Como o ‘Uber chinês’ realizou o IPO mais comentado de 2021
O Didi conseguiu levantar mais recursos do que pretendia inicialmente em menos tempo de conversas com os investidores
Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Nos mercados internacionais, não se falou em outra coisa essa semana, a não ser no tão esperado IPO do Didi, o "Uber chinês".
Jim Cramer, o guru de Wall Street, foi enfático: "Eu tentaria tomar quantas ações você puder".
Não é para menos…
Diferente dos tradicionais 8 dias de conversas com investidores, o roadshow do Didi durou apenas 3 dias.
Os US$ 4 bilhões que seriam levantados inicialmente transformaram-se em US$ 4,4 bilhões, graças à alta demanda dos investidores.
Leia Também
A polarização do mercado financeiro, criptomoedas fecham semana no vermelho e outros destaques
Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?
E os US$ 60 bilhões em valor mercado especulados transformaram-se em US$ 67 bilhões antes do início das negociações.
Com tanto hype em torno de uma das maiores empresas de tecnologia da China, você deveria estar se perguntando:
Eu deveria investir no Didi? Se sim, como?
Bora responder essas perguntas.
Uber na China, um estudo caso para futuros MBAs
Você provavelmente se lembra do auge da competição dos aplicativos de ride-sharing no Brasil.
Uber, 99taxi, Easytaxi e aquela quantidade infinita de cupons de desconto chegando por SMS, push no aplicativo, e-mail e tudo mais.
Essa febre duraria anos, sendo substituída apenas por uma corrida ainda mais insana: a dos cashbacks com iFood, Rappi, PicPay e outros…
Mas não nos dispersemos.
A batalha para se tornar o gigante do ride-sharing se desenrolou em praticamente todos os países desenvolvidos e emergentes.
Como presença onipotente, o Uber esteve em todas as batalhas, com graus de sucesso bastante distintos.
A China é um excelente exemplo.
Durante anos, o Uber queimou um montante próximo a US$ 2 bilhões na China, financiando corridas abaixo do preço de custo e criando incentivos perversos que nutriram fraudes das mais criativas.
Num determinado momento, motoristas do Uber na China começaram a adulterar suas fotos para que elas tivessem aparência de fantasmas (os "ghost drivers").
Com um negócio medonho desse, muitos passageiros cancelavam suas corridas por medo de que alguma coisa meio bizarra pudesse acontecer.
Quando os pedidos eram cancelados nessas circunstâncias, os motoristas recebiam alguns trocados imediatamente do Uber.
Assim como muitas outras empresas ocidentais que falharam na China, o Uber acabou vendendo sua operação para uma empresa local. No caso, o Didi.
A operação ocorreu numa troca de ações, em que o Uber ficou com 12,8% do Didi, uma fatia avaliada hoje em mais de US$ 9 bilhões.
Pois é, um erro de US$ 2 bilhões que se transformou num baita investimento.
Didi, ou Xiaoju Kuaizhi para os íntimos
O Didi somou 141 bilhões de renminbis em receitas ao final de 2020. Isso é o mesmo que cerca de US$ 21,6 bilhões.
Mais de 90% da sua receita é originada na China, sob uma base de 493 milhões de usuários ativos em 12 meses, mais de 15 milhões de motoristas e cerca de 41 milhões de transações diárias.
Apenas para dar uma noção de escala, o Brasil tem cerca de 214 milhões de habitantes.
Além disso, o Didi tem presença em 15 países, entre eles o nosso. Em 2018, os chineses adquiriram 100% da operação da 99taxi.
Como boa parte das empresas de tecnologia, o Didi dá prejuízo, cerca de US$ 1,6 bilhão em 2020.
Dito tudo isso, vale acrescentar: não é exatamente na operação de ride-sharing do Didi que os investidores estão de olho.
O gigante dos carros elétricos
De acordo com o WSJ, um carro usado nos EUA sai numa média de US$ 25,5 mil. Isso dá cerca de 40% do PIB per capita americano (o "PIB por habitante").
Como comparação, um carro usado na China sai numa média de US$ 10 mil. Muito mais barato em termos absolutos, mas com um "porém".
Esses US$ 10 mil são equivalentes a cerca de 100% do PIB per capita chinês.
Na prática, em termos comparativos, é muito mais caro para um chinês de classe média deter um carro, do que para um americano.
Uma das principais avenidas de crescimento do Didi tem sido financiar o veículo para seus motoristas, através de contratos de leasing.
A frota do Didi é de mais de 600 mil veículos.
Mas você lembra da escala, certo?
Ao invés de anunciar carros de terceiros, o Didi fez parcerias com indústrias chinesas para produzir carros elétricos com uma marca própria.
Hoje, o Didi é responsável por 38% da milhagem de veículos elétricos na China e possui um market share de 30% em postos de recarga. Um dos principais nomes quando o assunto são carros elétricos.
Mas nem tudo são flores
Como todas as empresas chinesas, o investimento em Didi vem acompanhado de uma série de riscos políticos e de governança.
O biênio 2020-21 tem sido particularmente complicado para essas empresas, com diversas investidas do Governo Chinês contra Alibaba, Tencent, Meituan e outros gigantes da tecnologia.
O Didi ainda não está no mesmo patamar desses caras, mas é o famoso "a sua hora vai chegar".
