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IPOs na bolsa e carros usados: por que o vendedor sempre sabe mais do que você

Você está claramente em desvantagem quando o assunto é informação, por isso todo cuidado é pouco no momento de embarcar num IPO

9 de abril de 2021
5:58 - atualizado às 15:05
Carro e dinheiro | IPVA
Imagem: Shutterstock

Quando eu ainda era criança, minha mãe precisou comprar um carro para facilitar a tarefa de levar meu tio ao médico duas ou três vezes por semana. 

Os recursos eram limitados mas também não precisávamos de luxo. Qualquer carro que fosse bom, barato e confiável servia.

Eu não me lembro exatamente qual ano era, mas me recordo muito bem do modelo que encontramos numa daquelas lojas com milhares de carros um do lado do outro: um Voyage branco que, apesar de ser um pouco velho, estava brilhando mais que carro zero. 

Depois de duas voltas no quarteirão da loja de veículos, o carrinho passou no teste e virou o mais novo integrante da família. 

Mal sabíamos que aquele seria o início de uma enorme dor de cabeça. 

Quem vê cara...

Antes de arrematar, lembro dos meus pais verificando motor, lataria, pneus… essas coisas que todo mundo metido a mecânico e funileiro costuma fazer mesmo sem entender muito bem. 

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No entanto, a conta chegou alguns meses depois. 

Em uma daquelas viagens ao médico caiu um enorme temporal e mesmo com as janelas fechadas, o lado de dentro do carro ficou encharcado. 

Descobrimos então que os tapetes novinhos tinham sido estrategicamente trocados para esconder um assoalho todo podre. 

E que a pintura bonita não era zelo do dono anterior, mas sim um artifício para disfarçar diversos outros problemas estruturais na lataria. 

Assimetria da informação

Toda vez que vamos comprar algo estamos sujeitos ao problema da assimetria da informação. O vendedor do carro, ou o dono da casa sabem muito mais sobre esses ativos que você está prestes a comprar do que você. 

Você não sabe se eles foram bem cuidados, se a tinta nova serve apenas para disfarçar problemas estruturais que vão trazer muito mais problemas do que alegrias, entre outros segredos que você só vai descobrir depois de ter fechado o negócio.

O mesmíssimo problema acontece quando investimos em IPOs.

Companhias que já estão listadas em bolsa há cinco, dez ou mais anos possuem um longo histórico de resultados que estão disponíveis ao público em geral. 

Se você quiser saber quais foram as margens da Vale em 2008, basta acessar o site de Relações com Investidores da companhia, buscar os arquivos e você vai saber exatamente como ela se virou naquele ano de crise ou em qualquer outro período que você desejar.

Por outro lado, no caso de uma empresa que está entrando na bolsa agora você está claramente em desvantagem quando o assunto é informação.

É verdade que a CVM cobra a divulgação dos números dos últimos três exercícios, mas isso está longe de resolver os problemas. 

Primeiro porque três anos não são suficientes para você entender a história e a capacidade da gestão. 

Às vezes, a companhia conseguiu se beneficiar de fatores externos nos últimos três anos e isso acaba mascarando uma série de erros estratégicos mais antigos que vão voltar a acontecer quando os fatores externos deixarem de ajudar.

Ou, então, pode ser que a companhia esteja sacrificando investimentos necessários com a intenção de deixar o balanço mais bonito no momento do IPO, mas isso acaba tendo consequências no crescimento e na competitividade num prazo maior.

Mas o problema não para por aí. Sabe o que é pior?

As leis do mercado de capitais impedem que as empresas de análise (como a Empiricus) e investidores comuns (como você) tenham acesso às companhias nas semanas que antecedem o IPO. 

Você pode ligar para a equipe de Relação com Investidores de uma empresa listada e perguntar o que aconteceu com os resultados no ano passado. 

