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Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
Graduado em Jornalismo pela USP, passou pelas redações de Bloomberg e Estadão.
fechamento dos mercados

Petrobras dispara e salva Ibovespa, que fecha em alta, enquanto dólar tem leve queda

Índice termina com ganhos de 0,4%, depois de chegar a cair 1,8% na mínima; coronavírus e eleições aqui e nos EUA ficaram no radar dos investidores, mas foi o corte na produção de petróleo anunciado pela Opep+ que decidiu o jogo

Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
5 de janeiro de 2021
19:16 - atualizado às 15:16
Petrobras
Imagem: Shutterstock

O Ibovespa terminou a sessão no azul por pouco. E a ação da Petrobras fez toda diferença para essa recuperação.

Os papéis da petroleira, que têm grande participação na carteira do índice, terminaram entre as maiores altas do dia com a perspectiva não apenas de manutenção, mas de aumento dos cortes na produção do petróleo. A decisão foi anunciada à tarde, após reunião da Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados).

A Arábia Saudita, das maiores produtoras da commodity, reduzirá o seu nível de produção em 1 milhão de barris por dia (bpd) em fevereiro e março, informou o cartel.

A medida pegou de surpresa o mercado — e por isso os preços do barril de petróleo lá fora saltaram. Os valores dos contratos futuros do Brent para março subiram 5%, acima dos US$ 53.

A decisão tem teor "preventivo", de acordo com o ministro de Energia saudita, e foi tomada voluntariamente pelo reino, devendo assim compensar o aumento da produção de Rússia e Cazaquistão em 75 mil bpd, autorizada pela Opep+.

O ministro saudita também informou em coletiva de imprensa que não está preocupado com a demanda global pelo petróleo.

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Enquanto isso, nos Estados Unidos as bolsas fecharam em alta, com o maior ganho ficando por conta do índice Nasdaq, que lista ações de empresas de tecnologia. Os índices acionários à vista subiram ao menos 0,55%.

Agentes financeiros acompanharam com atenção as eleições para o Senado americano, a serem realizadas hoje — e que deve decidir a governabilidade do governo de Joe Biden.

No fim do dia, o Ibovespa fechou em alta de 0,44%, aos 119.380 pontos. Na máxima, o índice chegou a subir 0,8%, próximo dos 120 mil, mas o fôlego estava limitado para buscar o patamar.

No vale do dia, o índice caiu 1,8%, perdendo dos 117 mil pontos. "O que deve prevalecer nesse mês de janeiro é uma certa volatilidade, com um mês perdido em termos de reformas, foco na luta pela sucessão no Congresso e esse aumento de contágios por covid-19 lá fora", diz Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco digital modalmais.

Quem sobe, quem desce

As ações da Petrobras foram decisivas para o dia do Ibovespa e ambas ordinárias e preferenciais terminaram a sessão entre as cinco principais altas do índice.

Os papéis da Weg, empresa ligada aos mercados externos, lideraram as altas, no mesmo ritmo em que terminaram o ano passado, quando terminaram entre os principais ganhos do ano demonstrando sua capacidade defensiva em ambientes de incerteza elevada.

As ações de siderúrgicas também tiveram um dia positivo, com mais uma alta no preço do minério de ferro negociado na China — além de Gerdau, Usiminas PNA subiu 1% e CSN ON, 1,8%.

A gigante mineradora Vale também fechou o dia refletindo os ganhos da commodity lá fora e registrou alta de 1,7%.

Confira as maiores altas do dia:

CÓDIGOEMPRESAPREÇO (R$)VARIAÇÃO
WEGE3Weg ON           79,20 6,14%
PETR4Petrobras PN           30,04 3,91%
HYPE3Hypera ON           34,23 3,32%
PETR3Petrobras ON           30,40 3,05%
GGBR4Gerdau PN           26,67 2,42%

Na ponta negativa, destaque para empresas do varejo, como a Cia. Hering, que teve um 2020 bem negativo após as dificuldades com as medidas de isolamento social que impactaram as lojas físicas.

A ação da construtora EZTEC também teve perdas hoje, em meio às fortes altas das taxas de juros — mesmo movimento foi visto em Cyrela ON, que caiu 2%.

Os papéis de grandes bancos, ligados à economia doméstica também recuaram, de olho no andar da pandemia que pode dificultar a retomada da economia lá fora e, consequentemente aqui. As units do Santander caíram quase 2%; as ações Banco do Brasil ON, 1%; as Itaú PN, 0,65%, e as Bradesco PN, 0,6%.

Veja as principais quedas do dia:

CÓDIGOEMPRESAPREÇO (R$)VARIAÇÃO
ELET6Eletrobras PNB           35,16 -2,87%
HAPV3Hapvida ON           14,65 -2,59%
ELET3Eletrobras ON           34,71 -2,58%
HGTX3Cia Hering ON           16,60 -2,47%
EZTC3EZTEC ON           40,70 -2,40%

Wall Street para cima, Europa para baixo

Nos mercados acionários no exterior, os principais índices das bolsas americanas terminaram em alta: o S&P 500 avançou 0,7%, o Dow Jones, 0,55%, e o Nasdaq, quase 1%.

O repique do petróleo, depois da decisão surpreendente, contribuiu com a tomada de risco e empolgou as bolsas americanas. Na véspera, o Dow Jones havia registrado o pior início para um ano desde 2016, em firme queda. Hoje, então, foi um dia de recuperação e em busca de novos recordes — mas, também, os investidores continuam de olho em questões políticas.

