Disparada dos juros futuros americanos impede recuperação total do Ibovespa; dólar recua na semana após ações do BC
Em semana marcada pelas aprovações do pacote de estímulos nos EUA e da PEC Emergencial por aqui, além do retorno do ex-presidente Lula ao cenário político, a bolsa recuou 0,90%. Já o dólar contou com uma ajudinha do BC
Nesta semana, a pandemia do coronavírus completou oficialmente um ano. Foi no dia 11 de março de 2020 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o “novo coronavírus” havia atingido o status de pandemia. Foi há um ano também que a maior parte das pessoas abandonaram os seus escritórios com a esperança de estar de volta em apenas algumas semanas.
O “aniversário” da pandemia não foi marcado pela tão sonhada volta à normalidade. Muito pelo contrário. Ao longo da semana o que se viu foi uma nova rodada de medidas ainda mais restritivas em diversas regiões do país, principalmente no estado de São Paulo, para contornar os problemas de um sistema de saúde que entrou em colapso e a disseminação de novas variantes ainda mais letais.
Nem mesmo o retorno inesperado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político foi capaz de ofuscar a pandemia. Bom, no dia da decisão não se falava em outra coisa, mas logo as atenções do mercado se voltaram para as pautas mais urgentes e que, de fato, deram o tom dos negócios nesta semana.
Tendo em vista os sinais fracos da economia brasileira e a intensificação das medidas de isolamento, o Congresso tem pressa em viabilizar uma nova rodada de pagamento do auxílio emergencial para a população mais pobre. O primeiro passo para isso foi dado, com a votação da PEC Emergencial. Ainda que o texto final tenha sido desidratado, o saldo final foi considerado positivo pelo mercado.
Nos Estados Unidos, a economia começa a reagir, mas ainda está longe do ideal. Para contornar os efeitos do coronavírus, o presidente Joe Biden finalmente sancionou o aguardado pacote de estímulos fiscais de US$ 1,9 trilhão.
Essas duas medidas, tão aguardadas pelo mercado há meses, foram responsáveis por evitar que o Ibovespa tivesse uma queda mais expressiva após o tombo de quase 4% diante do “efeito Lula”.
Leia Também
O saldo final foi de uma queda de “apenas” 0,90%. Hoje, o dia fechou no vermelho, mas esteve muito mais relacionado a fatores externos do que ao cenário local. O retorno dos títulos públicos americanos voltou a disparar e levou o Ibovespa a fechar em queda de 0,72%, aos 114.160 pontos.
Após avançar acima da casa dos R$ 5,80, o câmbio fechou a semana com um recuo de 2,18%, após inúmeras atuações do Banco Central para tentar segurar a moeda. Hoje o avanço foi de 0,30%, a R$ 5,5597.
Na cola do mercado de juros americano, os juros futuros tiveram mais um dia de alta. Na semana que vem, tanto o Banco Central brasileiro quanto o Federal Reserve divulgam as suas decisões de política monetária. Por aqui, o consenso é de uma alta da taxa Selic. Nos EUA, os investidores precificam a manutenção da taxa básica, mas começam a precificar uma alta antes do esperado, o que influencia na ponta mais longa da curva. Confira as taxas de fechamento desta sexta-feira:
- Janeiro/2022: de 4,13% para 4,22%
- Janeiro/2023: de 5,91% para 5,96%
- Janeiro/2025: de 7,37% para 7,40%
- Janeiro/2027: de 7,90% para 7,96%
Enfim, aprovados!
Depois de meses de negociação e muita tensão no mercado, dois pacotes de socorro foram enfim aprovados nesta semana.
Nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes finalmente aprovou o pacote de US$ 1,9 trilhão, sancionado ontem pelo presidente Joe Biden. No Brasil, o Congresso encerrou a votação da PEC Emergencial. Os dois temas trouxeram volatilidade e - após a aprovação - alívio aos mercados.
No caso brasileiro, a PEC abre caminho para o pagamento da nova rodada do auxílio emergencial, com gatilhos para conter os gastos públicos e não deteriorar ainda mais o cenário fiscal. Ao longo da semana, o presidente Jair Bolsonaro chegou a apoiar uma medida que deixaria de fora a segurança pública do congelamento de promoções, gratificações e salários, mas, no fim, o relator da pauta e o presidente da Câmara, Arthur Lira, chegaram a um acordo que ignorava a proposta.
