Dólar devolve metade da alta de 2021 em um único dia e bolsa tem sessão de recuperação
Impulsionada pelo fluxo de entrada de estrangeiros no país e a perspectiva de alta dos juros, a moeda americana teve um dia histórico. Lá fora, tensão política e covid-19 limitou os negócios
O dragão da inflação está oficialmente entre nós e foi o responsável por esquentar uma terça-feira (12) que prometia ser bem morno para o mercado brasileiro — assim como foi, de fato, no exterior.
Ainda nas primeiras horas da manhã, em uma sessão que indicava ser de ajuste após a forte realização de lucros e cautela em escala global exibidas ontem, o mercado brasileiro começou a repercutir a grande notícia do dia: o índice oficial de inflação do Brasil, o IPCA, terminou 2020 com a maior taxa acumulada desde 2016 — 4,52%.
O número ficou acima do centro da meta, que era de 4%, mas ainda dentro do intervalo de tolerância.
Que o dragão da inflação de fato está de volta não chega a ser novidade para ninguém. As inúmeras projeções e o peso das compras no nosso bolso, principalmente de alimentos e bebidas, já indicavam uma aceleração do índice. Porém, o número oficial ficou consideravelmente acima do esperado pelos economistas e analistas.
Ainda assim, o saldo do dia foi positivo. O principal índice da bolsa de valores terminou o dia com alta de 0,60%, a 123.998 pontos. A grande estrela do dia, no entanto, foi o dólar.
Empurrado pela entrada do fluxo estrangeiro no país, a moeda americana caiu 3,29%, a R$ 5,323, depois de se valorizar mais de 6% só nos primeiros dias de 2021 e voltar ao patamar dos R$ 5,50. Essa é a maior queda diária da moeda americana em dois anos e meio.
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E agora, BC?
Depois da divulgação da inflação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta manhã, tudo virou questão de tempo.
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As primeiras horas do pregão transcorreram em linha com o visto no exterior e foram marcadas por leve avanço do Ibovespa e recuo do dólar. Aquela troca de bola quase que protocolar, com os investidores segurando o fôlego.
A coisa mudou de figura quando o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra, entrou em campo. Em participação em evento online da XP Investimentos, ele afirmou que com o eventual abandono do forward guidance nas próximas comunicações, a alta dos juros deve acompanhar uma análise da conjuntura e não necessariamente somente o fim da “prescrição futura” do que está por vir na política monetária do país.
Serra fez questão de afirmar que não existe um "diagnóstico mecânico" indicando para que lado a balança deve pender com uma eventual queda do forward guidance.
"Uma vez que o forward guidance deixar de estar na comunicação do Banco Central, vamos voltar a seguir o regime de metas de inflação, como seguíamos até o momento. Ou seja, vamos olhar para o cenário base, para o balanço de riscos, e vamos fazer a melhor decisão possível para a taxa de juros”, explicou o diretor do BC.
Antes da fala de Serra, o mercado estava receoso com a probabilidade de uma alta na Selic quase que de forma imediata e a manifestação fez todo mundo respirar mais aliviado e voltar ao ritmo mais entusiasmado de compras.
O maior volume de negociação fez a bolsa subir mais de 1% na máxima, encostando em 124.584,33. Já o dólar foi beneficiado por um movimento de realização de lucros que, aliado à reação a fala do diretor do BC e do maior fluxo de capital estrangeiro nos países emergentes, fez a divisa ter forte recuo perante o real.
Vale lembrar que que os juros baixos são apontados como uma das razões para a pressão sobre a moeda brasileira desde o ano passado.
Os juros futuros, que começaram o dia em alta expressiva, também mostraram alívio após a fala de Serra. Em um misto de realização recente com reação ao IPCA, as taxas mais longas fecharam o dia em queda de mais de 10 p.p. Confira as taxas de fechamento:
- Janeiro/2022: de 3,19% para 3,14%
- Janeiro/2023: de 4,86% para 4,81%
- Janeiro/2025: de 6,48% para 6,38%
- Janeiro/2027: de 7,21% para 7,11%
Ditando o ritmo
O avanço do coronavírus pelo mundo segue preocupando, mas de forma menos pronunciada do que ontem, quando os investidores embolsaram boa parte da alta recente. Ainda que regiões economicamente importantes, como a Alemanha, sigam endurecendo as regras de isolamento, o que ameaça deteriorar ainda mais a economia, o mercado financeiro não consegue focar completamente apenas neste front.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, já se pronunciou e disse que um novo pacote de estímulo deve ficar "na casa dos trilhões de dólares". O pacote completo está previsto para ser conhecido na próxima quinta-feira (14), mas, enquanto isso, a tensão política nos Estados Unidos segue crescendo e atrapalhando os negócios de forma mais clara.
