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A soma dos fatores e o impacto no produto. Como interpretar os humores do mercado financeiro

Fatores são clusters, tentativas de agrupar empresas/ações com características comuns e que ajudem a explicar sua performance.

14 de março de 2021
6:50 - atualizado às 9:18

Olá, seja bem-vindo ao nosso papo de domingo sobre tecnologia e investimentos.

Nessa semana, fiz uma live junto o João Piccioni, exclusiva para os alunos do MBA da Empiricus. 

Ao longo da nossa conversa, surgiu uma dúvida excelente de um dos alunos do curso, que em resumo, era mais ou menos assim: 

Como interpretar e acompanhar os humores do mercado financeiro? 

A pergunta é tão geral quanto a gama de respostas que eu posso oferecer para ela, mas uma das alternativas possíveis é bem bacana, e conversa bem com nosso objetivo de falar sobre tecnologia e investimentos ao mesmo tempo. 

Falo sobre o investimento em fatores.

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Pitágoras não, James O'Shaughnessy

Ok, eu sei que parafrasear o teorema de Pitágoras no título desta coluna foi uma ideia de merda. 

Mas certamente foi legal lá em meados da década 80, quando o investidor James O'Shaughnessy começou a sistematizar o que hoje conhecemos como fatores. 

Na época, as planilhas estavam longe de serem poderosas como hoje, e não havia grandes bases de dados online para se buscar padrões no mercado financeiro. 

Jim fazia contas na mão, como ele descreve no seu clássico Invest Like the Best. 

Mas enfim, quais e o que são os fatores?

A ideia inicial de Jim era encontrar características comuns em determinadas empresas, que pudessem explicar algum tipo de comportamento coletivo de suas ações na Bolsa. 

O exemplo clássico é a capitalização de mercado. 

Será que existe alguma correlação maior entre as performances de small caps quando comparadas a outras small caps, do que quando comparadas a large caps? 

Respondendo a essa e outras perguntas, Jim e alguns outros pioneiros definiram alguns fatores que acompanhamos até.

Mais tarde, a lógica dos fatores renderia um prêmio Nobel... 

Os matemáticos Eugene Fama e Kenneth French, com seu modelo de três fatores, foram premiados pela conclusão de que, historicamente, ações menores e descontadas frente ao seu book (patrimônio) costumam ter desempenho melhor no médio e no longo prazo.

O famoso modelo Fama-French.

Os fatores e o mercado

Portanto, só confirmando que todos tenham entendido: fatores são clusters, tentativas de agrupar empresas/ações com características comuns e que ajudem a explicar sua performance.

Por exemplo, temos os conhecidos fatores de desempenho: empresas de growth (alto crescimento) e "value" (em referência aos clássicos atributos do value investing). 

Temos fatores de capitalização de mercado: small, mid e large caps. 

Além disso, temos novos fatores sendo padronizados o tempo inteiro: podemos criar um fator chamado "IPO", que compila a performance de empresas que fizeram seu IPO há menos de 12 meses, e estudar seu comportamento. 

Podemos criar fatores como Private Equity (empresas que possuem um fundo que compra participações em empresas entre seus acionistas), buybacks (empresas que recompram muita ação), dividend yield (o retorno com o pagamento aos acionistas dessa empresa a coloca em que quartil de uma distribuição dos maiores pagadores de dividendos?). 

Enfim, o céu é o limite. 

E como os fatores respondem à pergunta inicial desta coluna: como interpretar e acompanhar os humores do mercado financeiro? 

Simples: siga os fatores. 

O que eu quero dizer com isso

No infográfico abaixo, eu compilo o retorno de diferentes índices organizados sob fatores, nos últimos três anos. 

Por exemplo, o retorno médio do fator "small-cap" é dado pelo excesso de retorno do IJR (um ETF de small caps) sobre o S&P 500 (as 500 maiores empresas listadas nos EUA), nos últimos 3 anos. 

O fator "growth" é dado pelo excesso de retorno do IWF (um ETF que compila ações de alto crescimento) sobre o S&P 500 também nos últimos três anos.

Ou seja, numa janela longa, o que o infográfico acima nos mostra é que o clima andou muito bom para as ações de alto crescimento nos últimos anos. 

Perceba como, inclusive, foram anos melhores de empresas de alta capitalização de mercado e crescimento (large-cap growth), do que das companhias de menor capitalização. 

E agora, como estão os mesmos fatores em 2021? 

Dá uma olhada.

Quando eu passo a olhar o retorno dos fatores neste ano, a coisa muda MUITO de figura. 

Os fatores de small caps estão voando! Enquanto isso, o fator "growth", que teve um retorno fantástico nos últimos três anos, está passando por um 2021 tenso.

O mote dos mercados lá fora têm sido exatamente esse, migrar de nomes de alto crescimento (em geral, empresas de tecnologia), para small caps que devem se beneficiar da reabertura da economia. 

Conclusão

Existem várias maneiras de se acompanhar o mercado, e cada investidor acaba encontrando a sua preferida. 

Eu sou fã da abordagem dos fatores. 

Eles estão longe de serem perfeitos, ou de servirem, sozinhos, para que eu tome qualquer decisão de investimentos.

Mas com certeza, eles me servem como um alerta. Uma indicação de onde faz mais sentido que eu empregue meu tempo. 

É como pegar o caderno de um amigo para estudar para a prova, e ter algumas anotações deles já grifadas. 

Com certeza, ajuda.

Contato

Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões. 

Também pode seguir acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan, falamos sobre tecnologia e investimentos.

Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).

Um abraço!

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