🔴 QUER INVESTIR NAS MELHORES CRIPTOMOEDAS DO MOMENTO? SAIBA COMO CLICANDO AQUI

Expectativas e julgamentos: o que esperar do próximo ciclo de altas, segundo o ‘guru’ de Warren Buffett

20 de abril de 2021
10:27 - atualizado às 11:05
Empresário Milionário
Imagem: Shutterstock

Da tarde de ontem até o momento em que os dedos encontram o sistema QWERT para a escrita deste Day One, estive dividido entre elogios e críticas à conversa desta segunda com Howard Marks.

Felizmente, os comentários positivos vieram de quem conseguiu assistir ao papo, encontrando um material de muita qualidade — graças a ele, claro. Os críticos se concentraram na impossibilidade de acompanhar o encontro, muito por conta do horário de trabalho.

Eu os entendo e respeito todos. Confesso até algum nível de satisfação por ver as pessoas reclamando por isso. De algum modo, reflete o interesse não correspondido de participar da conversa e evoluir como investidor. Para alguém preocupado com educação financeira e melhoria dos investimentos das pessoas físicas, é como fazer um gol. 

O problema é que, se nossas agendas são complicadas (eu tenho certeza de que a sua é), imagino que a disponibilidade temporal de Howard Marks também não seja assim uma molezinha. Para esse tipo de conversa, o entrevistado marca o horário e eu me adapto. Se a possibilidade for 13h30 de uma segunda-feira, assim será. 

Como recebi uma série de pedidos para disponibilizar a conversa gravada, resolvi responder de maneira consolidada por aqui. O combinado inicial foi transmitirmos ao vivo. Estamos agora aguardando a autorização da Oaktree para a divulgação da gravação. Espero que entenda.

Enquanto isso não acontece, divido alguns pontos interessantes, dignos de reflexão mais profunda. Afinal, este é o objetivo deste espaço. Para aqueles que procuram no Day One comentários mais conjunturais da abertura dos mercados no dia, recomendo nosso canal no Telegram, em que trago meu call matinal com as novidades diárias e análises pontuais. 

Leia Também

Se eu fosse um jornalista, possivelmente destacaria a percepção de Marks de que não há bolha hoje no mercado de ações norte-americano. Não que os valuations sejam especialmente convidativos. Mas, se considerarmos que os juros não devem subir muito e que estamos no começo de um ciclo importante de crescimento (ele considera ambas as coisas), então há espaço para otimismo — sem exageros, claro.

Na minha visão pessoal, a conversa foi reveladora porque Marks parecia mais otimista do que em seu último memorando, em que ele recomendava “avançarmos, mas com cautela”. Houve ali a manifestação da possibilidade de soltar um pouco o freio. É significativo, porque a Oaktree é assumidamente mais conservadora em seu posicionamento. Marks não parecia muito preocupado com a inflação e a escalada nos yields, lembrando-nos de que, num horizonte mais longo, o mundo ainda tende a enfrentar dificuldades para um crescimento muito vertiginoso, sobretudo por conta de elementos demográficos.

Bom, mas eu não sou um jornalista. Nada contra. Ao contrário. Admiro a classe e, por vezes, noto um desentendimento sobre a profissão. Critica-se um suposto sensacionalismo jornalístico. Mas, afinal, não é da natureza da atividade noticiar justamente o extraordinário? Fico imaginando a manchete: “Pousa a centésima aeronave no aeroporto de Congonhas no dia 20 de abril de 2021, normalmente”. Agora, se cair um avião, a coisa muda. A normalidade, no sentido do ordinário, não cabe nas manchetes. O dever está em destacar justamente o especial, o diferente, cabendo espaço notável às denúncias de desvios, que, por definição, escapam à normalidade (ou ao menos ao que deveria ser a normalidade).

Para mim, porém, duas outras coisas chamaram atenção. A primeira delas se refere a um capítulo novo na segunda edição de seu livro, de título “Expectativas razoáveis”. Como eu li a primeira edição, acabei não tendo acesso a essa expressão, que achei maravilhosa.

