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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Sinal de cautela na bolsa

No mundo dos IPOs, o fracasso da Environmental ESG acende uma luz de alerta — e aumenta o nervosismo do mercado

A abertura de capital da Enviornmental ESG, da Ambipar, era tida como certa — e seu cancelamento mostra que os IPOs estão sob pressão

Victor Aguiar
Victor Aguiar
8 de outubro de 2021
16:07 - atualizado às 13:33
Montagem com um semáforo na luz amarela e a palavra "IPO" escrita nas três cores; ideia de dificuldade para as estreantes na bolsa e que fizeram seus IPOs desde 2020
Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock/ako photography

Os últimos anos foram marcados por um volume intenso de IPOs no Brasil: 70 empresas estrearam na bolsa desde o começo de 2020; é quase uma abertura de capital a cada 10 dias. No entanto, se é verdade que o número de estreantes na B3 aumentou, também é verdade que o total de companhias que ficaram pelo caminho tem crescido rapidamente — e o insucesso da Environmental ESG mostra que o caminho está cada vez mais difícil.

Afinal, estamos falando de uma companhia que, aparentemente, conseguiria emplacar seu IPO sem dificuldades. A ESG é subsidiária da Ambipar (AMBP3) — que, por sua vez, fez uma das aberturas de capital de maior sucesso de 2020 e viu suas ações mais que dobrarem de valor de lá para cá. O respaldo passado pela controladora, somado à tese de investimento numa empresa de soluções ambientais, pareciam suficientes para garantir a abertura de capital.

Pois apenas pareciam: na noite passada, para a surpresa de grande parte do mercado, a Environmental ESG suspendeu sua oferta inicial de ações, citando a "deterioração das condições do mercado" — os papéis estavam em fase de precificação e, teoricamente, estreariam na B3 no próximo dia 11.

Com isso, a subsidiária da Ambipar engrossa uma lista nada glamourosa: a de empresas que cancelaram, interromperam ou suspenderam seus processos de IPO. Segundo a CVM, 55 companhias desistiram dos planos apenas nesse ano; o número é maior que as 44 de aberturas de capital em 2021.

Isso não quer dizer que a empresa não irá mais para a bolsa: é possível que a ESG opte pelo caminho da oferta restrita de ações, uma modalidade em que apenas investidores profissionais — aqueles com mais de R$ 10 milhões em aplicações financeiras — participam do processo.

Ainda assim, o insucesso da subsidiária da Ambipar acendeu uma luz de alerta: mesmo os cases que, à primeira vista, parecem sólidos, estão esbarrando nas condições adversas do mercado.

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IPOs: sucessos e fracassos

A lista de desistências da CVM leva em conta as empresas que não tiveram sucesso com os processos de abertura de capital via Instrução 400, que é a norma que regulariza os IPOs destinados ao investidor amplo. Ao fracassar nessa via, algumas companhias optam pela Instrução 476, que é justamente a oferta restrita de ações citada acima.

Dito isso, das 55 empresas que falharam no IPO comum, sete conseguiram emplacar ofertas restritas e estrearam na bolsa: Agrogalaxy (AGXY3), Vittia Fertilizantes (VITT3), Infracommerce (IFCM3), Dotz (DOTZ3), 3Tentos (TTEN3), Livetech/WDC Networks (LVTC3) e Kora Saúde (KRSA3). Portanto, restam 48 companhias.

Dessas, há ainda três casos que não deram sequência ao IPO, mas que valem uma citação à parte:

Assim, chegamos ao número de 45 empresas cujos pedidos de IPO não deram certo. A lista, no entanto, pode aumentar: outras 30 companhias estão com os processos de abertura de capital em análise na CVM — incluindo a ESG e a Bluefit, que recentemente também suspendeu sua oferta de ações via Instrução 400.

