruturantes e a incerteza com relação à pandemia do coronavírus já haviam chamado a atenção no comunicado anterior e foram mais uma vez destacados pelos membros do Copom. O Comitê voltou a ressaltar o perigo que esse risco fiscal traz para o país, pressionando prêmios de risco e levando a trajetória para a inflação acima do projetado. 

“Não temos nada muito claro [com relação ao fiscal] e todo esse cenário exige esforços maiores da política monetária. Eles [BC] sabem que a meta inflacionária para 2021 está comprometida e já estão de olho no futuro” - Camila Abdelmalack

E agora, mercado?

Com o Banco Central mais enfático do que o esperado, o que é monitorado agora é o próximo passo do mercado. 

Tanto Neto quanto Abdelmalack acreditam que a reação não deve ser negativa. O relatório Focus, com projeções coletadas de economistas pelo Banco Central, já trabalha com uma Selic de 5,50% ao ano ao fim de 2021. 

Amanhã é dia de ajuste? Provavelmente, mas não necessariamente de uma forma muito intensa, já que existem outros fatores que determinam o movimento da curva de juros. 

Para a economista da Veedha Investimentos, o cenário político conturbado de abril - com Orçamento e as corriqueiras crises políticas em Brasília - deixou muito prêmio na curva e, nas últimas semanas, o mercado já vinha precificando um discurso mais enfático por parte do BC.

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