“Devo Investir no fundo Verde?”

A pergunta-título deste Day One tem chegado com certa frequência pra mim, virtual ou presencialmente. As razões são conhecidas. Depois de bastante tempo fechado para novas captações, o mitológico fundo Verde, de Luis Stuhlberger, volta a reabrir no varejo.
Se você procura uma resposta objetiva, eu a antecipo: sim, entendo que seja uma boa alternativa de investimento e que você deve aproveitá-la.
Luis Stuhlberger é indiscutivelmente um gênio, hall of game global em gestão. Ponto final. Goza de sólido histórico de longo prazo e, talvez ainda mais importante, oferece uma consistência grande — mesmo em anos menos positivos, a julgar pelo histórico, é difícil perder muito dinheiro investindo no Verde. Baixo downside, bom upside; risco controlado, perspectiva de retorno potencial atraente. Boa assimetria, como gostamos de perseguir aqui.
Embora seja ainda um fundo centrado na figura icônica de Stuhlberger, o que é cabido pelos méritos e pela competência individual, é também muito mais do que isso. Conta com uma ampla e sólida equipe, muito competente e que trabalha junto há bastante tempo. Destaco o bom economista-chefe Daniel Leichsenring, o braço direito Luiz Parreiras, a equipe de mercados internacionais e o bom Luiz Godinho, head de relacionamento com investidores.
E para além das genialidades individuais e da robustez da equipe, dispõe de acesso aos melhores researches do mundo, aos empresários, aos conselhos de administração, aos executivos, ao newsflow de deals, etc., o que confere boa vantagem informacional, sempre um diferencial importante. Por fim, goza dos melhores processos internos e da melhor tecnologia. Tudo como deve ser. Redondo.
Portanto, recomendo, sim, o investimento no fundo Verde. Ele está aberto para captação na Vitreo, onde o capacity disponível deve se encerrar nos próximos dias. Fica a sugestão.
Leia Também
Tony Volpon: Buy the dip
Rodolfo Amstalden: Buy the dip, e leve um hedge de brinde
Este texto, porém, tem como objetivo ir além da questão estrita do investimento ou não no Verde. A newsletter se apoia neste caso particular para tentar provar noções gerais.
Para saber mais sobre como investir no Verde na Vitreo, aqui estão todas as informações.
Divido em blocos:
1 — Medo de ficar de fora, efeito manada e princípio da escassez
O Verde é ótimo. Nenhuma dúvida a esse respeito. É “buy convicto” e, possivelmente, sempre será. Contudo, há outros fundos de investimento, inclusive brasileiros, também bastante bons, sobre os quais não se manifesta o mesmo interesse, o mesmo frenesi, a mesma admiração. Cito como exemplos mais emblemáticos o JGP Strategy, da JGP, e o Raptor, da SPX — poderia apontar outros, mas fiquemos nesses.
Metaforicamente, se todos fossem listados em Bolsa, o valuation relativo dos dois últimos estaria muito mais atraente do que o do primeiro.
O adjetivo usado no começo para a referência ao Verde não foi uma coincidência aleatória. Há um mito em torno do Verde que não é encontrado em outros fundos brasileiros, talvez igualmente bons, principalmente quando analisamos o período dos últimos dez anos.
Para que fique claro: o Verde merece tanta admiração? Sim, merece. Mas por que não há o mesmo encantamento por outros pares, ao menos bastante parecidos na combinação risco-retorno?
Vou lhes dar um exemplo material. O Verde está aberto na Vitreo desde a última quinta-feira (4). Em dois dias, captou mais de R$ 150 milhões. O JGP Strategy, que eu reputo tão bom quanto o Verde, está lá também. Capta cerca de R$ 300 mil por dia.
Evidentemente, o Verde estava fechado há tempos e, portanto, captura uma demanda represada de anos, justificando, claro, parte da diferença. Mas faz sentido tamanha discrepância? Por que a atenção dispensada a outros fundos multimercados igualmente bons é tão menor? Por que ninguém fala do Jakurski com a mesma frequência e empolgação?
Tenho mais perguntas do que respostas — ainda bem. Só os ignorantes estão cheios de certezas. Eu continuo com dúvidas. Ofereço apenas potenciais explicações.
Entre outras coisas, me parece uma manifestação clara de vieses cognitivos e do quanto a retórica e as percepções imagéticas, narrativas e mitológicas muitas vezes importam mais do que a racionalidade estrita.
O frenesi recente em torno do Verde, principalmente quando ponderado pelo certo desprezo diante de outros bons fundos abertos, representa a união do “fear of missing out” (medo de ficar de fora), efeito manada e princípio da escassez. Todos querem participar daquilo, ainda que nem saibam direito as características do fundo. É a grande festa da cidade.
A um produto, e um fundo é um produto como outro qualquer, não basta ser bom. Embora o Verde seja espetacular, há outros também do mesmo nível, menos disputados. Pesa também a retórica, como Persio Arida e Deirdre McCloskey perceberam em seus artigos sobre o tema. Não ganha a melhor teoria ou o melhor produto necessariamente. Nem tudo se dá por “superação positiva”. As regras de retórica, de eloquência, de convencimento também importam. Reputo o artigo do Persio batizado “A História do Pensamento Econômico como Teoria e Retórica” como o mais bem escrito por um brasileiro entre todos que eu li na Academia.
Quanto mais nos blindarmos dos vieses cognitivos e mais focados estivermos na racionalidade estrita, mais perto estaremos de portfólios eficientes, aqueles com as melhores combinações possíveis de risco e retorno.
