Qual a verdadeira causa da angústia financeira no mês de julho?

No entardecer do século 19, já estava claro para Sigmund Freud que a hipnose produzia efeitos formidáveis no alívio de sintomas crônicos, falseando a hipótese de pacientes exclusivamente vitimados por um sistema nervoso disfuncional.
A explicação 100% fisiológica caía por terra, já que o transe da hipnose nada poderia fazer para remediar sinapses fisicamente rompidas ou neurônios quimicamente famintos. Por outro lado, poderia exercer influência sobre questões genuinamente psicológicas.
Ao mesmo tempo que Freud se entusiasmava com suas primeiras descobertas nesse sentido, sentia como se estivesse apenas tateando a superfície de algo bem mais profundo.
Seu próximo passo seria o de aprimorar a aplicação da hipnose, atravessando a barreira dos sintomas de modo a alcançar a complexa zona das causas subjacentes.
“Todos nós podemos agir segundo motivos ocultos ou inconscientes, diferentes daqueles que temos em mente e nos quais podemos acreditar. E como esses verdadeiros motivos são ocultos e desconhecidos, podemos estar mentindo sem o saber.”
Devidamente hipnotizados, temos, uma vez mais, a chance de alcançar aquelas razões secularmente enterradas pela Razão. Liberdade reconquistada, voltamos a falar a verdade para nós mesmos.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Escute as feras
Felipe Miranda: Do excepcionalismo ao repúdio
E o mercado, tem dito a verdade?
No estado atual das coisas, convidado a se deitar no divã, o mercado explica detalhadamente que está transtornado com a volta da inflação global, com a variante delta, que não vai conseguir tolerar uma nova frustração com os cronogramas de reabertura.
É uma caracterização legítima, sem dúvidas. Mas insuficiente para satisfazer os ouvidos calejados do Doutor Freud.
Depois de alguma resistência, o mercado finalmente aceita ser induzido ao transe hipnótico, com vistas a trazer à tona seus motivos ocultos.
Nesta manhã de 22 de julho, estamos justamente no momento em que os olhos se encontram fixados no movimento pendular, a consciência vai perdendo o sentido, e tudo fica um pouco mais escuro antes da iminência de outro tipo de luz.
Em breve, talvez chegue aos ouvidos de Freud a revelação, e então alguém saberá a verdadeira causa por trás das angústias financeiras que tanto deprimem este mês de julho.
Ainda assim, porém, a privacidade esperada do psicanalista em relação aos seus pacientes impediria que tal revelação se tornasse pública.
Eu não saberia de nada, e nem você. E a verdade é que mesmo Freud não saberia de nada, pois Freud está morto.
Já o mercado foi atropelado por um trem, mas passa bem.

Baixe já o seu!
Conquiste a sua medalha de investidor com as nossas dicas de onde investir no segundo semestre de 2021 neste ebook gratuito.
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal
Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano
Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.