Ibovespa supera cautela com questões domésticas e quase zera perdas do dia; dólar avança
O mercado segue digerindo a segunda fase da reforma tributária proposta pelo governo, mas também precisa lidar com outros focos de cautela – local e no exterior.
Pelo segundo dia consecutivo, o Ibovespa conseguiu evitar um desfecho muito pior do que o desenhado ao longo do dia, em uma verdadeira montanha-russa de emoções. A força não foi suficiente para encerrar no azul, mas foi quase. Mesmo com pressões vindas de todos os lados — principalmente de Brasília —, o principal índice da bolsa brasileira encerrou a sessão praticamente estável, com uma leve queda de 0,08%, aos 127.327 pontos.
Os novos recordes do S&P 500 e do Nasdaq deram uma ajudinha. Depois de passar a maior parte do dia oscilando entre leves perdas e ganhos, os índices americanos fecharam em alta. O Dow Jones avançou 0,03%, o Nasdaq subiu 0,19% e o S&P 500 teve alta de 0,03%. As ações do setor de commodities também fizeram sua parte, com Vale, siderúrgicas e Petrobras apagando parte das perdas provocadas pelo setor bancário.
Um combo de crises pressionou o Ibovespa ao longo de todo o dia e promete seguir ditando o ritmo dos negócios. A crise sanitária promete um novo capítulo com o avanço da variante delta em diversos países do mundo, a crise política ganha força com os desdobramentos da CPI da covid em Brasília e a crise hídrica eleva o preço da tarifa de energia, o que pode gerar um impacto ainda maior no índice oficial de inflação.
Além disso, temos também a repercussão da proposta de reforma tributária entregue pela equipe econômica na última sexta-feira e que não agradou ao mercado. Com tantos fatores pesando contra, o índice chegou a recuar 0,98% na mínima do dia, quase perdendo o nível dos 126 mil pontos. O dólar à vista, que na máxima encostou nos R$ 4,97, também aliviou a pressão ao longo do dia e fechou a sessão cotado a R$ 4,9419, um avanço de 0,28%.
Para Marcio Lórega, analista de investimentos do Pagbank, o que tem segurado um pouco os receios locais - e seu reflexo na bolsa - tem sido a forte entrada de recursos estrangeiros, com o investidor gringo buscando oportunidades, principalmente nos setores que ainda não performaram tudo aquilo que poderiam e devem se beneficiar da retomada econômica.
Pausa no otimismo
As bolsas europeias e americanas conseguiram registrar ganhos nesta terça-feira (29), mas os negócios seguem envoltos de tensão com relação ao coronavírus. Em um momento em que a economia mundial ainda tenta se firmar em uma trajetória mais robusta de recuperação, a variante delta - mais transmissível e letal que a cepa original da covid-19 - ameaça "estragar" o verão europeu e levanta dúvidas sobre a eficácia das medidas adotadas até aqui.
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Sabendo o que a instauração de novas medidas de isolamento social pode provocar, Portugal, Espanha e Hong Kong restringiram a visita de britânicos, e outros países da União Europeia também estudam fazer o mesmo. Enquanto os programas de vacinação ainda caminham, os investidores adotam uma postura mais cautelosa, avaliando os riscos.
A Moderna, fabricante de uma das vacinas em circulação pelo mundo, trouxe boas notícias durante a tarde, o que apaziguou parte da tensão. Segundo a farmacêutica, a sua vacina contra o coronavírus se mostrou eficaz contra a variante delta em testes realizados em laboratório.
De pernas pro ar
A variante delta é uma preocupação também no Brasil, onde a campanha de imunização anda a passos mais lentos do que no exterior, mas é a CPI da covid-19 que rouba a cena quando o assunto é pandemia por aqui.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou a notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro por prevaricação à Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Planalto estuda formas de blindar o presidente no caso, gerando desgaste político que aumenta a cautela dos investidores.
Segundo informações do serviço de tempo real do Estadão, Broadcast, o governo federal deve suspender ainda hoje a compra das vacinas Covaxin, após as denúncias de corrupção na aquisição das doses.