A solução pragmática para isso, que contempla as excepcionais qualidades do Verde, mas também incorpora o mérito de outros belos gestores, é a diversificação entre vários bons fundos de investimento. Da mesma forma que você não compra uma única ação, também não deveria estar exposto a uma única cabeça de gestor, por mais brilhante que ele seja.
Houve um evento recente em que os próprios gestores do Verde apresentaram uma solução otimizada para os portfólios dos clientes, que sugeria a combinação do Verde com a SPX. Essa é a mensagem. Compre o Verde, mas considere também outros gestores competentes. Serão úteis para diversificar sua carteira, reduzir seu nível de risco e preservar retorno potencial.
2 — Quanto ter de fundos multimercados na carteira?
Se você visitar ou receber a visita de um bom private banker ou de um grande alocador de fortunas, ele provavelmente vai sugerir uma posição em multimercados entre 30% e 40% da sua carteira. Alguns vão além. Chegam a 50%, até 60%.
Eu acho muito. Prefiro algo como 15% a 30%. Embora, como já falado e explicado aqui, eu goste, sim, da classe e a recomende para composição de portfólio, acho excessiva uma concentração muito grande na categoria.
O primeiro ponto é que, normalmente, se atribui um heroísmo excessivo a essa turma. Todos eles (e todos nós também, fique claro) ainda são seres humanos. Os alocadores e também investidores individuais magnificam os heróis e os vilões do momento, pesando a mão neste ou naquele acertador da hora. Os modismos passam, porque não há heróis aqui. Todos são gênios. Isso é um verdadeiro campeonato de Fórmula 1. A competição é brutal. E um pequeno erro, que sempre vai acontecer em ambientes de incerteza e aleatoriedade, pode custar bons pontos percentuais de retorno, ferindo track records de alguns anos. O mercado é mais difícil do que parece. Os gênios também erram.
A segunda questão se refere a tamanho. Noutro dia, estava ouvindo outro gestor brilhante no podcast Stock Pickers. Guilherme Aché, da Squadra, disse algo mais ou menos assim: “Há um 'sweet spot' para a escolha de fundos. Pegue uma equipe vencedora que está montando uma asset, está muito motivada e ainda não é muito grande”. Tamanho importa. E pode dificultar bem as coisas. Se alguém identificar uma grande oportunidade em small cap para um fundo gigante, possivelmente ele não vai nem conseguir estudar, porque não cabe dentro do fundo. A mera montagem de posição, para um sizing minimamente razoável, esgotaria o upside da respectiva ação.
Muitos desses fundos enormes tiveram que ir lá pra fora, porque não “cabiam” mais no mercado brasileiro. E lá fora é outro jogo. Ser adaptado aqui não significa necessariamente voar no exterior.
Como terceiro elemento, há a questão da perda de visibilidade da sua carteira. Quando você investe num fundo multimercado, você assina um cheque em branco para o gestor. Não sabe onde ele vai alocar seu dinheiro. Pode ser muita Bolsa, muita renda fixa, muito dólar — só ele sabe. Agora, imagine que ele decida concentrar em ações. E você também já está muito investido em ações. Aquilo pode resultar numa sobrealocação em renda variável, arriscada demais. Só um exemplo. Pode servir para qualquer classe de ativos. O multimercado é apenas um veículo, não é o investimento final. Por isso, sempre recomendo também que os FIAs (os fundos de ações) sejam realmente fundos de ações, e não brinquem de ser hedge funds, comprando dólar e NTN-B — quem decide a alocação tem que ser o investidor.
O último ponto é que projeto duas grandes classes muito vencedoras nos próximos anos: equities e alternativos/ilíquidos. Não sei — e este é um “não sei” verdadeiro — se os grandes fundos multimercados têm foco, equipe e estrutura para rivalizar “pau a pau” com os grandes fundos de ações em equities. Claro que podem se atualizar, se reinventar, contratar equipes. Contudo, a origem de boa parte desse pessoal é de juro e câmbio, onde o jogo já não é mais o mesmo. Agora, é sobre a Bolsa. E é duro ensinar truques novos a cães velhos. Alternativos, por sua vez, é um outro bicho.
3 — Uma lição pedagógica e de humildade, na prática
Há uma coisa muito boa da abertura do Verde para o varejo: ela será pedagógica, uma aula de educação financeira, na prática e do único jeito possível.
O Verde, como qualquer outro multimercado de excelência, se for muito bem nos próximos anos, dado o cenário de juros negativos e de Selic ainda abaixo de 5% ao ano, vai dar, sei lá, 10-15% ao ano.
Então, o nosso melhor fundo, o mitológico Verde, vai ensinar às pessoas o quanto é difícil ganhar dinheiro no mercado. Talvez hoje muitos investidores, órfãos do CDI, sedentos por retornos e “ensinados” pelos seus youtubers favoritos, pensem que 10% ao ano é algo desprezível, não mexe o ponteiro. Mas a verdade é que dar 10% ao ano hoje é uma vitória. Ela vai ser mostrada a partir do nosso grande ídolo.
Acima de tudo, será uma lição de humildade, para todos nós. E isso é ótimo.
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal
Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano
Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.
Rodolfo Amstalden: If you’re old, sell & hold
Em meio à fartura de indicadores de atividade e inflação sugerindo bons sinais vitais, desponta um certo estranhamento no fato de que Warren Buffett parece estar se preparando para tempos piores à frente
Felipe Miranda: O Fim do Brasil não é o fim da História – e isso é uma má notícia
Ao pensar sobre nosso país, tenho a sensação de que caminhamos para trás. Feitos 10 anos do Fim do Brasil, não aprendemos nada com os erros do passado