Na visão de Alexandre Almeida, economista da CM Capital, o texto foi de fato desidratado, mas, para o mercado, a espinha dorsal pretendida pela equipe econômica foi mantida e as mudanças não foram “tão relevantes”, já que o maior temor era de que diversas categorias saíssem do rigor fiscal.
Com sinais fracos da economia brasileira, como os números do varejo de janeiro divulgados hoje e uma inflação mais forte, e novos lockdowns previstos, a retomada do auxílio emergencial é vista como essencial para amparar a população mais carente e manter a economia em funcionamento.
Faca de dois gumes
A aprovação do pacote fiscal nos Estados Unidos não foi recebida apenas com festa. Depois de um dia de trégua, os juros futuros dos EUA voltaram a disparar, precificando um temor de que o Federal Reserve volte a subir os juros em breve.
O que leva a essa percepção é a leitura de que a abundância de estímulos durante o último ano (e agora também com o “pacote Biden”) levará a uma pressão inflacionária que resultará na elevação das taxas pelo Fed.
O discurso dos dirigentes ao longo das últimas semanas é de que, de fato, pode existir uma pressão de curto prazo nos preços, mas que o Fed não vê riscos que possam levar a uma elevação dos juros antes do tempo.
No entanto, não é isso que vem sendo precificado pelo mercado. A disparada dos juros futuros leva a um aumento do retorno dos títulos públicos, que, por sua vez, leva a uma migração de recursos para esses ativos, já que são considerados mais seguros do que a bolsa. Os mercados emergentes, como o brasileiro, tendem a ser fortemente afetados, mas esse é um movimento que respinga em todos os cantos, até mesmo na Europa.
“Se comemora porque a atividade norte americana não movimenta somente a economia local, mas toda a atividade global. Com esse auxílio emergencial eles estão assegurando um de consumo deles e reduzindo danos causados à atividade econômica O que gera preocupação é em relação à dívida que vai ser rolada atrelada aos juros” - Alexandre Almeida, CM Capital.
Hoje o juro da T-Note de 2 anos avançou 0,153%, o da T-Note de 10 anos a 1,623% e o de 30 anos foi a 2,387%, o que levou as bolsas americanas a operarem em queda durante a maior parte do dia e só conseguirem uma recuperação parcial após o presidente Joe Biden defender o gasto público como forma de gerar crescimento.
No fim do dia, somente o Nasdaq fechou em queda, ao cair 0,59%. O Dow Jones e o S&P 500 avançaram 0,90% e 0,10%, respectivamente.
Antecipando as emoções
A semana começou agitada em terras brasileiras, com uma reviravolta que poucos esperavam e um tombo e tanto.
Na segunda-feira (08) o mercado foi pego de surpresa pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de declarar a Vara Federal de Curitiba incompetente no caso das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A 13ª Vara era onde atuava o ex-ministro Sergio Moro e foi responsável pelas condenações nos casos do Sítio de Atibaia, triplex do Guarujá e a sede do Instituto Lula. Para o ministro, os processos não deveriam ter tramitado no Paraná
A decisão monocrática do ministro restabeleceu os direitos políticos do ex-presidente, que voltou a ser elegível, e trouxe uma boa dose extra de instabilidade ao mercado local. Na segunda-feira, o Ibovespa, que já operava em queda firme repercutindo outras incertezas locais - como o avanço da pandemia e a tensão em torno da tramitação da PEC Emergencial - registrou um recuo da ordem de 4%. Já o dólar disparou em direção à casa dos R$ 5,80.
Segundo analistas e gestores, a volta de Lula ao jogo político torna os próximos passos do presidente Jair Bolsonaro uma incógnita. O temor é que Bolsonaro opte por medidas mais populistas como forma de rivalizar com Lula. Além disso, diversos analistas reforçaram que a percepção de risco no curto prazo fica elevada devido aos temores de uma maior insegurança jurídica, que afasta ainda mais o capital estrangeiro, e à antecipação do cenário eleitoral de 2022, o que poderia atrasar ainda mais pautas como as reformas.
No dia da decisão, o repórter Vinícius Pinheiro ouviu analistas e gestores para saber qual a visão do mercado sobre um possível terceiro mandato de Lula e você pode conferir a matéria clicando aqui.
