Por que as ações de bancos digitais, empresas de cartões e fintechs caíram até 10% hoje?
Mudança em regra para tarifa de cartões pré-pagos e menor otimismo com fintechs pesam sobre os papéis das empresas; saiba mais
A bolsa brasileira bem que tentou se sustentar em alta, mas a queda generalizada das ações de bancos, fintechs e empresas de meios de pagamento e cartões acabou levando o Ibovespa para o campo negativo no pregão desta segunda-feira.
As ações do Inter (BIDI4 e BIDI11) lideraram as baixas do principal índice da B3, com uma queda da ordem de 10%.
Os papéis do banco digital já vinham de um período de forte volatilidade. Mas hoje o movimento de queda foi acompanhado por quase todas as ações do setor financeiro, como você confere a seguir:
- Banco Pan (BPAN4): -8,07%
- BTG Pactual (BPAC11): -5,67%
- Cielo (CIEL3): -4,55%
- B3 (B3SA3): -3,12%
O movimento no setor financeiro também se reflete nas ações de empresas brasileiras listadas em Nova York, como PagSeguro, Stone e XP — todas com queda expressiva. Mas, afinal, quais as razões para a derrocada?
Surpresa na sexta à noite
Uma mudança na regra colocada em consulta pública na sexta-feira à noite pelo Banco Central ajuda a explicar uma parte do mau humor com as ações do setor hoje.
O BC propôs o limite máximo de 0,5% para a tarifa de intercâmbio nas transações com cartões pré-pagos, na linha da restrição que já existe para os cartões de débito.
A proposta também proíbe que os emissores de cartões adotem prazos diferentes para que os lojistas recebam os recursos em compras realizadas pelos dois tipos de pagamento.
“A proposta em pauta tem o objetivo de harmonizar regras, custos e procedimentos associados a instrumentos de pagamento que apresentam grande similaridade sob o ponto de vista do funcionamento do serviço de pagamento prestado”, justificou o BC.
Embora seja potencialmente negativa para o setor (mas boa para o comércio), a limitação tem um efeito mais danoso apenas sobre a PagSeguro, segundo um gestor de fundos.
Não por acaso, a ação da empresa (PAGS) despenca mais de 10% na bolsa de Nova York. Já o BDR negociado aqui na B3 despenca 17,24%.
Juro em alta - fintechs em queda
Outra interpretação para o mau humor do mercado com as ações das novas empresas financeiras tem relação com o movimento de alta de juros já em curso no Brasil e da subida das taxas dos Treasuries, os títulos do tesouro norte-americano.
A avaliação é que juros em alta podem reduzir a velocidade do chamado "financial deepening", ou seja, a migração dos investidores para produtos com foco em maior retorno e risco fora da prateleira dos grandes bancos. Nesse caso, perdem instituições como XP, BTG Pactual, Inter e Banco Pan.
A tendência de desaceleração, caso se confirme, também afeta a B3, dona da bolsa brasileira, que vem se beneficiando do aumento no número de investidores em ações.
A arena de competição entre bancos e fintechs também parece passar por um ponto de inflexão. Um levantamento feito pelo Bank of America aponta que o gás para que as fintechs sigam avançando na disputa pode estar diminuindo.
Em setembro, as empresas de tecnologia financeira registraram a primeira redução no número mensal de usuários ativos desde janeiro de 2015, com queda de 1,08% na comparação com agosto.
Outro profissional do mercado com quem eu conversei destacou que o BC se prepara para harmonizar as regras entre grandes bancos e fintechs, em especial aquelas que cresceram e se tornaram relevantes do ponto de vista sistêmico.
Todos esses argumentos podem ser verdadeiros, mas vale destacar que as ações dos grandes bancos, como Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) também fecharam em queda nesta segunda-feira, ainda que com uma intensidade menor.
Para quem acredita que as fintechs seguem favoritas na briga para roubar um espaço dos bancões, a queda recente pode ter aberto uma boa oportunidade de compra.
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