Quanto de juros você tolera?
Nietzsche diz que o valor de um homem se mede pelo tanto de verdade que ele pode tolerar. Escrevo no presente porque legados de boa filosofia são eternos. Concordo com ele.
Aqui, somos admiradores da transparência radical de Ray Dalio. Preferimos a volatilidade à supressão dela, como alunos (presenciais) de Nassim Taleb — como defende a Artemis Capital, a volatilidade nada mais é do que a revelação da verdade. Empurrá-la para debaixo do tapete apenas acumula riscos escondidos.
Como escrito recentemente nestas pobres linhas, o princípio budista da “compaixão idiota” deve ser preterido frente à “compaixão sábia”. Verdades transmitidas com empatia, mesmo que duras, são muito mais valiosas do que os falsos elogios, os tapinhas nas costas, os ternos vazios, o discurso politicamente correto, o corporate talking.
Como no mito do anel de Giges, descrito no livro 2 da República de Platão e título do novo livro de Eduardo Giannetti, temos uma preocupação importante na Empiricus: faríamos a mesma coisa se ninguém pudesse nos ver? Qual é a sua verdade mais íntima, sem jogar para a torcida?
Estive com um banqueiro recentemente que me disse algo mais ou menos assim: “Os juros vão subir no ano que vem, talvez em 2023. Não importa muito. Haverá alguma racionalização dos preços de ativos de risco. Vamos parar de sonhar e alguns abusos serão corrigidos. Aí veremos quem é capaz de realmente gerar valor”. Quando a maré baixa, descobrimos quem nadava pelado.
O top management de outro grande banco na segunda-feira falou outra coisa interessante: embora o fluxo de net new money esteja indo muito para fora dos bancões, ainda há muito capital alocado lá. O que precisa haver é uma resposta rápida para dar solução à fuga de recursos e se adaptar à realidade.
Leia Também
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
O resultado deste choque entre o novo, com muita coisa boa e também muitas promessas, e o velho, diante de um cenário de juros mais altos, saberemos só lá na frente. No mundo onde eu vivo, o futuro insiste em ficar… no futuro.
Em carta mensal a seus cotistas, com o brilhantismo de sempre, Luis Stuhlberger trouxe provocação pertinente para os dias atuais (a rigor, não sei se foi ele mesmo quem escreveu a carta; uso o nome como uma metonímia para o Verde, o que me parece razoável): “Uma taxa de juros básica na casa de 5% (ainda bem abaixo do que indica o mercado futuro) será capaz de desacelerar o processo secular de mudança dos portfólios de investidores brasileiros?”.
Ele mesmo propõe uma possível resposta: “Acreditamos em grande medida que não, mas essa é uma pergunta que será recorrente ao longo deste ano”.
Gostaria de explorar um pouco melhor a questão. Antecipo também a minha conclusão: novamente recorrendo à Platão, tenho tratado esse “processo secular de mudança dos portfólios de investidores brasileiros” como algo semelhante ao Mito da Caverna. Depois de ver a luz da superfície, dos benefícios de portfólios mais sofisticados, balanceados e com boas composições de risco e retorno, é difícil voltar à escuridão da caverna do CDI.
De forma um pouco mais concreta, e numa conta grosseira de padeiro, juros nominais curtos de 5%, para uma inflação de 4% (ou algo muito perto disso), implicaria um juro real de 1% ao ano. Não me parece suficiente para afugentar o investidor de aplicações de risco. Se a Selic fosse para 8%, 9%, 10% ao ano, aí talvez a conversa fosse diferente. No atual contexto, porém, não parece ser o caso, a não ser que haja uma explosão da trajetória fiscal (e, como já dissemos aqui reiteradas vezes, o Brasil não tem vocação para trajetórias explosivas; acho que nem coragem para isso nós temos, diante de nossa veia antropofágica macunaímica).
A inflação, embora muito alta, tem elementos transitórios importantes, ligados às commodities, ao dólar e ao desarranjo do supply chain global diante da Covid-19. Uma pequena acomodação da taxa de câmbio, a volta à normalidade das cadeias produtivas e uma pausa no ciclo de alta das soft commodities poderiam derrubar a inflação a partir de maio, junho.
Mais do que isso, o problema do Brasil (e do mundo, sejamos sinceros) estruturalmente ainda é crescimento. Há uma brutal ociosidade dos fatores de produção, tanto de capital quanto de trabalho. E existem forças deflacionárias estruturais, notadamente a tecnologia e a demografia.
Isso parece corroborar a baixa probabilidade de uma taxa de juros muito alta.
Outro ponto importante na análise. Mais do que o juro curto em si (a Selic), a coisa mais relevante para a determinação da atratividade da Bolsa é a comparação frente às taxas de juro de mercado mais longas, como o yield da NTN-B de dez anos.
Talvez pela minha trajetória pessoal (meu mestrado é em prêmio de risco cambial), sempre penso Bolsa como um equity premium. Ou seja, quanto a Bolsa está pagando a mais relativamente à renda fixa? Esse prêmio é suficientemente atrativo?
Você basicamente calcula isso pegando o earnings yield da Bolsa, que é o inverso do preço sobre lucros, e subtrai o yield da NTN-B de dez anos.
De forma simples e rápida, com os devidos ajustes, temos um P/L projetado da Bolsa brasileira perto de 14,5 vezes agora. O earnings yield aponta algo como 6,89. Com o juro real de dez anos em torno de 3,60, ainda teríamos uma gordura aí da ordem de 3,30 pontos percentuais.
O mais curioso dessa história toda é que a alta do juro curto, a julgar pela sinalização recente do Banco Central e a consequente reação do mercado, poderia derrubar o juro longo, o que aumentaria o prêmio de risco da Bolsa num primeiro momento.
A verdade a se tolerar neste momento é que ficamos adultos. Teremos de tolerar a volatilidade da Bolsa. Ainda bem, porque ela é a manifestação objetiva da realidade, sem riscos escondidos de termos o conforto da ausência de volatilidade do CDI, que deve seguir nos entregando inflação mais algumas migalhas nos próximos anos.
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional