Macunaíma já está imune, se hidrata e passa bem
As notícias sobre a morte do Brasil foram demasiadamente exageradas.
O original de Mark Twain, escrito em primeira pessoa, era mais legal, mas a versão adaptada me pareceu pertinente.
Querem enterrar o Brasil antes da hora. Calma. O bicho está respirando ainda. Se insisto em nosso caráter macunaímico, da nossa tendência à complacência, à mediocridade, à milonga, também preciso pontuar uma certa natureza antifrágil. Se pararmos para pensar, é razoável que essas coisas se complementem em alguma medida. Em situações de fragilidade, um novo choque negativo acaba sendo positivo, porque precisamos voltar para a média. Se já estamos com a nota 1 e tomamos um novo soco, se temos a tendência à reversão à média, precisamos ir para o 5 — e note que isso é uma bela multiplicação.
Macunaíma não deveria ser apenas o herói duplamente preguiçoso. Sua duplicação também poderia estar na cabeça, como a Hidra de Lerna — quando lhe cortavam o pescoço, criavam-se outras duas cabeças.
Tenho uma confidência íntima: quando meu WhatsApp começa a ser abastecido por notícias como “este país não tem jeito”, “estou muito desanimado”, “você sabe como estão os preços de imóveis na Flórida?” e afins, tal como aconteceu na segunda-feira, sinto vontade de sair comprando ações.
A verdade é que, objetiva e concretamente, a semana me parece terminar com um saldo líquido positivo, sem que os ativos brasileiros tenham reagido de acordo com isso. Esclareço: sem falsas ilusões ou expectativas ingênuas. Não foi uma goleada. Tomamos uns bons gols — aliás, nós mesmos fizemos gols contra o patrimônio.
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
Entendo que boa parte dessa reação negativa dos mercados brasileiros na semana se deva a paixões exageradas com que normalmente se interpretam acontecimento políticos, num país que vive de heróis e vilões personalistas e pesa pouco suas instituições; e a um gringo grande, que especula-se ser o GIC, na ponta vendedora, literalmente fritando algumas posições em ações. Essas decisões de vender uma cesta a qualquer preço vinda de investidores estrangeiros machucam bastante determinadas cotações; em especial daquelas ações de “segunda linha”, com menor liquidez. Daí infere-se até uma dificuldade adicional para bater o Ibovespa no curto prazo. A desmontagem de uma posição dessas em Petrobras, Vale e Itaú, por exemplo, leva poucos dias. Para se desfazer de empresas menores, precisamos de semanas.
Então, surgem distorções meio bizarras. Essa é a verdade. Vemos empresas já especulando sobre fechamento de capital. Outras pensam em dividendos extraordinários e recompras mais agressivas. Em termos mais práticos, apresentam-se aberrações como Mitre negociando a 4,5 vezes lucros estimados para 2022, BR Distribuidora a 10 vezes, Via Varejo a 0,4 vez EV/Sales, Lojas Renner abaixo de 20 vezes lucros, Unidas perdendo a referência de preço com Localiza, Locaweb abrindo em alta de 7% e fechando zerada, BTG vindo bem abaixo do preço do último aumento de capital, e por aí vai.
Do lado negativo, tivemos, a partir da decisão do ministro Edson Fachin sobre os processos envolvendo o ex-presidente Lula, aumento do risco de polarização no país, a possibilidade de lançamento de um candidato de esquerda mais competitivo, com potenciais consequências negativas sobre a gestão macroeconômica brasileira (e micro também), e o medo de que o presidente Jair Bolsonaro possa enveredar por práticas mais populistas diante de riscos maiores para sua reeleição.
Passado o susto inicial, porém, as notícias positivas parecem sobrepujar as mazelas, em termos de impacto sobre os ativos de risco.
Ao menos momentaneamente, o yield dos Treasuries está mais bem comportado, amenizando a trajetória recente de subida — embora volte a apontar para cima nesta manhã.