Novamente, vale ressaltar que as empresas que optaram por cancelar ou interromper seus processos de IPO via Instrução 400 podem, eventualmente, chegar à bolsa — seja via oferta restrita ou através de um novo processo de oferta ampla. Mas a extensão dessa lista e os nomes que fazem parte dela, com pesos pesado como as varejistas Kalunga e Tok&Stok, passa a sensação de que o mercado não está tão receptivo quanto se imagina.

IPOs cancelados
Canopus HoldingBBM LogísticaEMCCampFarmácia NisseiGranbio Investimentos
Açu PetróleoNortisOceana OffshoreEZ IncGrupo MPR
Estok Comércio (Tok&Stok)PaschoalottoKallasYunyCFL
UrbaW2W (Wine)KalungaAgrogalaxy*Grupo Fatura
Uni.Co**OleoplanCTCVittia Fertilizantes*Casa & Vídeo
Privalia BrasilTegraInfracommerce*BIG Brasil**Método Engenharia
CM HospitalarDotz*LibrelatoGrupo AvenidaRio Alto
Grupo CortelGuararapes Painéis3Tentos*UbookIguá Saneamento
Nadir FigueiredoLG InformáticaEntalpia ParticipaçõesHospital Care CaledôniaLaboratório Teuto Brasileiro
Livetech*Kora Saúde*BionexoCDF Assistência DigitalRio Energy
Athena SaúdeNatural da Terra**Nova HarmoniaSão Salvador AlimentosRio Branco Alimentos
*Prosseguiram com uma oferta restrita de ações (Instrução CVM 476) **Foram compradas e, por isso, cancelaram o IPO

Environmental ESG e a janela que se fecha

No mercado, a percepção é a de que a recente turbulência vista na bolsa tem dificultado a vida de quem planeja fazer um IPO: a alta de juros, as instabilidades político-econômicas e as projeções menores de crescimento para 2022 fazem com que os potenciais investidores fiquem cada vez mais hesitantes em colocar dinheiro numa abertura de capital.

"Lá atrás, o mercado aproveitou o excesso de liquidez para engatilhar todas as ofertas que estavam estacionadas. Mas, hoje, o cenário é diferente", diz um gestor de uma asset paulista que pediu para não ser identificado. "Os players locais, os fundos locais, todos estão com o pé no breque".

O panorama macroeconômico, de fato, não é dos mais favoráveis: a inflação bastante elevada no país força uma perspectiva de juros cada vez mais altos — o que, por sua vez, provoca um salto no custo de capital e puxa para baixo a precificação das novas ações, afetando o valor de mercado das potenciais novatas.

A própria queda generalizada da bolsa nos últimos meses acaba afetando os IPOs de maneira indireta. Fundos multimercado, por exemplo, acabam diminuindo a exposição às ações e partindo para a renda fixa, de modo a evitar perdas e aproveitar os rendimentos maiores dos títulos ligados aos juros. O Ibovespa, vale lembrar, acumula baixa de 5% desde o começo do ano.

"Há ainda um outro ponto: hoje, a gente não tem capacidade de análise para dar conta de toda essa safra de IPOs", diz o gestor, ponderando que, atualmente, há cerca de 50 empresas fazendo sondagens no mercado para uma possível abertura de capital. "Isso quer dizer que estamos negativos para os IPOs que estão vindo? Não. Mas, hoje, as casas estão muito mais seletivas".

IPOs: quem sobe e quem cai?

Das 44 empresas que abriram o capital em 2021, apenas 16 apresentam desempenho positivo — ou 36% do total. Dessas, apenas oito têm retornos superiores a 20% desde o IPO. O destaque é o Grupo Vamos (VAMO3), cujas ações sobem mais de 130% e já passaram por um desdobramento.

É possível que essa lista aumente nos próximos dias: se nada der errado, a Comerc Energia deve precificar hoje sua oferta de ações — e caso ela seja bem sucedida nesse processo, seus papéis devem estrear na B3 no próximo dia 13.

Lista com o desempenho das empresas que fizeram IPO em 2021

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