Tic-tac para Evergrande: entenda o que está em jogo com a crise de crédito envolvendo a incorporadora chinesa
Em grande medida, o que está em jogo é a própria capacidade chinesa em lidar com crises desta magnitude e sua decisão de salvamento ou não de grandes empresas como essa

Havia outros planos para este Day One. A realidade insiste em sua agressividade e seu não comedimento, atropelando de maneira avassaladora qualquer planejamento. “O campo escala”, ensina o filósofo Tite.
Futuros de Wall Street em queda significativa, commodities em forte baixa, dólar em alta, corrida para os títulos do Tesouro norte-americano. “Ah, e as criptomoedas?” Em forte baixa, também.
Na hora do pânico, não há diferenciação. Venda primeiro, entenda depois. As correlações convergem para 1, desafiando qualquer fronteira eficiente de alocação de capital. A diferenciação ocorre no pós-pânico.
Daí emerge um primeiro corolário importante: se a diferenciação ocorre apenas num segundo momento, a paciência é escalada para o jogo com a faixa de capitã. Ela forma o trio de ataque (ou seria de defesa?) com a serenidade e a disciplina. Dias em que os vieses cognitivos são colocados à prova e as Finanças Comportamentais se tornam mais relevantes do que as métricas clássicas de valuation.
A catálise para a maior aversão ao risco vem, majoritariamente, das preocupações com a crise de crédito envolvendo a incorporadora chinesa Evergrande e seu potencial contágio para o setor e a economia local como um todo.
VEJA TAMBÉM: Nova CRISE DE 2008 no radar? Calote na CHINA derruba bolsas ao redor do mundo | Entenda
O que está em jogo com a Evergrande?
Em grande medida, a própria capacidade chinesa em lidar com crises desta magnitude e sua decisão de salvamento ou não de grandes empresas como essa.
Leia Também
Tony Volpon: Buy the dip
Rodolfo Amstalden: Buy the dip, e leve um hedge de brinde
Análises envolvendo a China são sempre complexas. Falta transparência, sobram valores e instituições (formais e informais) diferentes daqueles valorizados no Ocidente. O confucionismo acima da valorização da democracia ocidental.
Pelas sinalizações do final de semana, Pequim pretende lidar com a crise a partir de regras de mercado. Em sendo mesmo o caso, estaríamos lidando com a Evergrande como uma alusão aos grandes bancos americanos (“too big to fail”).
Numa analogia mais superficial e menos precisa, dado o caráter menos sistêmico da companhia (crises com instituições financeiras em seu epicentro são fenômenos mais complexos pela sua própria natureza), e à crise do LTCM (paralelo um pouco mais preciso).
Mas com maior capacidade de gerenciamento, dada a possibilidade de reação antecipada, a interpretação por parte das autoridades de que ela seria também grande demais para falir e a capacidade do governo chinês de agir sem precisar dos mecanismos clássicos de “checks and balances” de democracias mais consolidadas.
De forma mais simples, há dois grandes cenários à frente. Uma liquidação da companhia ou sua reestruturação. Há um terceiro entre ambos, que seria uma reestruturação desordenada, mas que, em termos práticos, representaria quase o mesmo de uma liquidação. Conforme escreveu a Fitch recentemente, esse cenário negativo é algo que as autoridades locais querem evitar.
Como lembrou o UBS em relatório desta segunda-feira, a entrega dos projetos é a questão mais importante em termos de estabilidade social e gerenciamento de uma crise imobiliária. Os compradores de imóveis e os fornecedores são os stakeholders mais relevantes.
Dito isso, uma liquidação seria o cenário menos provável. Emerge como possibilidade a segregação em companhias menores para tocar os projetos, acompanhada de uma reestruturação da dívida, sem escapar de um haircut significativo.
Sendo mesmo o caso, conseguiríamos atravessar a crise sem grande contágio sobre o setor financeiro; contudo, sem falsas ilusões. Sempre há consequências.
Algumas cicatrizes ficariam, como maior desconfiança sobre o setor imobiliário chinês e aumento dos custos de financiamento.
Fica ainda o risco de difícil mensuração fora do setor bancário tradicional — é sempre complexo mensurar as imbricadas relações do shadow banking na China. No setor financeiro, os bancos com maior exposição ao problema seriam JSB e Minsheng Bank.
A conclusão mais geral da S&P Global Ratings parece pertinente: um default da Evergrande tenderia a causar um pouco mais do que mera volatilidade nos mercados, ao mesmo tempo que seria improvável uma grande onda de default catalisada por esse evento. Seria um pequeno nível de contágio, gerenciável.
Evidentemente, isso exigiria uma ação rápida e eficiente. Se confirmada a reestruturação e a não liquidação da companhia, o alívio no mercado de crédito chinês seria imediato e o contágio bastante limitado.
O risco existe e não é desprezível. Há várias incertezas e falta de acesso à informação para se acessar a real situação na China, o que inclusive contribui para reações mais exacerbadas de curto prazo do mercado. Ao menos até agora, porém, esse risco é gerenciável.
Dada a importância do tema, estamos preparando um material especial sobre Evergrande e seus potenciais impactos para ser enviado ainda hoje a todos os assinantes da Empiricus.
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal
Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano
Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.
Rodolfo Amstalden: If you’re old, sell & hold
Em meio à fartura de indicadores de atividade e inflação sugerindo bons sinais vitais, desponta um certo estranhamento no fato de que Warren Buffett parece estar se preparando para tempos piores à frente
Felipe Miranda: O Fim do Brasil não é o fim da História – e isso é uma má notícia
Ao pensar sobre nosso país, tenho a sensação de que caminhamos para trás. Feitos 10 anos do Fim do Brasil, não aprendemos nada com os erros do passado