Evergrande injeta temor no mercado global e bolsas têm dia de fortes perdas; Ibovespa fecha no menor nível desde novembro
Temor de que os problemas da incorporadora chinesa gerem uma reação em cadeia no mercado global afundou as bolsas nesta segunda-feira (20)
Se tem um roteiro que o mercado financeiro não quer ver se repetindo, é o de uma crise financeira desencadeada pela quebra de uma grande empresa, como foi o caso da falência do banco Lehman Brothers em 2008, que marcou o início da grave crise dos subprime. Nem mesmo em uma escala menor, como é o caso da história que vem sendo trilhada pela incorporadora chinesa Evergrande.
Os investidores duvidam que o possível calote de US$ 300 bilhões da companhia gere um efeito tão poderoso quanto o da crise financeira de 2008. Mas, caso ele ocorra, a segunda maior economia do mundo deve sofrer, contaminando todos os demais mercados do mundo, principalmente os emergentes, como o Brasil.
Os problemas financeiros e de liquidez da segunda maior incorporadora da China - e um dos maiores conglomerados empresariais do mundo - são apenas a cereja no bolo de um cenário já repleto de incertezas.
Tanto o gigante asiático quanto os Estados Unidos já vinham mostrando sinais de desaceleração, e ainda não se sabe qual será o impacto que a variante delta do coronavírus causará.
Os investidores estão atentos aos sinais de que a Evergrande possa ser salva pelo governo chinês, grande fomentador do mercado imobiliário. Caso isso não ocorra, podemos ver um arrefecimento do setor de construção chinês, reduzindo a demanda por commodities, como o minério de ferro, matéria-prima para a fabricação do aço.
Já um eventual calote bilionário pode afetar bancos, seguradoras, pessoas físicas, fornecedores, prestadores de serviço e grandes fundos globais.
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O petróleo teve um dia de queda, mas o minério de ferro foi além e recuou mais de 8% no porto de Qingdao, fechando abaixo dos US$ 100 pela primeira vez em mais de um ano. Além das incertezas em torno da Evergrande, o governo chinês intervém na produção de aço para segurar o preço da commodity, que já chegou a ultrapassar a casa dos US$ 230 por tonelada.
As nossas questões políticas internas não tiveram grandes avanços, apesar de os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, terem marcado uma reunião nesta noite para discutir outra dívida que tira o sono do mercado financeiro local — os mais de R$ 89 bilhões em precatórios que estão no orçamento de 2022.
Acompanhando o mau humor global, o Ibovespa chegou a recuar mais de 3,5% nesta segunda, mas conseguiu segurar o ímpeto de queda nos minutos finais do pregão, fechando com um recuo de 2,33%, aos 108.843 pontos, menor nível de fechamento desde novembro de 2020. Nos Estados Unidos, as bolsas encerraram o dia em queda superior a 1,7%. Com a maior procura por ativos de segurança, o dólar à vista teve alta de 0,93%, a R$ 5,3312.
Enquanto bolsa e câmbio ficaram pressionados, o mercado de juros teve um dia de alívio. Parte dele se justifica pelo ‘efeito Evergrande’, afinal, uma queda nos preços das commodities pode aliviar nossos índices de inflação, mas também tivemos o fator Copom nesta conta.
Na próxima quarta-feira é dia de dobradinha, com definição de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, e o presidente do Banco Central brasileiro já indicou que deve seguir o roteiro já definido na última reunião, com uma alta de um ponto percentual na taxa básica de juros.
Assim, mesmo com o relatório Focus desta segunda-feira voltando a mostrar deterioração no cenário para Selic e inflação, os juros futuros seguem devolvendo os prêmios embutidos nas últimas semanas, durante o auge da crise política. Confira o fechamento dos principais contratos de DIs:
- Janeiro de 2022: de 7,09% para 7,08%.
- Janeiro de 2023: de 9,13% para 9,00%
- Janeiro de 2025: de 10,29% para 10,14%
- Janeiro de 2027: de 10,75% para 10,55%
O principal destaque do noticiário corporativo ficou com a Copel. A companhia conseguiu se desvencilhar do dia negativo na bolsa e fechou em alta de mais de 5% após anunciar dividendos bilionários. Confira outros destaques:
- Depois de queda de 50%, analistas enxergam potencial para a ação da Marcopolo (POMO4);
- E o IRB Brasil voltou a ter um CEO efetivo após seis meses. O novo comandante tem a missão de resgatar a credibilidade da companhia com o mercado.
O incerto ‘efeito Evergrande’
Segunda maior incorporadora da China, paira sobre a Evergrande o risco de calote de mais de US$ 300 bilhões em dívidas. Com grandes credores já fazendo provisões para o caso de não cumprimento dos pagamentos e outros estendendo o prazo de vencimento, o mercado aguarda agora para ver se o governo chinês irá atuar para evitar um fim trágico para a companhia.
Caso a Evergrande quebre, o impacto na economia chinesa - e consequentemente na economia global - seria imenso, em um efeito semelhante ao que foi visto na crise do subprime, em 2008, ainda que não com a mesma força.
A situação da incorporadora pressiona o mercado de ações e também o de commodities, já que os impactos da Evergrande na economia chinesa podem levar a uma desaceleração ainda mais severa, reduzindo a demanda por commodities. Como a China é um dos principais países consumidores, nações emergentes como o Brasil se veriam em uma situação complicada.
Vale lembrar que no caso do minério de ferro, as cotações são pressionadas pelas intervenções estatais chinesas na produção de aço, em uma tentativa de segurar os preços após a disparada do último ano. Com novo tombo brusco de mais de 8%, a Vale e as siderúrgicas voltaram a apresentar fortes perdas, pressionando ainda mais o Ibovespa.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
CSNA3 | CSN ON | R$ 28,21 | -5,34% |
BRAP4 | Bradespar PN | R$ 56,10 | -5,30% |
USIM5 | Usiminas PNA | R$ 13,28 | -4,60% |
VALE3 | Vale ON | R$ 81,93 | -4,90% |
GOAU4 | Metalúrgica Gerdau PN | R$ 10,94 | -4,70% |
Super-quarta
No que diz respeito ao encontro do Fomc, o mercado espera mais uma vez por sinais de quando o início do processo de redução de compras de ativos começará, já que os últimos dados divulgados da economia americana mostram um crescimento desigual e até mesmo sinais de desaceleração.
No Brasil, ainda há dúvidas se o Banco Central deve seguir a trajetória de elevação da taxa de juros já planejada ou se haverá mudanças após os números mais salgados de inflação das últimas semanas. A curva de juros, no entanto, segue devolvendo o prêmio acumulado, principalmente após o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ter declarado que o Copom não deve alterar a sua trajetória de voo a cada novo dado divulgado.
Sobe e desce do Ibovespa
Com o clima de cautela generalizada, poucas ações escaparam do vermelho nesta segunda-feira. Confira as maiores altas do índice:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
CPLE6 | Copel PN | R$ 6,99 | 5,43% |
SBSP3 | Sabesp ON | R$ 35,80 | 1,50% |
IGTA3 | Iguatemi ON | R$ 32,42 | 0,97% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 20,60 | 0,88% |
ENGI11 | Engie units | R$ 43,32 | 0,37% |
Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 58,49 | -11,39% |
VIIA3 | Via ON | R$ 7,88 | -6,86% |
CASH3 | Meliuz ON | R$ 6,69 | -5,91% |
CIEL3 | Cielo ON | R$ 2,32 | -5,69% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 18,93 | -5,68% |
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