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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Mordida no bolso

Spread no Tesouro Direto: o pedágio que come uma parte do seu rendimento

Diferença entre as taxas de compra e venda dos títulos públicos reduz retorno de quem vende o papel antes do vencimento

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
4 de agosto de 2020
5:30 - atualizado às 22:25
Investidor em dúvida sobre a hora certa de comprar e vender NTN-B e prefixados no Tesouro Direto
Qual a hora certa de comprar e vender NTN-B e prefixados no Tesouro Direto? - Imagem: POMB/Seu Dinheiro

Volta e meia algum leitor me questiona acerca da rentabilidade dos títulos públicos que aparecem no nosso balanço mensal de investimentos, como este, referente ao último mês de julho.

Para os títulos públicos, eu utilizo os números divulgados pelo próprio Tesouro Direto nesta página, no site do programa. Ou seja, trata-se do número, digamos, oficial.

Mas eu tenho percebido que a forma como o Tesouro Direto calcula o retorno dos títulos suscita muita dúvida, e resolvi aproveitar os questionamentos dos leitores para esclarecer como o Tesouro calcula a sua tabela de rentabilidades e também para falar de um negócio que poucos investidores do programa devem conhecer: o famigerado spread.

Como o Tesouro Direto calcula a rentabilidade divulgada

Eu conversei com Paulo Marques, gerente do Tesouro Direto, e ele me explicou que, para calcular a rentabilidade dos títulos, o programa sempre considera o preço de compra da manhã da data inicial do período considerado e o preço de venda da manhã da data final.

Os preços de compra e venda da manhã são aqueles divulgados pelo Tesouro Direto na sua abertura, às 9h30. O Tesouro os divulga diariamente, nesta página, na seção “Histórico de preços e taxas”, em planilhas separadas por tipo de título e ano.

O preço de compra de um título é sempre diferente do seu preço de venda num mesmo momento, pois existe um spread (diferença) entre as taxas de compra e venda. Esse spread é de 0,01 ponto percentual no caso dos títulos Tesouro Selic e 0,12 ponto percentual para os prefixados e atrelados à inflação.

Em outras palavras, a taxa de venda de um Tesouro Prefixado, por exemplo, é sempre 0,12 ponto percentual maior que a taxa de compra, o que faz com que o preço de venda seja sempre um pouco menor do que o preço de compra num mesmo momento.

Por exemplo, na manhã de ontem, dia 3 de agosto, o preço de compra de um título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035 era de R$ 2.020,64, enquanto o de venda era de R$ 1.986,41. A taxa de compra era de 3,40% + IPCA, e a de venda era de 3,52% + IPCA.

O Tesouro Direto não é o único contexto em que vemos isso acontecer. Se você já comprou moeda estrangeira para viajar, deve ter reparado que também há diferença entre os preços de compra e venda, e que eles são sempre mais vantajosos para a casa de câmbio.

Por que o Tesouro Direto considera o preço de venda

Ao divulgar a rentabilidade dos títulos, o Tesouro quer mostrar quanto um investidor ganharia (ou perderia), em determinado período, caso comprasse o papel na data inicial e o vendesse na data final.

Isso porque as eventuais variações positivas ou negativas nos preços dos títulos só fazem diferença mesmo para quem vende o papel antecipadamente.

Quem opta por ficar com ele até o vencimento até percebe as suas flutuações ao longo do tempo, mas no fim do prazo vai receber exatamente a rentabilidade contratada no ato da compra, independentemente de quão volátil o título tenha sido no meio do caminho.

Se o título por algum motivo acabar se valorizando muito nos seus primeiros anos de investimento, ele fatalmente vai se valorizar menos ou até se desvalorizar nos seus anos finais, de modo que seu preço no vencimento garanta apenas a rentabilidade contratada - nem mais, nem menos.

Um pedágio para quem vende

Na prática, o que o spread faz é comer uma parte da rentabilidade do investidor que vende o título antes do vencimento, o que acaba funcionando como uma espécie de pedágio para quem quer sair do investimento antes.

Se considerarmos apenas os preços de compra nas datas inicial e final, teremos o retorno do cara que comprou na data inicial, mas não vendeu. Esta rentabilidade acaba sendo maior - às vezes substancialmente - do que se considerarmos a hipótese de haver venda.

Por exemplo, o título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035, a antiga NTN-B Principal, rendeu 2,52% em junho e 10,76% em julho se considerarmos apenas os seus preços de compra na manhã.

Porém, se levarmos em conta o spread, como faz o Tesouro Direto, esses rendimentos caem para 0,78% e 8,89%, respectivamente. Repare que, no primeiro caso, o retorno para quem vende o título antecipadamente chega a ser 70% menor!

