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Jasmine Olga
Jasmine Olga
É repórter do Seu Dinheiro. Formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), já passou pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e o setor de comunicação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
FECHAMENTO

Ibovespa fecha no azul por um triz após fala de Bolsonaro pesar sobre o mercado

O grande evento do dia foi a ata da última reunião do Federal Reserve, mas, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro acabou mudando o rumo dos negócios mais uma vez

Jasmine Olga
Jasmine Olga
7 de abril de 2021
18:28 - atualizado às 20:44
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Imagem: shutterstock

O Ibovespa balançou, balançou, balançou, mas não caiu. Em mais um dia marcado pela alta volatilidade, o principal índice da bolsa brasileira chegou a ir de uma alta de 0,68% para queda de 0,64%, mas acabou ficando no meio do caminho. 

O pano de fundo doméstico seguiu inalterado, com os novos recordes de mortos pela covid-19, problemas no Orçamento e o colapso do sistema de saúde jogando uma sombra sobre qualquer possibilidade de recuperação. 

A divulgação da ata do Federal Reserve, que voltou a confirmar que os estímulos serão mantidos, levou as bolsas americanas de volta ao azul, mas foi insuficiente para animar os investidores brasileiros, principalmente porque o presidente Jair Bolsonaro voltou a ressuscitar o fantasma da interferência política nas estatais, com uma fala rápida, mas que fez algum estrago. 

Assim, tudo apontou para cima - bolsa, dólar e juros -, ainda que a bolsa tenha tentado ceder um pouco. O principal índice da B3 fechou o dia em leve alta de 0,11%, aos 117.623 pontos. O dólar à vista, que chegou a recuar com o leilão bem-sucedido das concessões de aeroportos, ganhou força com a disparada dos juros futuros no exterior e em meio à instabilidade política brasileira, avançando 0,78%, a R$ 5,6434

A declaração que causou desconforto no mercado veio durante a posse do novo diretor-geral de Itaipu, que substituirá Joaquim Silva e Luna, o indicado do governo ao comando da Petrobras. Bolsonaro primeiro tentou seguir o script e disse que não iria interferir nos preços da estatal, mas logo em seguida acabou cedendo. O presidente falou sobre possíveis mudanças na cobrança do ICMS sobre combustíveis e  que "podemos mudar essa política de preços na Petrobras", cobrando previsibilidade dos reajustes. 

Foi o suficiente para a bolsa devolver os ganhos do dia e ampliar a tensão. No mercado de juros, o impasse em torno do Orçamento segue pressionando o risco fiscal e os principais contratos futuros fecharam nas máximas do dia, com um empurrãozinho da fala de Bolsonaro e das altas dos Treasuries nos Estados Unidos. Confira as taxas de hoje:

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  • Janeiro/2022: de 4,64% para 4,73%
  • Janeiro/2023: de 6,59% para 6,68%
  • Janeiro/2025: de 8,23% para 8,38%
  • Janeiro/2027: de 8,85% para 8,99%

Soltando o fôlego

Durante a maior parte do dia, o fôlego dos investidores globais ficou reduzido, no aguardo do grande evento desta quarta-feira (07): a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve. Na ocasião, o Fed manteve a sua política monetária inalterada e sinalizou que deve manter o grau de estímulo elevado até que a economia americana de fato se recupere. 

No entanto, o mercado financeiro anda encarando as coisas com outros olhos. Com um aquecimento da economia e o avanço da vacinação, começa a se precificar uma pressão inflacionária maior que poderia levar o Fed a elevar a taxa de juros antes do esperado. Esse tem sido o gatilho para a disparada dos Treasuries nos últimos meses. 

Porém, não é assim que os dirigentes do Federal Reserve encaram o cenário. Na ata, a instituição voltou a afirmar que as condições atuais são propícias para a manutenção de estímulos monetários e um cenário mais acomodatício se mantém.

O crescimento do mercado de trabalho americano, que muitas vezes é lido como um sinal para o superaquecimento da economia, não foi deixado de lado. O Fed declarou que de fato há um arrefecimento da pandemia, principalmente como resultado do avanço da vacinação no país, mas que a covid-19 segue causando dificuldades econômicas e humanas e os setores mais afetados pela crise ainda estão longe da recuperação, principalmente entre a população mais fragilizada.

Outra preocupação do mercado era com relação à normalização do ritmo de compra de ativos pelo Fed, ponto que não foi mencionado pela ata. Com relação à inflação, o documento aponta que a taxa segue abaixo da meta perseguida de 2% e a alta deve ser transitória, o que nos leva ao avanço dos Treasuries. Para os dirigentes do BC americano, a disparada dos juros futuros indica apostas nas melhores perspectivas para a economia americana e na emissão de títulos. 

