O massacre da tech aberta: com a queda forte das ações de tecnologia, é hora de comprar ou vender?
Ações do setor de tecnologia foram fortemente afetadas pela correção mais firme da bolsa. Mas analistas e gestores recomendam calma
Um banho de sangue toma conta da bolsa brasileira em agosto, mas um setor em particular enfrenta um cenário trágico: o de tecnologia. Ações de empresas como Infracommerce (IFCM3), Mobly (MBLY3), Enjoei (ENJU3) e Méliuz (CASH3), que abriram o capital recentemente, caem forte desde o começo do mês — e começam a enfrentar uma desconfiança cada vez maior por parte dos investidores.
É um grupo bem heterogêneo, englobando companhias de e-commerce, tecnologia da informação, telecomunicações, sistemas de processamento de dados e muitas outras atividades. Mas, em linhas gerais, todas compartilham a mesma tese de investimento: a perspectiva de forte crescimento nos próximos anos.
E, com o mercado de ações aquecido, essas companhias aproveitaram a recente janela de IPOs para abrir capital, captar recursos e acelerar sua expansão — um plano que correu muito bem até aqui, diga-se.
Pegando carona no apelo das 'big techs' americanas (como Amazon, Facebook, Google e Microsoft), as estreantes de tecnologia na B3 foram bem recebidas pelos investidores e subiram no pós-IPO. Um setor novo na bolsa, com perspectivas promissoras e que se equipara ao Nasdaq e seus ganhos polpudos — é uma receita difícil de resistir.
Mas eis que chegou agosto e, com ele, o massacre da tech aberta:
Empresa | Código | Desempenho em agosto* |
Locaweb | LWSA3 | -0,5% |
Méliuz | CASH3 | -40,4% |
Enjoei | ENJU3 | -6,1% |
Neogrid | NGRD3 | -5,1% |
Mobly | MBLY3 | -14,0% |
Mosaico | MOSI3 | -4,2% |
Bemobi | BMOB3 | 20,4% |
Westwing | WEST3 | -10,8% |
Eletromídia | ELMD3 | -14,1% |
Infracommerce | IFCM3 | -13,4% |
GetNinjas | NINJ3 | -7,8% |
Livetech (WDC) | LVTC3 | -1,6% |
Unifique | FIQE3 | -5,1% |
TradersClub | TRAD3 | -29,2% |
Brisanet | BRIT3 | -8,7% |
ClearSale | CLSA3 | 0,8% |
É verdade que o mercado tem estado arredio nas últimas semanas: o Ibovespa fechou o pregão da última terça-feira (24) aos 120.210,75 pontos, acumulando perdas de 1,3% no mês — na mínima de agosto, o índice foi aos 116.642,62 pontos. Claramente, há um componente macro que puxa as ações brasileiras como um todo para baixo.
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Mas também é nítido que o setor de tecnologia está sendo influenciado por fatores negativos adicionais. Algumas empresas até conseguem mostrar um desempenho em linha com o resto do mercado, mas outras derretem mais de 10% no período. E, em meio a essa queda brusca, é natural que muitos se perguntem: é hora de pular do barco ou aproveitar as barganhas?
A resposta é complexa — e analistas e gestores de ações recomendam calma nesse momento de estresse.
O vilão do setor de tecnologia
Max Bohm, analista da Empiricus, destaca que há um serial killer à solta perseguindo o setor de tecnologia: a perspectiva de juros cada vez mais elevados no longo prazo.
As constantes discussões a respeito de possíveis dribles no teto de gastos, a tensão permanente em Brasília, as projeções mais salgadas para a inflação em 2022, a incerteza relacionada às eleições presidenciais — tudo isso cria um efeito bola de neve nos mercados, com um aumento na aversão ao risco.
Na prática, esse cenário provoca um efeito dominó:
- Projeção de Selic cada vez mais alta para conter a inflação, o que faz as curvas de juros abrirem;
- Com juros mais altos, as estimativas de crescimento da economia ficam menores;
- Com a economia crescendo menos, a expectativa para o lucro das empresas da bolsa piora;
- Com previsões menores para o lucro, as ações se desvalorizam.
Essa dinâmica afeta a bolsa de maneira generalizada, mas é particularmente ruim para o setor de tecnologia. E, para entender melhor o efeito dos juros altos sobre as techs, é preciso entrar em alguns detalhes técnicos sobre como se determina o valor justo de uma ação.
Uma das técnicas mais comuns para se determinar o valuation de uma companhia da bolsa é o chamado fluxo de caixa descontado. Basicamente, um analista projeta os fluxos de caixa de uma empresa ao longo do tempo e traz cada um desses valores ao valor presente, usando uma taxa de desconto:
Pois bem: já dissemos que as empresas de tecnologia têm projeções de forte crescimento no futuro — e, sendo assim, os fluxos de caixa vão aumentando de maneira intensa ao longo do tempo. Só que, com a projeção de PIB sendo cortada, esses fluxos ficam menores; ao mesmo tempo, os juros altos fazem a taxa de desconto aumentar.