Mas não se preocupe em estar sendo “enganado” pelo Tesouro. A rentabilidade bruta que você vê na sua área logada do Tesouro Direto, onde você confere os seus extratos e também a sua posição diária, já considera esse spread. O retorno exibido é o que você receberia caso vendesse o seu título no momento da consulta.

O Tesouro vai além e ainda mostra quanto você pagaria de IR e taxa de custódia caso se desfizesse do papel naquele dia, além do valor líquido que entraria na sua conta. A orientação do Tesouro é que o investidor sempre considere a rentabilidade exibida no seu extrato.

Então existem duas rentabilidades para um mesmo título?

Eu conversei sobre essa questão com o Luiz Rogé, analista de renda fixa da Empiricus que já escreveu alguns textos aqui para o Seu Dinheiro, inclusive sobre essa questão do spread.

Ele me disse que, de fato, o spread faz mais diferença para quem compra e vende títulos ativamente do que para quem compra títulos para segurar até o vencimento. Afinal, para esse segundo sujeito, o que vale mesmo é a rentabilidade contratada.

Assim, ele considera que são duas maneiras diferentes de calcular a rentabilidade, e que você pode considerar uma ou outra, dependendo do seu objetivo. Ele me explicou que, na Empiricus, ele divulga a rentabilidade dos títulos indicados para longo prazo com base apenas nos preços de compra.

Já para as carteiras destinadas aos investimentos mais táticos, de prazos mais curtos, cujo objetivo é justamente ganhar com a valorização do título, ele prefere divulgar a rentabilidade que considera o preço de venda na data final, nos moldes da que o Tesouro divulga.

Mas por que raios existe esse tal de spread?

Embora acabe funcionando como uma espécie de pedágio para quem vende seus títulos antecipadamente, a função do spread não é exatamente desincentivar a venda do título antes do vencimento (ao menos não oficialmente). Afinal, o Tesouro garante liquidez diária para todos os seus papéis, independentemente do prazo.

A função do spread no Tesouro Direto é acomodar as variações de preços que os títulos públicos têm no mercado secundário ao longo do dia.

O mercado secundário é onde os grandes investidores - como os fundos de investimento e fundos de pensão - compram e vendem títulos entre si. O Tesouro Direto é considerado mercado primário, pois nele os investidores (as pessoas físicas) compram e vendem diretamente com o emissor do ativo, que é o Tesouro Nacional.

Os preços do Tesouro Direto são definidos pela mesa de operações do programa, tomando como referência os preços do mercado secundário e também dos leilões de títulos realizados pelo Tesouro Nacional.

Há três precificações ao longo do dia. A da manhã, uma à tarde e uma no fechamento. Segundo o Tesouro, o spread entre os preços de compra e venda acomoda as eventuais variações que o preço daquele título pode ter tido entre uma precificação e outra.

Se não houvesse spread, a pessoa física conseguiria acompanhar os preços no secundário e especular no Tesouro Direto, isto é, seria capaz de fazer operações de curtíssimo prazo, pois já teria a referência do secundário.

O spread, nesse sentido, se destina mais a evitar esse tipo de especulação de prazo muito curto, que poderia causar até prejuízos ao Tesouro Nacional. Segundo o Tesouro, a ausência do spread poderia também levar o Tesouro Direto a ter as negociações interrompidas com mais frequência.

Mas 0,12 ponto percentual não é muito?

Ainda mais em tempos de Selic tão baixa? Lembre-se de que essa história de spread já deu o que falar no ano passado.

Em abril de 2019, eu publiquei uma matéria mostrando que o Tesouro Selic estava perdendo da poupança, se consideradas apenas as datas de aniversário, em prazos inferiores a seis meses.

Na época, o spread entre as taxas de compra e venda do Tesouro Selic era de 0,04 ponto percentual, e a Selic estava em 6,50% ao ano. Pouco tempo depois, o Tesouro anunciou a redução do spread do Tesouro Selic para 0,01 ponto percentual.

O gerente do Tesouro Direto, Paulo Marques, me explicou que, no Tesouro Selic, como a volatilidade é baixa, e a taxa que você recebe a mais que a Selic é pequena, o spread para acomodar as variações no preço do título ao longo do dia pode ser baixo. Assim, esse spread de 0,01 ponto percentual praticado hoje é o suficiente.

Mas no caso dos títulos prefixados e dos atrelados à inflação, diz ele, o spread de fato precisa ser um pouco maior, pois os preços e as taxas variam mais durante o dia.

Perguntei se, assim como ocorreu com o Tesouro Selic, haveria algum plano de reduzir o spread desses papéis, mas por ora não há nada definido nesse sentido. “Mas o Tesouro monitora constantemente para ver se há a possibilidade de redefinir o spread ou não”, me disse Marques.

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