Além disso, o IPO ocorreu nos EUA e não existe (pelo menos por enquanto) o acesso via BDRs.
Para tornar-se um investidor, você precisa utilizar uma corretora estrangeira ou investir passivamente através de algum fundo de investimento.
O que eu sei é que o pessoal da Vitreo, através do fundo Vitreo Tech Asia, está super interessado no caso de investimentos em Didi.
Vale a pena conhecer.
Contato
Se você gostou dessa coluna, continue acompanhando meu trabalho sobre tecnologia e investimentos todos os dias, gratuitamente, através do canal do Tela Azul no Telegram.
O Tela Azul é o podcast que criei junto com meus amigos Vinícius Bazan e André Franco, onde recebemos todas as semanas grandes referências do mundo dos investimentos e da tecnologia, em bate-papos dedicados a te ajudar a investir melhor.
Um grande abraço,
Precisamos falar sobre indicadores antecedentes: Saiba como analisar os índices antes de investir
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais fundos de investimentos estão utilizando esses indicadores em seus modelos — e talvez a correlação esteja caindo
Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge
Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade
Day trade na B3: Oportunidade de lucro de mais de 4% com ações da AES Brasil (AESB3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da AES Brasil (AESB3). Saiba os detalhes
Setembro em tons de vermelho: Confira todas as notícias que pesam nos mercados e impactam seus investimentos hoje
O mês de setembro começa com uma imensa mancha de tinta vermelha sobre a tela das bolsas mundiais, sentindo o peso do Fed, da inflação recorde na zona do euro e do lockdown em Chengdu
A febre dos NFTs passou, mas esta empresa está ganhando dinheiro com eles até hoje
Saiba quem foram os vendedores de pás da corrida do ouro dos NFTs e o que isso nos ensina para as próximas ondas especulativas
Balanço de agosto, o Orçamento de 2023 e outros destaques do dia
A alta de 6,16% do Ibovespa em agosto afastou o rótulo de “mês do desgosto”, mas ainda assim deixou um sabor amargo na boca. Isso porque depois de disparar mais de 10% ainda na primeira quinzena, impulsionado pela volta do forte fluxo de capital estrangeiro, as últimas duas semanas foram comandadas pela cautela. Uma dupla […]
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 4% com ações da Marcopolo (POMO4); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Marcopolo (POMO4). Saiba mais detalhes
Tente outra vez: basta desejar profundo para ver a bolsa subir? Confira tudo o que mexe com os seus investimentos hoje
Em queda desde a sexta-feira, as bolsas de valores estrangeiras começaram o dia em busca de recuperação singela. Por aqui, investidores procuram justificativas para descolar o Ibovespa de Wall Street
Commodities derrubam Ibovespa, Itaú BBA rebaixa a Petrobras (PETR4) e as mudanças na WEG (WEGE3); confira os destaques do dia
As últimas levas de notícias que chegam de todas as partes do mundo parecem ter jogado os investidores dentro de um labirinto de difícil resolução em que apenas a cautela pode ser utilizada como arma. O emaranhado de corredores a serem percorridos não só são longos, como também parecem estar sempre mudando de posição — […]
Gringos estão de olho no Ibovespa, mas investidor local parece sem apetite pela bolsa brasileira. Qual é a melhor estratégia?
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado
Entenda por que você não deve acompanhar só quem possui teses de investimento iguais às suas
Parte fundamental do estudo de uma ação é entender não só a cabeça de quem tem uma tese que vá em linha com a sua, mas também a de quem pensa o contrário
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 11% com ações da Santos Brasil (STBP3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis da Santos Brasil (STBP3). Saiba os detalhes
Uma pausa para respirar: Confira todas as notícias que movimentam os mercados e impactam seus investimentos hoje
A saída da atual crise inflacionária norte-americana passa necessariamente por algum sacrifício. Hoje, porém, as bolsas fazem uma pausa para respirar
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
Ibovespa se descola da gringa, Itaú entra na disputa das vendas virtuais e a estratégia de Bolsonaro para os debates; confira os destaques do dia
Em Wall Street, o alerta do Federal Reserve de que o aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado penalizou as bolsas lá fora
Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana
Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora
Day trade na B3: Oportunidade de lucro acima de 5% com ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira a recomendação
Identifiquei uma oportunidade de swing trade baseada na análise quant – compra dos papéis do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Veja os detalhes
Mercados, debate presidencial e um resultado inesperado: Confira todas as notícias que mexem com os seus investimentos hoje
Com a percepção de que o Fed optará pelo combate à inflação a todos os custos, os últimos dias de agosto não devem trazer alívio para os mercados financeiros. O Ibovespa ainda repercute o primeiro debate entre presidenciáveis
Por que saber demais pode tornar você um péssimo chefe
Apesar de desenvolvermos uma compreensão mais sofisticada da realidade como adultos, tendemos a cair em armadilhas com muito mais frequência do que gostaríamos de admitir
Wall Street tomba com Powell, os melhores momentos de Lula e Bolsonaro no Jornal Nacional e outros destaques do dia
Desde que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou o início da retirada dos estímulos monetários adotados na pandemia, durante o simpósio de Jackson Hole de 2021, o mercado financeiro global já se viu obrigado inúmeras vezes a recalcular a rota, e todas elas parecem levar a um destino ainda incerto, mas muito […]