Petrobras tem prejuízo de R$ 2,7 bilhões no 2º trimestre, com impacto do coronavírus nas operações
Sem ajustes contábeis relacionados à perda de valor de seus ativos e se beneficiando de decisão judicial, a Petrobras moderou significativamente as perdas após prejuízo de quase R$ 50 bilhões no 1º trimestre. Ainda assim, o coronavírus pesou nas operações da empresa
A Petrobras diminuiu o enorme prejuízo líquido verificado no 1º trimestre do ano, de R$ 48,5 bilhões, e, no 2º trimestre, registrou perdas muito mais moderadas, no total de R$ 2,713 bilhões. Foi um prejuízo 94,4% menor que o do trimestre anterior. Na comparação anual, a estatal reverteu o lucro de R$ 18,9 bilhões, apurado no segundo trimestre de 2019, diante de impactos do coronavírus na sua operação.
A ausência de impairments — a desvalorização contábil dos ativos, que foi a razão dos resultados ruins no início do ano, devido à perda de valor de suas reservas de petróleo com o colapso do Brent — é a explicação principal para o melhor desempenho da empresa no período, segundo o relatório de desempenho financeiro.
A estatal também teve um ganho proveniente da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins após decisão judicial favorável, com efeito de R$ 10,9 bilhões no balanço.
A empresa deixou claro que a ausência destes aspectos em seu balanço não impediriam números mais negativos devidos à pandemia do coronavírus.
"Excluindo esses fatores, o resultado teria sido pior devido aos impactos da COVID-19 em nossas operações, com reflexo nos preços, margens e volumes."
Petrobras, em mensagem aos acionistas
Diferentemente dos três primeiros meses do ano, em que as operações da Petrobras não sentiram grandes impactos da pandemia nos seus números, o 2º trimestre foi afetado pela covid-19 e pelo colapso dos preços de petróleo resultantes das negociações da OPEP+.
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Coronavírus afeta operações
Praticamente todos os produtos foram fortemente afetados por esse cenário, disse a Petrobras, levando a uma queda de 33% na receita líquida no período, para R$ 50,9 bilhões.
No período, o petróleo Brent, em reais, caiu 29% em relação ao 1º trimestre, intensificando a tendência de queda que começou em março.
A exportação de petróleo e derivados totalizou R$ 14,9 bilhões no período, em queda de 40% na comparação trimestral. A Petrobras destacou o aumento da demanda por petróleo pela retomada das atividades na China, após o país sofrer os impactos iniciais devidos ao coronavírus.
No mercado doméstico, as vendas caíram 31%, para R$ 33,7 bilhões. Com a queda abrupta no preço do querosene de aviação, diesel e gasolina tiveram maior relevância, correspondentes a mais da metade dessas vendas.
Enquanto isso, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado caiu 33% quando comparado ao 1º trimestre, chegando aos R$ 25 bilhões. O tombo do Brent, a alta volatilidade do mercado de óleo e gás e a contração da demanda global, que levou à redução nas margens de óleo e derivados, explicam esse encolhimento.
"Também contribuíram para esse resultado despesas relacionadas ao provisionamento dos planos de demissão voluntária (R$ 4,8 bilhões) e despesas com hedge (R$ 2,7 bilhões)", disse a empresa.
Endividamento e caixa
A Petrobras informou que mantém R$ 106,6 bilhões em caixa e equivalentes de caixa em meio à crise da pandemia.
A companhia captou R$ 30 bilhões no 2º trimestre para fortalecer a sua posição de liquidez, além de gerar caixa operacional de R$ 29,3 bilhões que, somados a desinvestimentos de R$ 866 milhões, serviram para pagar dívidas antecipadamente, realizar investimentos e amortizações.
A geração operacional caiu 16% no trimestre em relação ao início do ano, principalmente devido ao menor preço do Brent e a menores produção e vendas, como consequência da pandemia.
O fluxo de caixa livre da empresa caiu forte em comparação aos primeiros meses do ano: 41%, para R$ 15,775 bilhões.
O choque global forçou a empresa a interromper a desalavancagem — processo de redução da relação dívida/patrimônio. A relação dívida líquida/Ebitda, em dólar, aumentou no 2º trimestre em relação ao trimestre inicial do ano de 2,15x para 2,34x.
Ainda assim, a dívida líquida decresceu US$ 8 bilhões no primeiro semestre do ano, evidenciando que não houve queima de caixa, e caiu 2,6% em relação ao 1º trimestre, para R$ 71,2 bilhões.
Mercado estável
A empresa afirmou que não está realizando hedge das exportações de petróleo atualmente, pois vê que o mercado se encontra mais estável.
As operações de hedge de petróleo foram essenciais para garantir margem positiva à companhia quando o mercado estava muito volátil, e a Petrobras disse que poderá retomar essa prática se julgar necessário.
Reação leve
O ADR da Petrobras, recibo de ação negociada nos Estados Unidos, tem reação leve aos resultados até o momento.
O papel opera em queda de 0,44%, para US$ 9,04, na bolsa de Nova York.
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