No calor do momento, a bolsa brasileira reagiu de forma exagerada, como vem sendo comum ao longo de toda a pandemia. No entanto, essa não foi a toada predominante da semana. Aos poucos, a atenção dos investidores se voltou para pautas mais urgentes e de impacto conhecido.
Isso não significa que a leitura de que 2022 já tenha começado a ficar de lado. Hoje uma pesquisa feita pela XP/Ipespe mostrou que Bolsonaro e Lula estariam tecnicamente empatados na corrida para a presidência. O mercado agora aguarda as cenas dos próximos capítulos....
Sobe e desce
Nesta semana, o governo federal fez importantes movimentos na busca de vacinas contra o coronavírus, além de permitir que o setor privado também compre doses. Esses movimentos beneficiaram principalmente empresas dos setores mais frágeis, como o setor aéreo e o turismo. Além disso, essas empresas também possuem boa parte do seu custo em dólar, e são favorecidas pela queda da moeda.
Confira as principais altas da semana:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR SEM |
CVCB3 | CVC ON | R$ 18,35 | 12,58% |
EMBR3 | Embraer ON | R$ 14,40 | 12,32% |
GOLL4 | Gol PN | R$ 22,78 | 11,39% |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 33,73 | 10,48% |
PCAR3 | GPA ON | R$ 24,90 | 8,69% |
Na ponta contrária, o destaque negativo ficou com B2W e Lojas Americanas, que além de apresentarem balanços abaixo do esperado pelo mercado, também são afetadas pelas perspectivas fracas para o varejo.
Já a Totvs recuou após a valorização expressiva na esteira da aquisição de uma companhia de marketing digital. A PetroRio acompanhou um recuo do petróleo e entrou em um movimento de realização de lucros recentes.
No caso da SulAmérica, a companhia foi negativamente afetada pelo crescimento da taxa de ocupação dos hospitais.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR SEM |
BTOW3 | B2W ON | R$ 63,91 | -10,60% |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 21,67 | -9,41% |
TOTS3 | Totvs ON | R$ 27,66 | -8,17% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 93,51 | -6,55% |
SULA11 | SulAmérica units | R$ 31,75 | -5,37% |
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos
A surpresa de um dividendo bilionário: ações da Marfrig (MRFG3) chegam a saltar 8% após lucro acompanhado de distribuição farta ao acionista. Vale a compra?
Os papéis lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta quinta-feira (14), mas tem bancão cauteloso com o desempenho financeiro da companhia; entenda os motivos
Menin diz que resultado do grupo MRV no 3T24 deve ser comemorado, mas ações liberam baixas do Ibovespa. Por que MRVE3 cai após o balanço?
Os ativos já chegaram a recuar mais de 7% na manhã desta quinta-feira (14); entenda os motivos e saiba o que fazer com os papéis agora
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A B3 vai abrir nos dias da Proclamação da República e da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios durante os feriados
Os feriados nacionais de novembro são as primeiras folgas em cinco meses que caem em dias úteis. O Seu Dinheiro foi atrás do que abre e fecha durante as comemorações
A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
Rodolfo Amstalden: Abrindo a janela de Druckenmiller para deixar o sol entrar
Neste exato momento, enxergo a fresta de sol nascente para o próximo grande bull market no Brasil, intimamente correlacionado com os ciclos eleitorais
O IRB Re ainda vale a pena? Ações IRBR3 surgem entre as maiores quedas do Ibovespa após balanço, mas tem bancão dizendo que o melhor está por vir
Apesar do desempenho acima do esperado entre julho e setembro, os papéis da resseguradora inverteram o sinal positivo da abertura e passaram a operar no vermelho
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Arte de milionária: primeira pintura feita por robô humanoide é vendida por mais de US$ 1 milhão
A obra em homenagem ao matemático Alan Turing tem valor próximo ao do quadro “Navio Negreiro”, de Cândido Portinari, que foi leiloado em 2012 por US$ 1,14 milhão e é considerado um dos mais caros entre artistas brasileiros até então
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Compre China na baixa: a recomendação controversa de um dos principais especialistas na segunda maior economia do mundo
A frustração do mercado com o pacote trilionário da semana passada abre uma janela e oportunidade para o investidor que sabe esperar, segundo a Gavekal Research