A inflação verde: por que os preços de energia não param de subir
A falta de energia elétrica provocou uma corrida por fontes tradicionais de energia, as quais passavam por um processo de subinvestimento forte nos últimos anos, com grande parte do capital fluindo apenas para fontes renováveis
Ao redor do mundo inteiro, o grande temor tem se tornado a chegada de uma crise global de energia, sendo que parece não haver solução rápida para este problema.
A alta das commodities de energia pode ser verificada de diferentes maneiras, como os aumentos astronômicos nos preços do gás natural, custos de carvão em disparada e previsões de petróleo acima de US$ 100 o barril.
Dois são os motivos para isso.
O primeiro deles, de cunho mais conjuntural, é a reabertura da economia, com o consequente ressurgimento da demanda. Em outras palavras, durante o pior momento da pandemia, muito da oferta de energia foi cortada, bagunçando a cadeia de suprimento dos recursos energéticos.
Na retomada, porém, a demanda superou a oferta, o que levantou os preços. Em parte, isso se deve ao fato de que, em energia, você não consegue “ligar e desligar” tão fácil ou rapidamente. Há um custo e um tempo para isso, o que se traduz em mais preço no curto prazo, necessariamente.
A segunda razão, curiosamente, é a corrida desenfreada pela descarbonização da economia. Isso mesmo, a tentativa de caminharmos para uma economia verde nos últimos anos fez com que houvesse uma falta de oferta de produtos cuja produção tem caráter poluente (emite carbono), mas dos quais a economia ainda é dependente.
Leia Também
Existem duas vertentes dessa derivada:
- Para atingir um volume de energia renovável maior, nós precisamos de alguns componentes — construir barragens para hidrelétricas, montar campos com painéis solares e criar turbinas eólicas, por exemplo (isso sem falar das usinas nucleares e dos carros elétricos, entre outros). Ocorre que a produção desses componentes configura um processo muito pouco verde — processo, na verdade, marrom;
- Houve uma falta de investimentos em produção de combustíveis fósseis nos últimos anos, provocando um menor aumento da capacidade de produção energética, além do desligamento de muitas fontes emissoras de gás carbônico e gás carbônico equivalente, contribuindo para a escassez de combustíveis e de fontes alternativas de energia elétrica neste momento.
É o que se chamou de inflação verde.
A falta de energia elétrica provocou uma corrida por fontes tradicionais de energia, as quais passavam por um processo de subinvestimento forte nos últimos anos, com grande parte do capital fluindo apenas para fontes renováveis.
Pressão de demanda com falta de oferta tem nome: inflação. É um movimento semelhante ao que poderíamos pensar de uma vingança da Velha Economia, na qual as iniciativas pela economia verde impulsionaram os preços.
Veja abaixo os respectivos índices de inflação das economias do G7.
Note como a bolinha laranja, que representa a inflação de energia, está muito além da inflação observada. Há uma já contratação de maior inflação para os próximos meses por conta disso, à medida que os produtores repassam para os consumidores tal inflação mais alta.
Energia cara e escassa
O problema é que a chamada inflação verde tem gerado um processo de alta nos preços de energia, comprometendo o poder de compra de toda a população. Algumas localidades já convivem com falta de energia, sinalizando um alarme antes do inverno, quando mais energia é necessária para iluminar e aquecer casas.
Na China, por exemplo, os apagões contínuos para os residentes já começaram, enquanto na Índia as usinas de energia estão lutando por carvão.
Em tese, considerando que estes dois países possuem bilhões de pessoas, já poderíamos flertar com uma crise humanitária. A prioridade imediata deve ser mitigar os impactos sociais e proteger as famílias vulneráveis.
A falta de energia na China tem origens semelhantes:
- A alta global já generalizada nos preços do carvão e do gás;
- O banimento (não oficial) de importações de carvão da Austrália (que supria boa parte da demanda do país); e
- A redução da produção de carvão chinesa.
As restrições de uso de energia estão em vigor em 18 províncias que, juntas, respondem por 62% do PIB da China, provocando revisões para o crescimento do país.
Como resposta, a China ordenou que suas minas de carvão aumentem a produção. As autoridades da Mongólia Interior pediram a 72 minas que aumentassem a produção em um total de 98,4 milhões de toneladas métricas.
O número é equivalente a cerca de 30% da produção mensal de carvão da China, de acordo com dados recentes do governo. No final do dia, a China ainda é muito dependente de carvão.
Na Europa, por sua vez, o gás natural está sendo negociado em um patamar oito vezes mais alto do que o mesmo ponto do ano passado.
Houve uma certa expectativa nas últimas semanas desde que o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu aumentar a oferta de gás para a Europa, aliviando um pouco a pressão nos preços. O efeito foi temporário e os preços já voltaram a subir, em resposta à corrida pela descarbonização.