Como resultado, a soma dos valores presentes desses fluxos acaba diminuindo — e, com isso, também cai o preço justo das ações. No lado técnico, essa é a razão que justifica a correção mais intensa nas ações do setor de tecnologia nas últimas semanas.
O valor [das empresas de tecnologia] não está no presente, está no futuro
Max Bohm, analista da Empiricus
Isso não quer dizer que toda essa correção se deva somente a esse fator. Vale lembrar que muitas das empresas de tecnologia que fizeram IPO desde 2020 acumulavam ganhos bastante expressivos — Locaweb ON (LWSA3) é o exemplo extremo, com valorização de mais de 400% desde a abertura de capital.
Assim, é natural que, com tanta gordura acumulada, muitos investidores tenham optado por realizar parte dos lucros no momento de maior instabilidade na bolsa. Edoardo Biancheri, gestor de Renda Variável da Garde Asset, lembra que a própria indústria de fundos multimercados aumentou a alocação em ações nos últimos anos, e que, para reduzir as perdas nas últimas semanas, muitos foram forçados a vender parte das posições.
"Se você não está na ponta certa num período de grande volatilidade, as perdas podem ser grandes", diz o gestor.
Ações de tecnologia na bolsa: é bolha?
Até agora, falamos mais de questões que afetam o setor de tecnologia como um todo. Mas, como dissemos no começo desse texto, o segmento é composto por empresas com perfis muito diferentes entre si — e a correção mais forte vista em agosto pode ser uma boa oportunidade para refinar os investimentos.
Na mais recente carta enviada aos cotistas, a gestora Squadra Investimentos alerta para as "expectativas intangiveis" que permeiam muitas das empresas de tecnologia que chegaram recentemente à bolsa — o que, combinado à empolgação dos investidores com o tema, pode ter causado uma distorção nos preços.
"Empresas que passaram por uma conjuntura de mercado excepcional recentemente, mas que são pequenas e relativamente novas em suas linhas de atuação, foram listadas a valuation de 'gente grande'", diz a Squadra, no documento.
Biancheri, da Garde, também faz um alerta para as empresas cuja narrativa é atraente, mas sem sustentação. Para ele, a mais recente safra de IPOs teve uma boa qualidade, mas contou com empresas que, em sua avaliação, não estavam maduras para virem ao mercado — ele, no entanto, prefere não nomear essas companhias.
"No mundo dos IPOs de tecnologia, inicialmente nós olhamos seis empresas e, de cara, descartamos duas", afirma o gestor da Garde. "Ou porque achamos muito complexo, ou porque havia muito risco, ou porque não estavam prontas".
Tecnologia e frustração
Outro ponto que chama a atenção é o fato de boa parte da queda mais acentuada nas empresas de tecnologia ter ocorrido justamente após a divulgação dos balanços do segundo trimestre — ocasião em que muitas dessas expectativas infladas teriam sido frustradas.
"Quando essas empresas mostram um crescimento de 15% ou 20%, elas são penalizadas. Os investidores esperam que elas sempre tenham uma expansão de receita e lucros muito forte", diz Bohm, da Empiricus.
O tema também é abordado pela Squadra, em sua carta aos investidores: no documento, a gestora avalia que a euforia inicial vem sendo substituída pela realidade dos números reportados. A casa ressalta que 14 empresas que chegaram à bolsa nos últimos meses possuem negócios intensivos em tecnologia, com pelo menos outras cinco preparando seus IPOs.
"Combinar preços exagerados com expectativas intangíveis e percepções demasiadamente favoráveis sobre a qualidade de negócios é uma receita conhecida para se obter, no melhor dos casos, retornos sofríveis ao longo do tempo", escreve a Squadra.
Separando o joio do trigo
Considerando todos os pontos, a mensagem é bastante clara: as empresas de tecnologia da bolsa são bastante diferentes entre si; por mais que o cenário macro afete a todas de maneira mais intensa, é preciso separar o joio do trigo.
Biancheri, da Garde, apontou algumas companhias desse segmento que vê com bons olhos. Uma primeira boa aposta, diz ele, é a ClearSale (CLSA3), empresa que atua na área de prevenção a fraudes digitais. "É uma empresa que existe há mais tempo e está mais solidificada em seu negócio principal, com uma administração experiente".
Outra empresa vista com bons olhos pelo gestor é a GetNinjas (NINJ3), cujos resultados no segundo trimestre foram melhores que a expectativa. Além disso, há um fator técnico por trás do otimismo: a empresa colocou R$ 330 milhões no caixa com o IPO, uma cifra que corresponde a cerca de 40% de seu valor de mercado — uma assimetria considerada atraente.
Para Bohm, da Empiricus, algumas empresas de tecnologia têm feito um bom trabalho desde a chegada à bolsa, fazendo movimentos assertivos para garantir o crescimento. É o caso de Locaweb (LWSA3) e Méliuz (CASH3), que têm apresentado resultados consistentes, feito boas aquisições e estabelecido um canal de comunicação eficaz.
"O mercado vai penalizar quem ficar demorando, quem tiver um caixa robusto sendo mal empregado, mal alocado", diz Bohm.
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