Isso me marcou bastante porque é comum, dada a minha própria atividade profissional, receber comunicações do tipo: “Felipe, comprei a ação ABCD na semana passada e estou perdendo 5% até aqui. O que fazer? Estou desesperado”. Ou: “Acha que esta ação sobe 100% até o final do ano?”. Ou ainda: “Em quanto tempo vai convergir para R$ X?”.

Se você não mantém expectativas razoáveis sobre o investimento, ou sobre qualquer processo, muito possivelmente vai se frustrar. As chances de dar errado são enormes. 

Flutuações de 5%, 10%, 20% são absolutamente normais, muitas vezes derivam apenas de alguma ocorrência aleatória, sem que nada tenha mudado na realidade da empresa. Aquele gestor carioca especialista em small caps está se divorciando da mulher. Vai precisar arcar com um resgate enorme nas suas cotas. Pronto! Aquela pressão vendedora particular detonou a respectiva ação, sem que nada tivesse mudado na realidade da respectiva companhia. Warren Buffett costuma dizer que, se você não está preparado para ver sua ação caindo 50%, você não deve comprá-la. Há um problema enorme com a renda variável: ela varia. Aliás, até a renda fixa varia. Ah, seu imóvel também — você só não está vendo. 

Questões temporais escapam à competência dos investidores. Segundo Aswath Damodaran, o ato de investir é comprar algo por menos do que vale. Perceba que não há nenhuma referência de tempo. Você estima um valor intrínseco para determinado ativo e o compara com seu preço corrente. Se a cotação atual for muito inferior à estimada, você compra, esperando uma convergência entre as coisas. Quanto tempo vai demorar? Ninguém sabe. O tempo suficiente para o mercado concordar com você em sua estimativa de valor intrínseco. Não é uma cronologia mensurável ex-ante.

Por fim, ainda que os juros estejam subindo e tenhamos uma recuperação pontual mais forte, ainda convivemos com um mundo de baixo retorno, baixo crescimento e baixa inflação. Esperar rentabilidades consistentes (sem a assunção de riscos desmedidos) de 30%, 40%, 100% é como pedir para viver num mundo que não existe. A realidade não vai se adaptar às nossas próprias motivações e necessidades. O Sol continuará nascendo no leste e indo dormir no oeste, ainda que desejemos o contrário. Se o mundo é de baixos retornos, devemos nos adaptar a baixos retornos. Apenas é o que é, desculpa.

Outro expoente da conversa com Howard Marks foi quanto ele enfatiza a necessidade de o bom investidor ter uma capacidade diferenciada de julgamento. Se não há mais tanta vantagem informacional, pois todo mundo sabe de tudo, o diferencial só pode vir da capacidade analítica qualitativa. Isso é muito interessante, porque não encontraremos nas planilhas e no terminal Bloomberg uma vantagem sobre a média do mercado, mas, sim, numa sensibilidade pessoal. Se for um privilegiado, você pode nascer com isso. É raro, mas existem gênios nascidos assim. Mozart, Beethoven, Da Vinci — eles viveram. Mas sejamos sinceros: são poucos, contamos nos dedos. Sensibilidade, capacidade de julgamento, intuição são coisas que desenvolvemos na prática.

O investimento é uma mistura de ciência e arte. Os bons retornos vêm de ativos sobre os quais paira uma nuvem e, em algum momento, ela é dissipada. O bom analista é aquele capaz de discernir entre um nevoeiro passageiro e uma grande tempestade iminente. 

Como está o céu por aí?

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?

17 de março de 2025 - 20:00

Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante

12 de março de 2025 - 19:58

Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º

5 de março de 2025 - 20:01

Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump

26 de fevereiro de 2025 - 20:00

Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável

19 de fevereiro de 2025 - 20:01

Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808

10 de fevereiro de 2025 - 20:00

A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek

3 de fevereiro de 2025 - 20:01

Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?

29 de janeiro de 2025 - 20:31

Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal

11 de dezembro de 2024 - 15:00

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”

4 de dezembro de 2024 - 20:00

Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou

27 de novembro de 2024 - 16:01

Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

18 de novembro de 2024 - 20:00

Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2

7 de outubro de 2024 - 20:00

Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo

2 de outubro de 2024 - 14:40

A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano

30 de setembro de 2024 - 20:03

Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar