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Jasmine Olga
Jasmine Olga
É repórter do Seu Dinheiro. Formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), já passou pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e o setor de comunicação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
FECHAMENTO

Aceno liberal do governo não convence e bolsa fecha o dia no vermelho; na contramão, dólar cai mais de 3%

Em evento do Credit Suisse, Bolsonaro e Guedes reafirmaram o compromisso com o andamento das reformas e das privatizações, mas o mercado espera ações mais concretas

Jasmine Olga
Jasmine Olga
26 de janeiro de 2021
19:28 - atualizado às 13:35
Auxílio Brasil
O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. - Imagem: Marcos Corrêa/PR

Tão rápida quanto as chuvas de verão que castigam São Paulo todos os dias nessa época do ano foi a duração do entusiasmo do mercado com as falas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que reforçaram o compromisso do governo com o teto de gastos, com a agenda de reformas e as privatizações. 

Em evento do Credit Suisse, o presidente sinalizou que pretende acelerar leilões de concessões e privatizações, com uma agilização do calendário em 2021. Bolsonaro também reforçou o seu compromisso com o teto de gastos ao dizer que não irá permitir que "medidas temporárias relacionadas com a crise se tornem compromissos permanentes".

Já o ministro da Economia afirmou que as reformas devem andar assim que o governo conseguir achar o seu "eixo político", acusando Maia de obstruir a votação dos projetos e com esperanças de que a eleição para o comando da Câmara e do Senado, que acontecem na semana que vem, destrave as pautas. A fala do ministro também abriu possibilidades de estímulos, mas desde que estes estejam dentro do orçamento. 

Somado a um exterior majoritariamente positivo, o principal índice da bolsa brasileira chegou a avançar 1,52%, aos 119.167 pontos, mas não foi possível manter o ímpeto e logo passou a operar com grande instabilidade. Ainda que o cenário externo também tenha recuado um pouco, o desempenho do Ibovespa teve uma reação muito mais forte e esteve mais ligado a um “desencanto” do mercado com Paulo Guedes, o governo e a agenda liberal (que não anda). 

Palavras ao vento?

Enquanto o ministro (e em alguns momentos o presidente) segue falando em recuperação em “V”, andamento de reformas, perspectivas de privatizações e compromisso com o teto fiscal, o mercado segue vendo nessas falas apenas palavras vazias.

Após a euforia inicial, uma espécie de “só acredito vendo” se abateu sobre o mercado. Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, é uma dos diversos especialistas com quem conversei e que me disseram algo semelhante. "No fundo os investidores sabem que são palavras e que provavelmente teremos esse primeiro semestre empacado igual ao anterior, com discussões de como enfiar o auxílio emergencial no orçamento", conta. 

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Marcio Lórega, analista da Ativa Investimentos, comenta que o mercado financeiro quer “mais concretização”. “Os investidores estão pedindo um pouco de credibilidade com relação ao governo e que suas atitudes sejam condizentes com o que falam, para que as coisas caminhem com o potencial que tem”, destaca. 

As idas e vindas do governo com relação a uma pauta mais liberal são inúmeras. É só lembrar que poucos meses atrás o ministro prometia "quatro grandes privatizações em 90 dias” e o andamento das reformas administrativas e tributária, importantes para um momento de saúde fiscal frágil. 

Ontem mesmo o governo teve outra baixa importante em sua ala liberal. Depois de alguns acenos contra a privatização da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior renunciou à presidência.

No fim do dia, a cautela prevaleceu. A leitura segue sendo de que uma piora da pandemia (no Brasil e no mundo) exigirá mais recursos de auxílio e de que as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, que acontecem na próxima semana, serão determinantes para definir o futuro fiscal do país nos próximos dois anos. 

Com todas as incertezas pesando contra, o Ibovespa fechou o dia em queda de 0,78%, aos 116.464,06 pontos. 

Adiantando os planos

Outro fator que mexeu com a bolsa, mas que afetou de forma ainda mais significativa o dólar, foi a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O tom mais “hawkish” da ata abriu espaço para que uma alta de juros ocorra antes do que vinha sendo precificado pelo mercado. Após a divulgação do documento, diversas instituições já passaram a projetar uma alta na taxa básica já na próxima reunião, em março, e não mais em junho, como vinha sendo. 

No documento, alguns membros do Copom sugeriram o fim do termo "extraordinário" para designar os estímulos, sinalizando um processo de normalização. A instituição também alertou para os possíveis impactos da segunda onda da pandemia do coronavírus na atividade econômica brasileira, com destaque para os efeitos do fim do auxílio emergencial. 