A equipe econômica também está no olho do furacão e vem tentando domar o leão. A proposta de reforma tributária continua agitando o mercado e promete seguir como pauta principal nos próximos meses. Os analistas seguem fazendo as contas do que a mudança na tributação das empresas e o fim da isenção para dividendos deve significar.
Mesmo que o texto signifique apenas um pontapé inicial, a recepção tem sido negativa e impõe ainda mais cautela aos negócios, principalmente naqueles setores que mais devem sofrer com as mudanças propostas. Por isso, cada novo comentário pesa.
Comentários do ministro da Economia, Paulo Guedes, feitos hoje mostram que o governo está disposto a tentar encontrar uma saída amigável com o mercado. Guedes falou sobre a possibilidade de realizar a mudança no IRPF já em 2022, em reduzir em 5% o imposto para empresas e diminuir também a alíquota para a tributação de dividendos, inicialmente na casa dos 20% e que, segundo o ministro, pode ficar na faixa dos 15%.
Salgando a conta de luz
A crise hídrica que o país enfrenta, após a pior seca em mais de 90 anos, traz de volta ao palco principal o temor com uma aceleração da inflação.
Ontem, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um pronunciamento pedindo que a população economize água e energia elétrica. Hoje, a Aneel anunciou um reajuste de 52% na bandeira vermelha 2, contrariando a área técnica que indica um ajuste superior, que poderia chegar à casa dos 90%, na faixa dos R$ 12 a cada 100 quilowatts-hora consumidos.
Embora o número anunciado hoje tenha agradado os analistas justamente por não se tratar de uma elevação tão drástica, essa não deve ser a decisão final. Hoje, às 20 horas, a Aneel volta a se reunir para discutir a elevação da tarifa de energia.
Uma elevação da tarifa de energia tende a pressionar o IPCA nos próximos meses, mais uma vez colocando uma pulga atrás da orelha do mercado. Afinal, o que fará o Banco Central?
O que ajuda a controlar as expectativas são os dados do IGP-M de junho, que mostraram uma desaceleração mais forte do que o esperado pelo mercado - de 4,10% em maio para 0,60% no último mês. O número trouxe alívio ao mercado de juros futuros. Confira as taxas do dia:
- Janeiro/22: de 5,63% para 5,60%
- Janeiro/23: de 7,01% para 6,96%
- Janeiro/25: de 7,98% para 7,95%
- Janeiro/27: de 8,44% para 8,40%
Sobe e desce
Com tantas preocupações no radar, cada setor acaba agindo e pensando de uma maneira, o que nos leva a observar um intenso movimento de rotação de setores nas carteiras. Pesando de forma negativa no Ibovespa, hoje tivemos as ações do setor bancário recuando de forma expressiva. Do lado positivo, Vale, siderúrgicas e Petrobras ajudaram o índice a evitar uma queda maior.
O melhor desempenho do dia ficou com a Braskem. As ações da companhia avançaram forte após a Novonor (ex-Odebrecht) estender o prazo para o recebimento de propostas para a venda de sua fatia de 38,3% na petroquímica. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 59,00 | 4,80% |
CSNA3 | CSN ON | R$ 44,66 | 4,03% |
BIDI11 | Banco Inter unit | R$ 73,63 | 3,85% |
LWSA3 | Locaweb ON | R$ 27,79 | 2,62% |
BRAP4 | Bradespar PN | R$ 74,61 | 2,61% |
Alguns fatores pesaram contra as empresas administradoras de shoppings centers no pregão de hoje. A primeira é o temor de uma alta de juros mais elevada. A segunda é justamente o impacto da proposta de reforma tributária em empresas de lucro presumido, como é o caso da maior parte das companhias do setor. Segundo Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, as mudanças podem levar a um aumento da alíquota de imposto pago, impactando a receita e os números das companhias. Confira as maiores quedas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
IGTA3 | Iguatemi ON | R$ 39,41 | -3,71% |
BRFS3 | BRF ON | R$ 27,25 | -3,27% |
UGPA3 | Ultrapar ON | R$ 18,57 | -3,23% |
SBSP3 | Sabesp ON | R$ 36,84 | -3,00% |
MULT3 | Multiplan ON | R$ 23,05 | -2,82% |
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