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Estadão Conteúdo
Alternativas

Grandes empresas viram ‘bancos’ de fornecedores que não obtêm crédito

Linhas de antecipação de recebíveis foram abertas por empresas de diferentes cadeias produtivas como a mineradora Vale, a varejista Renner e a fabricante de autopeças Bosch

Imagem ilustrativa - Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

A dificuldade apontada pelas pequenas empresas em acessar as linhas de crédito emergenciais do governo fez recair sobre os grandes grupos empresariais o papel de financiador das atividades de seus fornecedores e distribuidores. Enquanto, de um lado, houve dilatação nos prazos de cobrança dos clientes da distribuição que tiveram estabelecimentos fechados nas cidades em quarentena, de outro, a necessidade de garantir o fluxo de suprimentos no retorno das atividades vem exigindo a antecipação de pagamentos a fornecedores que sofrem com a insuficiência de caixa em razão do longo período de interrupção dos pedidos.

Linhas de antecipação de recebíveis foram abertas por empresas de diferentes cadeias produtivas como a mineradora Vale, a varejista Renner e a fabricante de autopeças Bosch.

"Várias iniciativas de crédito foram lançadas, mas sem efetividade. Até agora, a indústria consegue funcionar sem grandes quebras de abastecimento em razão, simplesmente, de um grande acordo interno, pelo qual um ajuda o outro", comenta Fernando Pimentel, presidente da Abit, entidade que representa a indústria de produtos têxteis, um setor que chegou a manter apenas um terço do parque produtivo ativo em meio à paralisação do comércio de vestuário.

Segundo Pimentel, a cadeia de tecidos e vestuário tem cerca de R$ 20 bilhões em crédito gerado internamente - ou seja, em transações a prazo que não passam pelos bancos. "Só que isso não é suficiente, porque as empresas ficaram 90 dias sem faturar e agora precisam de capital de giro para retomar as atividades. Por mais ações que você faça, nada substitui o crédito bancário. São ações que deveriam ser apenas complementares", afirma o executivo.

Entre as iniciativas de apoio ao funcionamento da indústria têxtil, onde as micro e pequenas empresas são 85% do total, a Renner, maior companhia de varejo de moda do País, colocou de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões em crédito a fornecedores. Ao mesmo tempo, recorre a uma linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ampliar o alcance da ação.

A Vale, por sua vez, antecipou os pagamentos de aproximadamente 3 mil pequenos e médios fornecedores. Para os serviços ou materiais entregues até o fim de maio, a mineradora diminuiu em até 85% o prazo de pagamento.

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Pagamento antecipado

Na Bosch, um programa permite que parte dos fornecedores receba, antes do vencimento, as faturas emitidas à fabricante de sistemas automotivos. "Esta medida tem o objetivo de ajudar a ajustar o fluxo de caixa do fornecedor neste momento por meio do acesso rápido aos pagamentos futuros", comenta Giulianno Ampudia, diretor de compras da Bosch América Latina. Segundo ele, a taxa cobrada na antecipação do recebível é "extremamente atrativa".

Mas como os grandes grupos também sofreram o baque da pandemia nas finanças, há limitações, por esse tipo de ação acentuar o descompasso entre receitas (adiadas) e despesas (antecipadas), abrindo buracos no capital de giro.

Por isso, muitos preferem apoiar a cadeia através de soluções alternativas que não passem pelo caixa, atuando mais como um facilitador para que o crédito chegue por diferentes caminhos às empresas em dificuldade. Desde 15 de junho, por exemplo, o BNDES recebe pedidos de grandes empresas, entre elas o da Renner, interessadas numa linha desenvolvida pelo banco para irrigar cadeias produtivas. Nela, uma empresa-âncora - de menor risco e, portanto, com acesso às melhores condições de financiamento - toma o crédito e o repassa a baixo custo a fornecedores e distribuidores da cadeia. Até o momento, porém, nenhuma operação foi contratada nesta modalidade.

Burocracia

O excesso de burocracia e a cobrança pelos bancos de garantias consideradas excessivas são citados por pequenas empresas e microempreendedores como os maiores obstáculos ao acesso das linhas de capital de giro mais baratas. Ainda que o governo tenha lançado fundos de garantias e o Banco Central (BC) tenha injetado uma soma de dinheiro sem precedentes no sistema financeiro, as empresas reclamam que o crédito não chega na ponta.

Em geral, a saúde financeira da cadeia de suprimentos tornou-se um dos principais focos de atenção da indústria na retomada da produção.

Conforme a Mercedes-Benz, montadora de caminhões e chassis de ônibus, a gestão de fornecedores críticos vem sendo um "tópico bastante ativo". A montadora alemã informa que tem procurado oferecer ferramentas facilitadoras para ajudar fornecedores com dificuldades relacionadas a fluxo de caixa.

Além da quebra de receita, uma decorrência da parada brusca das vendas, a pandemia impôs custos não previstos no orçamento de adaptação aos novos protocolos de prevenção da covid-19 nas linhas de produção e estabelecimentos comerciais.

Na Gerdau, onde aproximadamente 4 mil fornecedores são microempresas, companhias de pequeno porte e microempreendedores individuais, a solução tem sido direcioná-los a uma plataforma online da fintech Monkey, que os conecta a potenciais compradores de recebíveis da siderúrgica.

"Cada fornecedor enfrenta uma realidade diferente e buscamos entender e agir de acordo com a necessidade de cada um deles", afirma Vinícius Fernandes de Moura, gerente-geral de suprimentos da Gerdau.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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