Glauco Legat, da Necton Investimentos, lembra que além de mexer com o dólar, um possível aumento da taxa Selic mexe também com a atratividade da bolsa brasileira perante a renda fixa e se reflete no valuation das empresas. 

O dólar teve mais um dia de descorrelação com a bolsa de valores, comportamento que se intensificou durante toda a crise do coronavírus. A moeda americana, muito influenciada por essa antecipação da alta dos juros e do movimento de alívio visto no exterior, fechou o dia em queda de 3,30%, a R$ 5,3239. Esse foi o maior porcentual de queda da divisa em um único dia desde o dia 2 de junho de 2020. 

Com a sinalização do Copom e a projeção de alta para a Selic, a curva de juros também passou por ajustes significativos. Confira as taxas de fechamento de hoje:

  • Janeiro/2022: de 3,39% para 3,40%
  • Janeiro/2023: de 5,17% para 5,08%
  • Janeiro/2025: de 6,78% para 6,63%
  • Janeiro/2027: de 7,47% para 7,32%

Uma pitada de crise diplomática

No Brasil e no mundo, a situação da pandemia do coronavírus segue pesando. Hoje, no entanto, os investidores receberam com alívio a notícia de que em breve os insumos importados da China devem chegar ao país e permitir a retomada da produção de novas doses da vacina contra a doença — ainda que o número ainda seja insuficiente para uma cobertura efetiva de toda a população.

Lá fora, enquanto as bolsas europeias fecharam majoritariamente em alta, as bolsas americanas fecharam com um viés levemente negativo. Em Wall Street, novas tensões entre Estados Unidos e China falaram mais alto do que os números animadores da temporada de balanços.

A nova secretária do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Gina Raimondo, disse que utilizará todas as ferramentas para proteger os EUA da interferência chinesa que comprometa a segurança nacional com a tecnologia 5G. Depois da declaração, as bolsas perderam força e ficaram próximos da estabilidade.

Outra notícia positiva que no fim do dia acabou tendo menor peso foi a revisão para o crescimento da economia mundial feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo a instituição, a expansão deve ser de 5,5%, ante os 5,2% divulgados anteriormente, mas, para isso, é necessário a continuidade dos programas de vacinação contra a covid-19 em todo o mundo.

"Efeito Wilson"

Enquanto a bolsa esteve fechada para a comemoração do aniversário da cidade de São Paulo, a notícia de que Wilson Ferreira Junior deixaria a presidência da Eletrobras pesou nas negociações dos recibos de ações brasileiras em Nova York, os ADRs.

Uma reação negativa à notícia já era esperada. A expectativa foi confirmada e a Eletrobras liderou as quedas do dia de ponta a ponta do pregão. O economista-chefe da Necton Investimentos destaca que Ferreira Junior é um executivo experiente, com um histórico de superação e boas gestões, tendo feito um ótimo trabalho na Eletrobras. Por isso, enquanto a estatal "sangrava", teve quem se beneficiasse.

Os acionistas da BR Distribuidora comemoraram a chegada do ex-CEO da Eletrobras, que deve assumir um papel importante na sequência de trabalho de desestatização da companhia.

Essa troca de cadeiras dominou as duas pontas do Ibovespa. A BR Distribuidora chegou a subir mais de 16%, enquanto as ações da Eletrobras recuaram cerca de 12% na mínima do dia. Confira as piores quedas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
ELET3Eletrobras ONR$ 27,31 -9,69%
ELET6Eletrobras PNBR$ 28,50 -6,80%
GOAU4Metalúrgica Gerdau PNR$ 10,92 -5,78%
IRBR3IRB ONR$ 6,53 -5,64%
GGBR4Gerdau PNR$  24,05 -5,17%

Confira também as maiores altas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
BRDT3BR Distribuidora ONR$ 22,90 9,57%
RADL3Raia Drogasil ONR$ 25,87 3,31%
HAPV3Hapvida ONR$ 17,90 2,99%
SUZB3Suzano ONR$ 66,20 2,86%
VVAR3Via Varejo ONR$ 14,52 2,33%

Queda de peso

Os setores bancário e de commodities tiveram perdas relevantes no pregão de hoje e ajudaram a puxar para baixo o desempenho do Ibovespa.

As siderúrgicas e mineradoras tiveram um desempenho negativo influenciadas por resultados abaixo do esperado de companhias chinesas, o que pode impactar a demanda por minério de ferro. Falando em minério, o preço da commodity teve um recuo no mercado internacional, o que também pressionou o desempenho das empresas do setor.

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