Ibovespa ignora tensão em Brasília e NY no vermelho e avança 1%; dólar também sobe
Enquanto as blue chips garantiram o bom desempenho do Ibovespa, o dólar avançou 0,84%, pressionado pelo noticiário em Brasília
Não é de hoje que o mercado de ações se encontra um tanto errático e cheio de quebra de expectativas. Esta segunda-feira (12) foi mais um desses dias.
Com as bolsas americanas realizando lucros após as altas recentes e um cenário político conturbado, talvez fosse esperado um movimento negativo também na B3, mas não foi bem isso que aconteceu. O principal índice da bolsa brasileira fechou a sessão na máxima do dia, avançando 0,97%, aos 118.811 pontos. Segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, o mercado buscou em "razões micro" motivos para manter o otimismo.
Bruno Madruga, head de Renda Variável da Monte Bravo Investimentos, ressalta o bom desempenho de alguns setores de grande peso para o índice e que ajudaram o Ibovespa a ir na contramão dos fantasmas. É o caso do setor financeiro - que se recuperou do tombo registrado na semana passada -, e do setor de commodities - com a valorização de Petrobras (1%) e Vale (0,40%), que acompanharam as altas do petróleo e do minério de ferro, respectivamente.
Enquanto a bolsa começou a semana com o pé direito, restou ao dólar e ao mercado de juros a repercussão do cenário político-fiscal, que se deteriorou ainda mais na parte da tarde. É o caso do Orçamento de 2021, cujo desfecho é esperado para essa semana, o descontrole da pandemia e informações de que o governo estuda retirar parte dos gastos com saúde do teto de gastos, abrindo espaço para as emendas parlamentares,
O dólar à vista chegou a abrir o dia em queda, mas a mudança de direção dos juros dos Treasuries, nos Estados Unidos, pesou e a tensão em Brasília aprofundou a alta da divisa, que fechou com um avanço de 0,84%, a R$ 5,7224. Os principais contratos de DI também apresentaram um alívio mais forte durante a manhã, mas reduziram o movimento ao longo da tarde, quase zerando a queda. Confira as taxas de fechamento:
- Janeiro/2022: estável em 4,72%
- Janeiro/2023: estável em 6,55%
- Janeiro/2025: de 8,28% para 8,25%
- Janeiro/2027: de 8,93% para 8,87%
Embolsando lucros
Hoje o Ibovespa não contou com o apoio de Wall Street para subir. Em Nova York, tivemos um dia de sessão majoritariamente negativa após os recordes registrados na semana anterior. O Dow Jones recuou 0,16%, o Nasdaq caiu 0,36% e o S&P 500 teve leve alta de 0,01%. Nos Estados Unidos também existe uma expectativa para a temporada de balanços que começa nesta semana. Por isso, os investidores aproveitam para rever suas posições.
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O dia também foi de avanço do rendimento dos Treasuries, mesmo após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmar durante o fim de semana que não há chances de um aumento de juros ainda este ano.
Na Europa, as principais bolsas fecharam em queda, mesmo com dados melhores do que o esperado das vendas no varejo da zona do euro, acompanhando o sentimento em Nova York
Panela de pressão
Por aqui, Brasília nunca sai de moda, e a tendência deve seguir enquanto questões como o Orçamento de 2021 e a CPI da Covid não forem resolvidas.
O Orçamento para 2021 ainda não foi aprovado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que recebeu a orientação da equipe econômica de Paulo Guedes de vetar alguns pontos do projeto para evitar um possível crime de responsabilidade. Segundo a Broadcast, o presidente chegou a receber orientações para sair do país, deixando a tarefa de sancionar o texto com o presidente da Câmara, Arthur Lira.
O texto aprovado tem sido criticado por destinar uma grande quantidade de recursos para emendas parlamentares e diminuir o total destinado às despesas obrigatórias. Na semana passada, o secretário do Tesouro levantou a hipótese de um shutdown, já que o valor não seria suficiente para manter a máquina pública funcionando.
Durante a tarde, outro ponto passou a pressionar ainda mais o cenário fiscal: a possibilidade de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deixaria de fora do teto de gastos as despesas com saúde durante a pandemia. O financiamento seria feito via crédito extraordinário, sem acionar o estado de calamidade.
Temos também o avanço da “CPI da Covid”, que busca apurar possíveis omissões e irregularidades durante a pandemia, no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) e cuja votação está marcada para esta quarta-feira (12). Bolsonaro disse no final de semana que espera a ampliação das investigações para estados e municípios, para evitar um “relatório sacana” contra o governo federal e sugeriu o impeachment de um ministro do STF.
A CPI visa apurar possíveis omissões e irregularidades durante a pandemia de covid-19 ao longo do ano de 2020. Enquanto isso, o Brasil vive os piores momentos da pandemia, com uma média de mortes acima de três mil por dia e com a vacinação a passos lentos em todo país. Analistas temem que a CPI trave outras questões mais prioritárias, como as reformas e privatizações.
Sobe e desce
Descontadas desde a estreia do seu braço de atacarejo na bolsa, as ações do Grupo Pão de Açúcar ficaram com a principal alta do dia.
As ações da Eneva também se destacaram após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar a venda da participação da companhia na termelétrica São Marcos para a Golar Power. Já os frigoríficos avançaram junto com o dólar. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
PCAR3 | GPA ON | R$ 37,00 | 9,79% |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 46,76 | 7,82% |
BEEF3 | Minerva ON | R$ 11,37 | 5,18% |
ENEV3 | Eneva ON | R$ 18,06 | 4,63% |
JBSS3 | JBS ON | R$ 32,25 | 2,87% |
Já na ponta contrária, as ações da Eletrobras se destacaram em queda, mesmo após a companhia ter sido incluída no Plano Nacional de Desestatização. Segundo o analista técnico da Ativa Investimentos, além de um recuo saudável após as altas recentes, a companhia também pode ter o seu processo de privatização travado diante da CPI da Covid.
O setor aéreo é um dos principais destaques negativos do dia, após as empresas do segmento terem avançado na semana passada, mesmo diante dos problemas relacionados à pandemia. Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
ELET6 | Eletrobras PNB | R$ 34,95 | -2,81% |
AZUL4 | Azul PN | R$ 38,45 | -2,29% |
ELET3 | Eletrobras ON | R$ 34,73 | -2,03% |
EZTC3 | EZTEC ON | R$ 33,00 | -1,46% |
BRML3 | BR Malls ON | R$ 9,81 | -1,31% |
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