Esse posicionamento abriu margem para uma nova alta do mercado de juros, mas as bolsas americanas também fecharam no azul. A ata foi o sinal que faltava para os investidores retomarem as compras. O S&P 500 renovou a sua máxima histórica depois de subir 0,14%. O Nasdaq e o Dow Jones avançaram respectivamente 0,07% e 0,05%.  

Hoje o governo americano também anunciou o pacote tributário que, entre outras mudanças, aumenta para 28% o imposto corporativo. A medida tem como objetivo financiar as obras do pacote de infraestrutura. O presidente Joe Biden declarou estar disposto a negociar os pontos do projeto com democratas e republicanos, citando até mesmo o polêmico aumento de tributação.

Dou-lhe uma, dou-lhe duas…

Teve início nesta quarta-feira (07) a Semana de Infraestrutura promovida pelo governo, com o leilão de 22 aeroportos, agrupados em três blocos, a serem disponibilizados para a iniciativa privada, que poderão explorar a concessão por até 30 anos. A expectativa é arrecadar pelo menos R$ 186,2 milhões. O sucesso dessas operações acabou ficando em segundo plano no começo do pregão, com os investidores pesando o avanço da pandemia no país e as questões políticas em torno do Orçamento. 

A CCR foi um dos destaques, levando dois blocos - o Central e o Sul, por R$ 2,1 bilhões e R$ 754 milhões, respectivamente. O grupo francês Vinci ficou com o bloco Norte, pagando R$ 420 milhões.

Caça às vacinas

A vacinação contra o coronavírus também segue sendo um importante foco de atenção. Enquanto nos Estados Unidos o ritmo acelerado leva a um maior otimismo com relação à atividade e o calendário de imunização, no Brasil ainda encontramos diversos problemas. 

Ainda que o país tenha um número absoluto elevado de pessoas que receberam ao menos a primeira dose de vacina contra o coronavírus - 20,8 milhões de brasileiros -, ele representa apenas 9,84% da população. 

Em meio a uma dificuldade de aquisição de novas doses, uma nova polêmica chega do Congresso, com a aprovação de alguns destaques do projeto que permite a compra de vacinas pela iniciativa privada e a discussão sobre a quebra de patentes que estava pautada para hoje no Senado, mas acabou saindo da agenda. 

O primeiro projeto é defendido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e modifica a lei que dizia que a iniciativa privada poderia comprar imunizantes, mas que eles deveriam ser doados para o SUS. Já o segundo é visto como uma ameaça à aquisição de novas doses pelo país.

Segundo fontes ouvidas pela Broadcast, membros da equipe econômica tentam dissuadir o autor do projeto, já que a quebra de patentes forçada levaria os laboratórios a negarem a venda de imunizantes ao país, indo na contramão do discurso adotado recentemente pelo governo federal em eventos dentro e fora do país. 

Sobe e desce

As ações da Braskem lideraram as altas do dia mais uma vez. Segundo Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, a empresa tem surfado uma onda positiva que deve perdurar no curto prazo com a alta dos preços de seus produtos, o câmbio desvalorizado e a resolução de conflitos em Maceió e no México.

Na sequência, tivemos uma recuperação das ações da Minerva, que acumulavam cinco dias seguidos de queda. 

Hapvida e Intermédica também foram destaque, após a primeira afirmar que estuda realizar eventuais captações de recursos para financiar os seus planos. A empresa está em processo de fusão com a Intermédica. 

Fora do Top 5, vale destacar o desempenho das ações da Eletrobras, que subiram forte após Gustavo Montezano, presidente do BNDES e responsável por modelar a privatização, afirmar que o melhor modelo de privatização é a venda da companhia consolidada. Com a recuperação do minério de ferro, os papéis da Vale também tiveram influência positiva no índice.  Confira as principais altas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
BRKM5Braskem PNAR$ 44,675,95%
BEEF3Minerva ONR$ 10,614,22%
HAPV3Hapvida ONR$15,223,89%
TIMS3Tim ONR$ 12,592,86%
GNDI3Intermédica ONR$ 83,852,57%

O setor de varejo teve um dia de recuo em bloco, com os investidores buscando oportunidades em setores mais descontados com a crise. Confira também as maiores quedas do dia: 

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
HGTX3Cia Hering ONR$ 16,48-3,34%
RAIL3Rumo ONR$ 20,25-3,25%
BTOW3B2W ONR$ 61,27-2,96%
ENGI11Engie unitsR$ 43,58-2,27%
LAME4Lojas Americanas PNR$ 22,19-2,25%

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