Taxas de juro de mercado mais altas implicam maior atratividade relativa da renda fixa frente à variável. Além disso, como os Treasuries são a referência global de taxa livre de risco, a escalada de seus yields implica revisitar os valuations dos demais ativos. Ações ligadas a crescimento, cujos fluxos de caixa estão lá na frente, são particularmente afetadas, porque esses fluxos de caixa acabam sendo trazidos a valor presente por uma taxa mais alta. Se todo o valor vem da perpetuidade, sobra muito pouco para hoje quando os juros são altos.
Semelhante ao ocorrido em 2013, quando o Fed sinalizou o “tapering”, o afunilamento das compras de títulos, a disparada dos yields lá fora era um risco importante para mercados emergentes e para ações em geral. Seu estancamento é fundamental para uma caminhada mais profícua dos ativos de risco. E isso, ao menos circunstancialmente, aconteceu nesta semana.
Internamente, com tiro, porrada e bomba, foi aprovada a PEC Emergencial dentro de parâmetros bastante razoáveis. Fora do platonismo dos sonhadores, pode-se considerar uma vitória da equipe econômica. A PEC Emergencial ideal mora no mundo das ideias somente. No mundo real, roda a PEC Emergencial possível — e ela está bem ok.
Isso retira pressão importante sobre os juros futuros e mantém a âncora fiscal relevante neste momento, que é o teto de gastos. Além disso, mostra uma certa vitória da agenda, despersonalizada, dado que o próprio presidente teria pessoalmente trabalhado para retirar policiais dos gatilhos para congelamento de salários. Como conversei com Lucas de Aragão, “só há uma agenda agora” e ela aponta para mais medidas fiscais e liberais do que o consenso de mercado supõe (com muita dificuldade, claro; não há ingenuidade aqui).
Outro ponto marcante da semana foi a queda do dólar em relação ao real. Além de seguir o comportamento de outras moedas emergentes, nossa taxa de câmbio foi diretamente impactada pelo aumento das intervenções do Banco Central. Interessante notar que isso aconteceu mesmo num momento em que a volatilidade do real estava alinhada àquela de outras moedas emergentes — a cartilha típica prescreve a necessidade de atuação no câmbio quando há o chamado “fear of floating”; ou seja, os BCs devem atuar para suavizar um identificado excesso de flutuação, o que não foi o caso agora.
Há variadas explicações para a observada mudança de postura do Banco Central. Talvez seja um aumento do medo do pass through cambial (repasse cambial para os demais preços da economia), talvez seja o oferecimento de liquidez para um investidor estrangeiro demandando dólar, talvez seja uma tentativa heterodoxa de não validar um aumento da Selic superior a 50 pontos-base na próxima reunião do Copom.
Não consigo saber. É um exercício de arrogância se achar capaz de pensar com a cabeça do outro e entender as razões alheias. Como resultado prático, porém, a valorização do real amenizou a pressão sobre as taxas de juro de mercado. O corolário é a boa resposta, em termos de fundamentos, de nomes diretamente afetados pela dinâmica de juros, como consumo e varejo, incorporadoras, utilities e shoppings, entre outros.
Um terceiro elemento se refere a uma mudança nas diretrizes e na retórica do governo no combate à pandemia. O presidente Bolsonaro apareceu de máscara, intensificou a defesa da vacinação e, segundo a imprensa, um de seus filhos chegou a dizer que “nossa arma é a vacina”. Se a nova postura vem como resposta à elegibilidade do ex-presidente Lula ou ao aumento do número de mortes por Covid-19, não sei. Pragmaticamente, porém, significa algum resgate da racionalidade e do pragmatismo, da defesa do que realmente precisamos, uma caminhada em direção ao centro e um afastamento da ala mais ideológica. Enquanto poderia vir mais polarização, vimos, na margem, um pouco mais de moderação.
O sapo não pula por boniteza, mas por precisão. Há algo curioso com o Brasil. Para avançar, ele precisa de um susto, de olhar para o abismo, chegar bem perto e resolver se afastar. Trocamos o presidente da Petrobras para no dia seguinte encaminhar a MP de privatização da Eletrobras. Arriscamos o teto de gastos para depois passar a PEC Emergencial com quase todos os gatilhos. Tememos a polarização radical para acordar com flertes ao centro e à moderação, vindos dos dois lados.
No final, ainda somos os mesmos. Macunaímicos e antifrágeis.
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]