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Mercado se frustra com Bolsonaro, mas ainda mantém apoio

Popularidade do presidente, que tem crescido em meio à pandemia, e a avalição de que não há outras opções fazem com que agentes financeiros relutem em desembarcar do governo

Estadão Conteúdo
12 de outubro de 2020
13:48 - atualizado às 13:50
Presidente Jair Bolsonaro durante plantio de árvore amazônica no marco do Programa Caixa Refloresta
Presidente Jair Bolsonaro durante plantio de árvore amazônica no marco do Programa Caixa Refloresta - Imagem: Anderson Riedel/PR

Se ainda tinha esperanças de uma agenda robusta de reformas, austeridade fiscal e privatizações daqui até 2022, o mercado financeiro perdeu de vez as ilusões durante a pandemia.

A gota d'água em um copo já cheio de mágoas pelo não cumprimento de promessas de política econômica veio há duas semanas, quando o governo ameaçou dar uma pedalada fiscal para financiar o Renda Cidadã, programa de distribuição de renda que é a atual menina dos olhos do presidente Jair Bolsonaro.

Ainda assim, o mercado reluta em desembarcar de vez do governo - seja porque a popularidade do presidente tem até crescido em meio à pandemia, seja pela avaliação de falta de opções, até o momento, para se apostar as fichas nas eleições de 2022.

"Ninguém, em sã consciência, vai comprar uma briga com um presidente com 40% de popularidade", definiu um diretor de um grande banco brasileiro ao Estadão. A reportagem conversou com uma dezena de executivos de bancos de varejo, bancos de investimento e fundos, e a avaliação é que itens importantes da agenda econômica devem demorar mais a avançar do que o prometido.

No entanto, tanto pela forte posição do presidente quanto pela indefinição de outros nomes com chances eleitorais que defendam um ideário liberal, a estratégia atual do mercado é a de esperar para ver.

Furar o teto de gastos - mecanismo instituído em 2016, no governo Michel Temer, que limita o crescimento das despesas ao aumento da inflação - pode ser perigoso: ao ameaçar fazer isso, por meio da manobra do uso do dinheiro dos precatórios, o governo federal foi alvo de uma saraivada de críticas.

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Caso decida jogar a austeridade fiscal para o ar, bancos, financeiras e fundos de investimento não devem apenas elevar o volume das críticas. Vão cobrar ainda mais caro para rolar a dívida pública brasileira - deixando o governo enforcado. A falta de confiança deve levar a juros mais altos, inflação e, mais adiante, aprofundar a recessão, segundo avaliação do mercado.

Logo, ainda na definição de executivos de mercado, o governo Bolsonaro está em um dilema do tipo "o ovo ou a galinha". Entendeu, graças ao auxílio emergencial, que distribuir dinheiro à população dá popularidade. De olho nesse capital político, o presidente pretende criar o Renda Cidadã, um programa de incentivo menor, mas permanente. A ameaça de furar o teto de gastos pode pegar mal com investidores, mas gastar mais tem ajudado na popularidade.

Agenda

Outro tema de discussão em pauta no mercado é a dificuldade do ministro da Economia, Paulo Guedes, de entregar a agenda de reformas e competitividade prometida.

Na visão do economista-chefe da Garde, Daniel Weeks, o ministro não tem conseguido convencer Bolsonaro que é "preciso cortar na carne para fazer ajustes".

Na briga com os articuladores políticos do governo - como o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) -, Guedes parece estar em desvantagem. "O que vemos hoje é que a política está dando as cartas." Se tudo continuar como está, diz Weeks, Bolsa e dólar vão continuar sob pressão.

Para Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital, qualquer que seja a solução encontrada para o Renda Brasil, vai ser difícil para o governo tirar a dúvida do mercado financeiro sobre seu comprometimento com o controle de gastos.

"E essa dúvida faz com que a dívida pública não pare de subir. O fato é que o País empobreceu. E não é possível que o setor público não entre com sua cota de contribuição (nos sacrifícios)", diz Figueiredo. "Ou a gente cuida disso (contas públicas) ou o Brasil vai cair no precipício", acrescenta.

Guedes

A saída do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, não é mais um tabu entre os tomadores de decisão do mercado financeiro. Pelo contrário: pode ser até solução.

"Se o Guedes estiver indo embora e o governo disser: estou trazendo dois nomes - um para o ministério e outro para a articulação política - que o mercado veja como capazes de empurrar as reformas administrativa e tributária, além das privatizações, todo mundo vai adorar", disse um gestor de um fundo de investimento.

A permanência do ministro, atualmente, é vista como um "bote de salvação" apenas para o teto de gastos - que é o mínimo para que o País continue a poder pensar em recuperação da economia em 2021 e 2022. Ficou claro, porém, que ele não deve conseguir empurrar uma agenda mais ousada. Dessa forma, avaliam economistas e gestores de bancos, o volume do clamor "fica Guedes" tem diminuído nos últimos meses.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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