Mas você não vai conseguir informação nenhuma ligando para aquela companhia em cujo IPO você está prestes a investir simplesmente porque isso é proibido. 

Na Empiricus, por exemplo, conseguimos contornar esses problemas estudando cada linha dos prospectos (que na maioria das vezes superam 500 páginas), além de conversar com companhias e investidores do mesmo setor que consigam nos ajudar a entender melhor se a dinâmica recente é mais fruto de sorte ou de competência.

Infelizmente, essas ferramentas geralmente não estão ao alcance do investidor comum e não ajudam a resolver o seu problema de assimetria de informação. 

Cuidado com promessas

A assimetria da informação é um enorme problema e todo cuidado é pouco no momento de embarcar num IPO. 

No entanto, é preciso se atentar às promessas também. Muita gente acaba investindo em companhias que estão chegando agora se atentando apenas ao setor em que elas atuam ou aos discursos pré-IPO, mas esquecem de analisar fatores que fazem toda a diferença em um investimento. 

Recentemente, em um desses fóruns sobre o mercado financeiro, eu me deparei com investidores inconformados com a queda das ações da Focus Energia (POWE3) desde o IPO.

Fonte: Google

Para eles, não faz o menor sentido as ações da companhia caírem desde o IPO, já que "ela investe em plantas de geração solar e está se posicionando em um setor que tem boas perspectivas para o futuro." 

Mas quem disse que isso é o suficiente?

Se o setor vai crescer e facilitar a vida das companhias que fazem parte dele, ótimo. Mas como está o balanço dela? Será que ela vai conseguir captar dívidas a custos competitivos e, mais importante, pagar essas dívidas?

Será que os projetos estarão prontos a tempo de atender os clientes? Será que os preços da ação estão condizentes com a capacidade de geração de lucros futuros?  Será que as outras companhias de energia que já negociam na Bolsa não podem começar a competir neste segmento e derrubar os retornos de todo o setor?

São muitas perguntas que não podem ser respondidas com um mero "o setor vai crescer". 

Eu mesmo sugeri aos assinantes da Empiricus não investirem na companhia época na época do IPO.

Não porque eu não goste de geração solar, ou porque não acredite que a participação desse tipo de tecnologia vai crescer nos próximos anos – nada disso.

Mas porque a relação entre o retorno e os riscos de investir no IPO naquela altura não era atrativa. 

Por outro lado, a 3R Petroleum (RRRP3), cujo IPO eu sugeri que os assinantes participassem, sobe quase 100% desde então. Apesar de o setor estar com os dias contados, as ações estavam baratas, o balanço estava equilibrado e o processo de desinvestimento da Petrobras oferecia grandes oportunidades (oferece ainda, caso queira aproveitar). 

O importante é entender que Investir é muito mais do que escolher "empresas que estão em setores do futuro". Se fosse assim, bastaria colocar todo o seu dinheiro nas ações da Tesla e fim de papo.

A volta dos IPOs

Como você deve ter visto, depois de algumas semanas de instabilidade política e forte crescimento nos casos de Covid-19 no Brasil, os IPOs voltaram a ser o assunto principal nos mercados. 

Por esse motivo eu resolvi trazer essas dicas na coluna de hoje, antes que você saia por aí colocando o seu suado dinheirinho em qualquer carro com tinta fresca ou promessa de retornos futuros que te fizerem, OK?

E se você quiser uma boa ajuda na hora de separar o joio do trigo, saiba que a Empiricus oferece a todos os seus assinantes análises dos IPOs mais importantes da bolsa e, é claro, também indica em quais deles vale a pena investir.

Por exemplo, os assinantes da série Oportunidades de Uma Vida têm acesso exclusivo àquela que o Felipe Miranda considera a melhor carteira de ações do Brasil – com um retorno de mais de 400% desde 2015 – e, de quebra, ainda recebem sugestões de quais IPOs devem investir. Se quiser conferir a série, deixo aqui o convite.

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