Leia também:
- Mesmo com trégua na crise política local, há espaço para internacionalização de investimentos
- Onde investir para os próximos 3 anos: como ganhar dinheiro com a energia do futuro e a revolução sustentável
...E o vento parou
Há um agravante no velho continente.
A Europa reduziu unilateralmente suas capacidades de energia nuclear e reduziu sua produção de energia a carvão.
Quando a produção de carvão da China e de outros países asiáticos ficou abaixo do necessário à medida que a economia global se recuperava da Covid-19, teve início uma competição global pelo fornecimento de gás natural, já que muitas usinas de energia podem alternar entre carvão e gás.
Além disso, por mais que tentem, os russos não conseguem controlar o clima, o que levou à redução da energia eólica no Reino Unido.
Isso mostra como as energias limpas, apesar de boas para o meio ambiente, são indisciplinadas. Isto é, dependem muito da natureza. Hidrelétrica depende da chuva, eólica depende do vento e solar depende do sol.
Este choque de preços é uma crise inesperada em um momento crítico. Governos em todo o mundo estão tentando limitar o impacto sobre os consumidores, mas reconhecem que podem não ser capazes de evitar o pico das contas.
O movimento de transição energética tem bastante a ver com isso, que nos últimos anos tem retirado fluxo de investimento da velha economia e direcionado para a nova matriz energética.
- OPORTUNIDADE: Conheça gratuitamente a série Palavra do Estrategista, com Felipe Miranda e Matheus Spiess
Vingança da velha economia
O problema é que, em vez de apenas trabalhar na expansão de uma nova matriz, os países também têm desistido de ofertar energia derivada de combustíveis fósseis no curto prazo em meio a um amplo processo de eletrificação global.
O desequilíbrio, fruto de uma pressa até um pouco irresponsável para atingir metas ambientais para 2030 e, posteriormente, 2050 (2060 no caso da China), tem provocado choques que acarretam elevações muitas vezes exponenciais nos preços.
Consequentemente, os investidores estão percebendo que acabaram subestimando as mudanças estruturais que ocorreram no cenário energético e que poderiam fazer com que esses preços mais altos persistissem por algum tempo.
Com o presidente Biden estabelecendo a meta de descarbonizar a economia até 2050 em paralelo a uma expectativa de aumento de demanda por energia da ordem de 60% até lá, alguns estão até chamando a situação atual de a primeira grande crise energética da transição para energia limpa.
É uma mensagem de advertência sobre o quão complexa será a transição energética e uma “vingança” da velha economia, que vinha sendo deixada de lado e agora reage.
No meu entendimento, sem previsão para que a situação se normalize, está aberto o espaço para que possamos recalibrar um pouco dos investimentos em commodities, em especial fluxo de caixa em commodities, tipo de investimento que ainda considero como sendo fundamental dentro de uma carteira diversificada.
Há espaço agora para investirmos tanto em fontes renováveis, como trouxe na semana passada, como em fontes de energia convencionais, como petróleo, por exemplo. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Leia também:
Brasil vai estourar a meta de inflação? Projeções sobem em 2024, 2025 e 2026, mas renda fixa que paga até IPCA +10% pode ‘surfar’ cenário
Incertezas econômicas ainda rondam o mercado e estimativas do IPCA nos próximos anos se afastam da meta de inflação – como buscar lucros com a renda fixa agora?
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
Azeite a peso de ouro: maior produtora do mundo diz que preços vão cair; saiba quando isso vai acontecer e quanto pode custar
A escassez de azeite de oliva, um alimento básico da dieta mediterrânea, empurrou o setor para o modo de crise, alimentou temores de insegurança alimentar e até mesmo provocou um aumento da criminalidade em supermercados na Europa
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
Está com pressa por quê? O recado do chefão do BC dos EUA sobre os juros que desanimou o mercado
As bolsas em Nova York aceleraram as perdas e, por aqui, o Ibovespa chegou a inverter o sinal e operar no vermelho depois das declarações de Jerome Powell; veja o que ele disse
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos
A surpresa de um dividendo bilionário: ações da Marfrig (MRFG3) chegam a saltar 8% após lucro acompanhado de distribuição farta ao acionista. Vale a compra?
Os papéis lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta quinta-feira (14), mas tem bancão cauteloso com o desempenho financeiro da companhia; entenda os motivos
Menin diz que resultado do grupo MRV no 3T24 deve ser comemorado, mas ações liberam baixas do Ibovespa. Por que MRVE3 cai após o balanço?
Os ativos já chegaram a recuar mais de 7% na manhã desta quinta-feira (14); entenda os motivos e saiba o que fazer com os papéis agora
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A B3 vai abrir nos dias da Proclamação da República e da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios durante os feriados
Os feriados nacionais de novembro são as primeiras folgas em cinco meses que caem em dias úteis. O Seu Dinheiro foi atrás do que abre e fecha durante as comemorações