Dividendo, pra que te quero? Por que as empresas que pagam mais aos acionistas podem não ser as melhores para se investir
Muita gente só investe em companhias que distribuem quase a totalidade dos lucros para os acionistas. Mas será mesmo que isso é um bom sinal?
Se você já pesquisou na internet "como encontrar boas ações para investir", tenho certeza que um dos itens mais mencionados pelos especialistas de investimentos no YouTube é o alto volume de dividendos pagos pela companhia, não é mesmo?
“Se a companhia paga um caminhão de dividendos, pode investir que é lucro na certa”, eles costumam dizer.
Na verdade, muita gente só investe em companhias que distribuem quase a totalidade dos lucros para os acionistas.
Mas será mesmo que isso é um bom sinal? Será que distribuir uma enorme quantidade de dividendos torna uma companhia um melhor investimento do que outra que prefere não distribuir nada?
Hoje nós vamos ver por que o dividendo não é o indicador mais apropriado para avaliar a atratividade de uma ação.
Aliás, algumas vezes, dividendos elevados soam mais como um sinal de alerta do que de oportunidade.
Leia Também
O que são dividendos
Para começar, é bom esclarecer que o dividendo é a parcela do lucro anual de uma companhia que é distribuído para os acionistas ao final do ano.
Se uma companhia lucrou R$ 100 milhões e optou por manter R$ 40 milhões no caixa (ou reinvestir essa grana), os outros R$ 60 milhões serão distribuídos aos acionistas na forma de dividendos.
A regulamentação das companhias abertas brasileiras estabelece que pelo menos 25% do lucro líquido anual seja distribuído em forma de dividendos para os acionistas.
Esse montante pode, inclusive, ultrapassar os 100% em casos em que a companhia esteja com muito caixa sobrando, por exemplo.
É óbvio que dividendos têm valor para o acionista. Eles funcionam como uma fonte de renda extra para complementar o salário ou a aposentadoria, por exemplo.
Mas é importante entender que toda vez que uma empresa decide pagar um dividendo, ela está abrindo mão de reinvestir esse dinheiro a taxas normalmente muito mais atrativas, o que poderia trazer retornos muito, muito maiores para os seus acionistas no longo prazo.
Alocação de capital
Talvez a tarefa mais difícil na vida do presidente de uma companhia seja a alocação eficiente de capital.
A expressão é estranha, mas o conceito é simples. A alocação eficiente de capital indica onde a companhia pode colocar dinheiro e obter o maior retorno possível para o acionista.
Alternativa | Potencial de retorno | Risco |
Projeto A | 30% | alto |
Projeto B | 15% | baixo |
Pagar dividendos | 2% (Tesouro Selic) | nenhum |
Muitas das companhias em estágio inicial de vida ou que estão inseridas em um setor que cresce bastante encontram oportunidades de investir parte dos lucros em projetos com bom potencial de retorno.
Essas companhias normalmente vão ter à sua disposição projetos do tipo A e B, nos quais elas poderão investir boa parte do lucro anual e obter um potencial interessante de retorno – pelo menos 15% neste caso.
É aqui que surge uma pergunta importante: por que você preferiria receber dividendos que poderiam ser investidos em Tesouro Selic a uma taxa de, no máximo, 2% ao ano, se essa mesma grana poderia ser reinvestida pela própria empresa em projetos com uma taxa de retorno de pelo menos 15% ao ano com baixo risco?
Essa diferença de 15% para 2% pode não parecer muita coisa em um ano. Mas se a companhia conseguir reinvestir os lucros todos os anos a uma taxa de 15%, no longo prazo isso faz uma baita diferença.
No gráfico abaixo, mostramos a diferença dos investidores de três empresas diferentes.
O primeiro (linha cinza) é acionista de uma companhia que distribui os R$ 100 de lucro em dividendos todos os anos e não reinveste nenhuma parcela desse dinheiro.
O segundo (linha preta) é acionista de uma companhia que reinveste todos os anos os mesmos R$ 100 em projetos com retorno de 15% ao ano.
O terceiro (linha verde) é acionista de outra companhia, que também reinveste todos os anos os R$ 100, mas em projetos com retorno de 30% ao ano.
Ao fim de dez anos, o retorno do último investidor (por meio da valorização das ações) é quase quatro vezes maior do que aquele que recebia 100% dos dividendos todos os anos.
Pagou uma enorme quantidade de dividendos, logo é uma ótima empresa? Errado
Então, se uma empresa paga muitos, mas muitos dividendos, isso normalmente significa que ela não está encontrando projetos com retornos minimamente satisfatórios para investir.
Nesse caso, ela prefere devolver o dinheiro para você poder reinvestir a grana em títulos sem risco ou em outras empresas com maior potencial de crescimento.