Faltando menos de 8 dias para o fim do mandato de Donald Trump, os democratas entraram com um segundo pedido formal de impeachment, citando "incitação à insurreição". O temor é que cenas semelhantes às que foram vistas na semana passada, com a invasão do Capitólio, se repitam durante a posse de Biden.
A pressão é para que a votação ocorra ainda nesta semana.Enquanto isso, Donald Trump reage dizendo que o impeachment proposto é a continuação da “maior caça às bruxas da história” e que suas ações antes da invasão foram “apropriadas”.
No ambiente corporativo, o mercado americano aguarda novidades com o início da temporada de balanços do último trimestre de 2020.
As bolsas americanas terminaram o dia em leve alta, após uma sessão que girou em torno da estabilidade. A maior recuperação veio do índice Dow Jones, impulsionado pelo setor de energia, que, por sua vez, subiu na esteira da alta do petróleo. Na Europa, as bolsas fecharam com sinais mistos.
Um empurrãozinho
Depois de um 2020 tenebroso, o petróleo anda tendo uma recuperação mais rápida do que o esperado.
Na tarde de hoje, a commodity finalmente voltou aos níveis pré-pandemia, ou seja, o maior patamar em 11 meses. A alta foi apoiada no entusiasmo com as perspectivas de estímulos e vacinas, além da queda na produção da Arábia Saudita, o que deve reequilibrar o mercado em breve. A recuperação fez o Goldman Sachs rever a estimativa de US$ 65 por barril projetada para o fim do ano. Agora, essa é a projeção para o meio de 2021.
Boletim médico
No Brasil, onde o coronavírus também segue lotando hospitais e endurecendo regras de isolamento social, repercute o adiamento da reunião entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, e governadores e que trataria sobre um cronograma de vacinação.
Além disso, pressionado, o Instituto Butantan anunciou que a eficácia global da Coronavac na população deve ser superior a 50,38%. Atualmente, existem dois pedidos em análise na Anvisa. No entanto, o mercado optou por ver um copo meio cheio e focar nos aspectos mais positivos nesta tarde.
Em alta
As maiores altas do dia foram resultado de um "ataque" dos investidores às blue chips, ou seja, as principais empresas da bolsa brasileira.
A preferência dos investidores hoje foi por uma rotação de setores, com preferência por papéis ligadas ao varejo e consumo, e que tendem a sofrer mais com a crise do coronavírus. Confira as principais altas do dia:
CÓDIGO | COMPANHIA | VALOR | VARIAÇÃO |
EMBR3 | Embraer ON | R$ 9,29 | 7,90% |
CRFB3 | Carrefour ON | R$ 20,15 | 6,05% |
RAIL3 | Rumo ON | R$ 20,69 | 5,29% |
CYRE3 | Cyrela ON | R$ 28,96 | 4,93% |
NTCO3 | Natura & Co ON | R$ 51,46 | 4,81% |
Em baixa
Depois de altas expressivas nos últimos dois pregões, em reação ao anúncio da possibilidade de fusão entre as duas operadoras, Hapvida e Intermédica passam por um movimento de realização de lucros.
Outras empresas que acabaram protagonizando um movimento de realização de lucros foram as ligadas ao minério de ferro e petróleo. Na ponta da tabela temos a Copel, que ainda sofre com as decisões recentes do governo paranaense.
CÓDIGO | COMPANHIA | VALOR | VARIAÇÃO |
CPLE6 | Copel PNB | R$ 67,07 | -3,23% |
GGBR4 | Gerdau PN | R$ 27,52 | -2,76% |
GNDI3 | Intermédica ON | R$ 98,67 | -2,74% |
VALE3 | Vale ON | R$ 99,19 | -2,74% |
HAPV3 | Hapvida ON | R$ 17,72 | -2,64% |
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