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Estadão Conteúdo
alerta amarelo

Epidemia de coronavírus já prejudica entrega de peças a indústrias brasileiras

Setor – especialmente de eletrônicos, que usa muitos itens importados da Ásia – acendeu o sinal de alerta

Estadão Conteúdo
20 de fevereiro de 2020
8:15 - atualizado às 22:21
Trabalhadores de uma indústria automotiva Jiangxi, província da China. Dezembro de 2011. - Imagem: Shutterstock

A epidemia de coronavírus que eclodiu na China, grande exportadora mundial de peças, componentes e produtos acabados, e que nas últimas semanas vem abalando os mercados financeiros, fez acender um sinal de alerta entre indústrias brasileiras, especialmente de eletroeletrônicos, que usam muitos itens importados da Ásia.

A Multilaser, empresa que fabrica eletrônicos em Extrema (MG), já projeta uma redução de 17% no abastecimento de peças e componentes importados por conta da parada de quase um mês nas fábricas chinesas. "Essa é a perda esperada até agora por causa do que já aconteceu", afirmou Alexandre Ostrowiecki, presidente executivo. Ele ressaltou, porém, que o quadro pode se agravar se a produção chinesa não for retomada rapidamente.

A companhia produz cerca de 3,5 mil eletrônicos diferentes, entre quais estão telefones celulares, tablets, teclados e mouses, por exemplo. Atualmente, 80% de seus fornecedores que estão no país asiático não retomaram as atividades. A fabricante brasileira tem cerca de 450 fornecedores na região, que atendem a diversas marcas e empregam 500 mil operários.

"A Multilaser está totalmente inserida no olho do furacão do coronavírus", disse Ostrowiecki. Ele explicou, entretanto, que a companhia funciona com estoque de seis meses e que a chegada de produtos nas lojas só deve começar a ser impactada a partir de abril. "O quão grave isso vai ser depende de como a doença vai se desenvolver", afirmou. Não há estimativa para normalização das atividades na China. A marca tem operação própria com 70 funcionários da área de engenharia de teste no país, que está operando em ritmo mais lento.

Férias coletivas

Na virada do mês, o Sindicato dos Metalúrgicos de Jaguariúna (SP) recebeu um aviso de férias coletivas para os funcionários da Flextronics, responsável pela produção de celulares da Motorola. Segundo a entidade, a paralisação deve afetar 80% da fábrica. A empresa justifica a parada pela crise de saúde que acomete a China, e por contar com os insumos importados do país para a fabricação de seus produtos no Brasil.

"Basta não ter um componente para a linha ser interrompida", afirmou José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos. Em TVs, por exemplo, os componentes importados da China representam 60% das peças do equipamento. Em outras linhas, como eletroportáteis, essa fatia varia entre 30% e 50%, dependendo do produto.

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Preocupados com a falta de insumos, fabricantes se reuniram na Eletros na semana passada. Nascimento disse que os executivos não revelaram o nível dos estoques de insumos em suas fábricas porque se trata de uma informação estratégica. Mas o presidente da Eletros afirmou que os volumes de componentes de maior valor, como semicondutores - que vêm de avião - eram na última quinta-feira suficientes para dar conta do abastecimento de, no máximo, dez dias de produção - o normal é 15 dias.

Segundo fontes do mercado, o risco de falta de insumos é maior para os fabricantes de celulares e itens de informática que trabalham com estoques mais curtos de componentes. Mas também é uma ameaça para a indústria automobilística, que usa muita eletrônica embarcada. Diante do risco de falta de insumos, o presidente da Eletros lembrou que a indústria tem poucas alternativas para manter o ritmo de produção porque é muito difícil mudar de fornecedor de uma hora para outra. Explica que os componentes têm de seguir um padrão de qualidade.

"Se a situação não se normalizar rapidamente, pode começar a faltar insumos para a produção de eletrônicos para o Dia das Mães", afirmou Nascimento. Essa data é tão importante para as vendas do varejo que é conhecida como o "Natal do primeiro semestre". E os produtos começam a ser fabricados no mês que vem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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