Se os democratas ganharem as duas cadeiras restantes para o Senado — referentes ao Estado da Geórgia —, o governo do presidente eleito, Joe Biden, terá mais facilidade para aprovar a sua agenda.

De um lado, estímulos fiscais adicionais seriam ainda mais prováveis se os democratas controlassem o Congresso e a Casa Branca, o que favoreceria as bolsas — mais liquidez propicia uma alocação maior dos recursos em ativos de risco.

De outro, a perspectiva de aumento de impostos sobre empresas e mais regulamentação sobre "big techs" cria incertezas nos mercados com a predominância da mão do governo sobre "a mão invisível".

Enquanto isso, na Europa, os índices acionários à vista fecharam dando sinais mistos.

O DAX, em Frankfurt, caiu 0,55%, e o CAC-40, em Paris, 0,4%. Enquanto isso, o FTSE 100, da bolsa de Londres, foi o único dos principais índices a operar no azul, fechando em ganhos de 0,6%.

O movimento de alta vem após um pacote de estímulos no valor de 4,6 bilhões de libras em meio ao lockdown anunciado pelo premiê britânico, Boris Johnson, ontem. A medida é válida para a Inglaterra até pelo menos meados de fevereiro, em face do número recorde de casos da de covid-19 no fim de semana.

O aumento dos casos de covid-19 foi um dos focos de atenção dos investidores globais.

Se ontem foi o Reino Unido que decidiu por um lockdown nacional, hoje foi a Alemanha quem decretou a mesma medida de restrição, válida por lá até 31 de janeiro. Na Grécia, um lockdown breve foi decretado até 11 de janeiro.

Dólar encerra em leve baixa após disparada

O risco do coronavírus contribuiu com alguma cautela sobre o sentimento dos investidores.

A visão é de que a retomada da economia global continua ameaçada com medidas mais fortes de isolamento social, o que fez com que os investidores tirassem o pé da compra de bolsas e optassem por mais proteção, como o dólar, durante boa parte da sessão.

A melhora na busca por risco ao longo do dia nos mercados, no entanto, acabou prevalecendo no dólar, que, no fim do dia, fechou em queda de 0,15%, aos R$ 5,2603.

"Acaba que essa demanda maior por ativos ligados ao risco levou ao fortalecimento da nossa moeda", diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.

Foi um movimento tímido de baixa, mas já bem distante da sua máxima intradiária. No pico, a divisa superou os R$ 5,35, em disparada de 1,63%.

A queda ficou em linha com o enfraquecimento do dólar contra divisas emergentes. Dentre elas, mais cedo, o real era a que mais perdia frente ao dólar.

A percepção é de que o problema fiscal do país ainda pesa especialmente sobre a moeda em dias de aversão ao risco, piorando o desempenho do real em comparação com as de pares emergentes.

"Assim como aconteceu no começo da pandemia, quando há maior aversão ao risco, o real tende a ter performance pior por fatores domésticos", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, pela manhã, quando o dólar subia fortemente.

No fim das contas, altas mais firmes em Nova York e a recuperação do Ibovespa com a alta do petróleo estimularam uma pequena venda de dólar.

Do ponto de vista doméstico, outro fator também inspirou cautela: as eleições para a Câmara dos Deputados. O apoio do PT ao candidato de Rodrigo Maia, Baleia Rossi, do MDB.

Isto porque o partido se opõe a medidas favoráveis ao mercado, como reformas e privatizações, e a sua bancada é a maior da casa legislativa, configurando assim um importante apoio para o candidato.

Em troca do apoio, o PT quer que Rossi defenda a renda básica e também "empresas estratégicas para o desenvolvimento do país que se encontram ameaçadas de extinção", segundo carta de siglas de oposição ao governo.

"Em outras palavras, a vida do governo será bem dura com a vitória de Rossi", escreveu a consultoria Wagner Investimentos em relatório.

De outro lado, o candidato do presidente Jair Bolsonaro no pleito é Artur Lira, do PP.

Enquanto isso, os juros futuros tiveram fortes altas, em um cenário de elevação de incertezas sobre a economia mundial e o risco fiscal, contribuindo para a inclinação da curva de taxas futuras.

Mais cedo, o Tesouro Nacional vendeu 1,3 milhão de NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional série B), títulos públicos com rentabilidade atrelada ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Foram ofertados 750 mil NTN-Bs com vencimento em agosto de 2026, 500 mil para agosto de 2030 e 50 mil para maio de 2055.

Os juros de médio prazo, para janeiro/2024, disparam 10 pontos-base (quase 0,1 ponto percentual). As taxas longas, por exemplo as para janeiro/2026, subiram em mesmo magnitude, já distantes do pico, indicando uma evolução positiva no sentimento do investidor com a alta das bolsas americanas lá fora e do Ibovespa.

As taxas curtas, para janeiro de 2022, tiveram alta firme, de 7 pontos-base, fechando perto das máximas.

Veja abaixo os juros dos principais vencimentos:

  • Janeiro/2022: de 2,83% para 2,90%
  • Janeiro/2023: de 4,18% para 4,30%
  • Janeiro/2024: de 5,080% para 5,185%
  • Janeiro/2026: de 6,06% para 6,16%

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