Pode até ser que em um ou dois anos, as oportunidades sejam realmente escassas e devolver o lucro aos acionistas acabe sendo a melhor decisão.
Mas se distribuir praticamente todo o lucro se torna uma prática recorrente, isso pode mostrar que o caminho do crescimento para a companhia está perto do fim e, pior, que um declínio de resultados pode estar próximo de começar.
Lembre-se daquele ditado: quando a esmola é demais, até santo desconfia.
O grande desafio
Portanto, muitos dividendos não são o suficiente para configurar uma companhia como um ótimo investimento.
É preciso entender os motivos pelos quais os dividendos estão elevados.
É por que faltam oportunidades de investimento?
É por que o negócio está piorando mas a companhia quer manter o preço de suas ações inflado?
É por que os controladores, donos de boa parte das ações, gostam de trocar suas Ferraris no fim do ano e preferem deixar passar boas oportunidades de reinvestir os lucros em troca de um benefício próprio?
Como investidor, o grande desafio é encontrar empresas que tenham um fluxo de caixa formidável que as permitam pagar ótimos dividendos, mas que, ao mesmo tempo, ainda consigam encontrar boas oportunidades para reinvestir pelo menos parte desse excesso em projetos com bom potencial de retorno.
Essas são companhias que não apenas conseguem oferecer aos seus acionistas uma ótima fonte de renda extra, mas que também possuem avenidas interessantes para continuarem crescendo no futuro.
Seus acionistas tendem a ganhar tanto com a distribuição de lucros anuais como também com o desenvolvimento de novos projetos e consequente valorização das ações.
Encontrar esse tipo de empresa é muito mais difícil, mas as recompensas também são muito maiores para quem consegue.
É por isso que Sergio Oba está todos os dias vasculhando o mercado para encontrar oportunidades com esse perfil. A sua carteira de Vacas Leiteiras é recheada de empresas que são mais do que meras boas pagadoras de dividendos. São companhias geradoras de caixa e que estão inseridas em setores com ótimas perspectivas de crescimento.
Se quiser conferir a lista, deixo aqui o convite para conhecer a série.
Um grande abraço e até a próxima!
Leia também:
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
Os reis dos dividendos: os 10 fundos imobiliários que mais distribuíram dinheiro aos investidores neste ano
Os FIIs de tijolo são maioria na metade superior do ranking, considerando o período entre janeiro e outubro de 2024
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
O Google vai ser obrigado a vender o Chrome? Itaú BBA explica por que medida seria difícil — mas ações caem 5% na bolsa mesmo assim
Essa seria a segunda investida contra monopólios ilegais nos EUA, desde a tentativa fracassada de desmembrar a Microsoft, há 20 anos
Gerdau compra controle total da Gerdau Summit, por US$ 32,6 milhões; entenda a estratégia por trás disso
Valor da aquisição será pago à vista, com recursos próprios até o fechamento da transação, previsto para o início de 2025
Nvidia (NVDC34) vê lucro mais que dobrar no ano — então, por que as ações caem 5% hoje? Entenda o que investidores viram de ruim no balanço
Ainda que as receitas tenham chegado perto dos 100% de crescimento, este foi o primeiro trimestre com ganhos percentuais abaixo de três dígitos na comparação anual
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Que crise? Weg (WEGE3) quer investir US$ 62 milhões na China para aumentar capacidade de fábrica
O investimento será realizado nos próximos anos e envolve um plano que inclui a construção de um prédio de 30 mil m², com capacidade para fabricação de motores de alta tensão
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Em busca de dividendos? Curadoria seleciona os melhores FIIs e ações da bolsa para os ‘amantes’ de proventos (PETR4, BBAS3 e MXRF11 estão fora)
Money Times, portal parceiro do Seu Dinheiro, liberou acesso gratuito à carteira Double Income, que reúne os melhores FIIs, ações e títulos de renda fixa para quem busca “viver de renda”
R$ 4,1 bilhões em concessões renovadas: Copel (CPLE6) garante energia para o Paraná até 2054 — e esse banco explica por que você deve comprar as ações
Companhia paranaense fechou o contrato de 30 anos referente a concessão de geração das usinas hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Equatorial (EQTL3) tem retorno de inflação +20% ao ano desde 2010 – a gigante de energia pode gerar mais frutos após o 3T24?
Ações da Equatorial saltaram na bolsa após resultados fortes do 3º tri; analistas do BTG calculam se papel pode subir mais após disparada nos últimos anos
‘Mãe de todos os ralis’ vem aí para a bolsa brasileira? Veja 3 razões para acreditar na disparada das ações, segundo analista
Analista vê três fatores que podem “mudar o jogo” para o Ibovespa e a bolsa como um todo após um ano negativo até aqui; saiba mais
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos