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Stone, Inter e Méliuz caem forte na bolsa. É o fim das fintechs como as conhecemos?

Muito desse movimento tem a ver com a subida dos juros. Mas alguns fatores específicos também pesaram sobre as ações. Em alguns casos, pesaram com razão; em outros, nem tanto

17 de outubro de 2021
7:45 - atualizado às 14:34
Homem segura cartão de crédito e celular
As fintechs, como classe, devem continuar sofrendo. Se ainda assim decidir apostar, seja seletivo - Imagem: Shutterstock

Mais uma semana se passou com os pregões judiando das empresas de tecnologia. No domingo passado, fiz um apelo à tese de volta dos bancões. Hoje, analiso se as fintechs ainda têm salvação como investimento.

As ações da Stone (STNE), listada na Nasdaq, caem 44% no semestre, em dólar. As de Inter (BIDI11), listadas (por enquanto) na B3, caem 34% em reais. O papel de Méliuz (CASH3), também disponível na bolsa brasileira, derrete 44% no semestre.

Muito desse movimento com as fintechs, que parece mais setorial do que específico, tem a ver com a subida dos juros. Quanto mais alta a Selic, maior o custo de oportunidade do capital.

Também, menor será o tempo que o investidor está disposto a esperar para observar fluxos de caixa positivos para as empresas de alto crescimento.

Assim, as empresas de tecnologia, que têm seus lucros relevantes projetados somente no futuro, perdem valor.

O peso em cada fintech

Sinto-me obrigada a observar que alguns fatores específicos também pesaram sobre esses papéis. Em alguns casos, pesaram com razão; em outros, nem tanto. Mais do que nunca, é preciso separar o joio do trigo.

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Há alguns meses, em meio à mudança de humor em relação às fintechs, a Stone reportou uma inadimplência maior que a esperada pelo mercado para o segundo trimestre deste ano. Nesse momento, o que já era uma animosidade virou uma conclusão: vender crédito não é tão simples assim.

Controlar a inadimplência com a inflação baixa, juros reais negativos e renda disponível crescente é uma coisa. Quero ver manter os calotes comportados quando o preço de itens básicos para a sobrevivência só faz subir (lembre-se da escalada do petróleo, dos alimentos e observe o valor da sua conta de energia elétrica). Melhor ficar com os bancões, que têm seus exércitos de experiência em modelagem de risco.

Ou, pelo menos, essa parece ter sido a narrativa por trás da queda de Stone, que foi uma das primeiras fintechs a começar a apanhar nesse revés às empresas da nova economia. Como uma investidora que gosta de dormir bem, eu fico com a história dos conservadores.

Em bom francês...

Inter sofre por um motivo parecido: correu um rumor, originado por um popular portal de notícias para o mercado financeiro, de que a instituição prepara provisões extraordinárias para inadimplência na divulgação do 3T21. No dia do rumor, o papel caiu 15%.

O banco logo se apressou em soltar sua prévia operacional do trimestre, em que mostra provisões em linha com o ano passado. Na dúvida, o investidor apenas saiu fora. No dia da divulgação da prévia, o papel caiu 13%. Em bom francês, o mercado cagou e apenas continuou vendendo, na média.

“Investidores conservadores dormem bem”, diz o bordão do Oráculo de Omaha (Warren Buffett para os íntimos). Ao que tudo indica, o mercado tem optado pela qualidade do sono.

Méliuz, por outro lado, sofre por outros motivos. A fintech, que já dava lucro de forma consistente antes do seu IPO, reportou um prejuízo operacional no 2T21 e sinalizou ao mercado que pode continuar sentindo pressão de margem nos próximos trimestres.

Diferentemente de Stone e Inter, esse efeito não vem pela inadimplência, mas, sim, pelos investimentos em gente e em marketing para preparar a companhia para o crescimento.

Essa é uma mensagem que os gestores vinham passando desde a oferta das ações em setembro de 2020, e aconteceu, conforme previsto. Agora, é esperar as equipes se maturarem para que os talentos comecem a gerar resultados.

E o Nubank?

Em meio ao tiroteio – e prestes a fazer o seu IPO – o Nubank relata o seu primeiro lucro líquido da história. É indiscutivelmente positivo que a fintech tenha mostrado a capacidade de rentabilizar sua base de 41 milhões de clientes, com um lucro de R$ 76 milhões no primeiro semestre de 2021, versus R$ 100 milhões negativos no mesmo período do ano passado.

Importante frisar, aqui, que esse número diz respeito somente às operações brasileiras; portanto, não incluem o Nubank México ou Colômbia. Entretanto, é preciso um pouco de cautela com o timing escolhido para essa divulgação: bem pertinho do IPO da empresa.

É bem comum que os gestores “esguelem” a companhia para mostrar um resultado bonito para a foto do IPO. Não estou dizendo que é o caso do Nubank, até porque não temos muita granularidade do que gerou o resultado positivo no semestre. Entretanto, um pouco de olhar crítico é sempre bem-vindo – lembre-se do bordão do Oráculo.

Vivemos um momento de aversão a risco. As fintechs, como classe, devem continuar sofrendo. Entretanto, se ainda assim decidir apostar, seja seletivo. Investidores conservadores dormem bem.

Um abraço,

Larissa

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