“CVC passou pela crise e está vivíssima”, diz Leonel Andrade
Em entrevista exclusiva, CEO da CVC conta sobre reorganização da empresa em plena pandemia e anuncia lançamento mirando novo segmento de clientes
Quando Leonel Andrade estava negociando para assumir o comando da CVC no começo deste ano, ele já tinha na cabeça algumas ações prioritárias. Uma delas era realizar uma transformação digital na operadora de turismo, com a integração de todos os canais de vendas, físico e digital, a chamada "omnicanalidade" no jargão do varejo.
Mas tudo que ele imaginava e queria fazer teve que ser colocado de lado. A maior operadora de turismo do País enfrentava dois graves problemas que precisavam ser resolvidos o mais rápido possível. O primeiro foi a constatação de erros em sua contabilidade, resultado de falhas em controles internos, com impacto de R$ 362 milhões.
O segundo foi a pandemia de covid-19. As medidas para conter a disseminação do novo coronavírus provocaram a pior crise já enfrentada pela empresa e seus pares no setor de turismo e viagens. A deterioração foi tamanha que a sobrevivência da CVC chegou a ser colocada em dúvida no mercado.
Corta para novembro e temos uma companhia muito diferente daquela que Andrade assumiu em 1º de abril. Os balanços foram reapresentados, com os dados corrigidos, e as vendas de pacotes e produtos começam a apresentar sinais de recuperação.
Ainda que a situação esteja longe do ideal, com as ações (CVCB3) acumulando queda 55,7% em 2020, ela já não está mais com a faca no pescoço. A combinação dos esforços de reorganização e um cenário benigno para o setor fez os papéis encerrarem novembro com alta de 48,4%, um alívio para os acionistas – ela é uma corporation, jargão do mercado para definir empresas de capital pulverizado.
A situação mais tranquila está permitindo à CVC olhar para frente e lançar novos produtos, um deles sendo um serviço para o público de alta renda, chamado Travel Boutique, segundo adiantou Andrade em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro.
Leia Também
“A CVC passou pela crise. É uma empresa de baixíssimo risco que vai retomar o caminho de crescimento”, disse ele. “Se tivessem me perguntado três meses atrás, diria que estávamos negociando para ter tranquilidade. A empresa agora está vivíssima e com capacidade de caixa para honrar seus compromissos e crescer.”
Distorções contábeis
Depois de seis anos no comando da Smiles (SMLS3), Andrade chegou à CVC encarando problemas nada simples. No final de fevereiro, a empresa anunciou ao mercado que encontrou, em avaliação preliminar, indícios de erros na contabilização de valores transferidos aos fornecedores de serviços turísticos.
Ao contratar estes serviços, a empresa faz uma provisão dos valores a serem pagos aos fornecedores. No entanto, essas cifras não necessariamente corresponderam ao que, de fato, foi transferido. Na ocasião, a empresa estimou que o impacto potencial acumulado na receita líquida de vendas seria de R$ 250 milhões, considerando os resultados de 2015 a 2019.
Embora o conselho de administração tenha instaurado imediatamente uma comissão independente para investigar o caso, a notícia caiu como uma bomba no mercado. No pregão seguinte, as ações recuaram mais de 10%. Quando a revisão das demonstrações foi concluída, os ajustes acabaram somando R$ 362,4 milhões.
O comitê constatou que a CVC tinha deficiências nos processos e controles contábeis, fatores que contribuíram para a ocorrência das distorções. E, para piorar, apontou indícios, não conclusivos, de que os resultados podem ter sido intencionalmente manipulados.
O caso precisava ser resolvido rapidamente. A covid-19 paralisou o mercado de turismo, fazendo com que a CVC praticamente não registrasse receita no segundo trimestre – R$ 3 milhões, para ser exato, queda de 99,3% em relação ao mesmo período de 2019.
Sem faturamento, ela precisava renegociar suas dívidas com os credores para preservar caixa e seguir em frente. Ela tinha R$ 600 milhões em dívida vencendo em novembro e necessitava obter dos detentores de suas debêntures o chamado waiver, um adiamento do vencimento destes títulos, que somavam R$ 1,5 bilhão. Mas a falta de balanços com números precisos impedia fechar qualquer acordo.
Assim, começou-se uma corrida contra o tempo para ajustar as demonstrações financeiras em atraso. “Tivemos um trabalho imenso para republicar tudo”, conta Andrade. “Foi um estresse imenso e consumiu muita energia nas soluções.”
Junto com a reapresentação dos balanços, a CVC passou a ter agora uma estrutura de controle para evitar a repetição deste tipo de situação, incluindo a criação de uma área de compliance, o que tende a evitar a repetição de um episódio do tipo.
Sobre possíveis responsabilizações, ele disse que o assunto agora está com o conselho de administração, que deve tomar alguma atitude a respeito. “Não tem prazo [para divulgação de medidas], mas óbvio que o negócio não pode ficar para sempre. Acredito que [uma proposta para responsabilização] vai ser submetida à assembleia”, disse.
E ressaltou que não existem suspeitas sobre os funcionários da companhia. “As pessoas que estão trabalhando não têm nada a ver [com o caso], mesmo as pessoas que estavam no passado não têm nada a ver”, afirmou.
Preservando a saúde financeira
Ao mesmo tempo em que corria para republicar os balanços, a diretoria da CVC buscava soluções para lidar com os efeitos da pandemia de covid-19. Praticamente sem faturamento, o foco passou a ser a preservação do caixa.
A empresa acabou realizando ajustes em suas operações, reduzindo a jornada de trabalho e dos salários dos funcionários em 50%, postergando investimentos e projetos não prioritários e suspendendo investimentos em marketing.
A diretoria também foi atrás de novos recursos. Em agosto, ela concluiu a primeira etapa do processo de capitalização, com o aumento do capital social em R$ 301,7 milhões via emissão de novas ações. Para cada papel que compraram, os acionistas receberam um bônus para subscreverem a mais uma ação. Se todos esses direitos forem exercidos, a empresa vai arrecadar um total de R$ 703 milhões.
Ela também repactuou sua dívida como Citibank, elevando o empréstimo que já tinha com a instituição, de US$ 77 milhões para US$ 99 milhões, e contou com uma ajuda do governo federal, que sancionou uma lei em agosto desobrigando empresas do setor de turismo e de cultura de reembolsar os valores pagos pelo consumidor por produtos, desde que assegurem a remarcação dos serviços ou disponibilizem crédito para uso ou abatimento na compra de outros produtos.
Com tudo isso, a empresa chegou em setembro com uma posição confortável de caixa, de cerca de R$ 1,5 bilhão. E com a publicação dos balanços atrasados, a CVC conseguiu fechar um acordo com os debenturistas para alongar parcialmente as dívidas. O acordo está condicionado ao pagamento imediato de parte do saldo e restrições ao pagamento de dividendos. Ela também se comprometeu com novos covenants (compromissos) financeiros e a implementar um “evento de liquidez”, ou seja, uma captação de recursos no mercado local ou internacional.
“Se tivesse que pagar dívidas naquele momento, iria afetar a retomada das operações”, disse o CEO.
Retomada
Depois de passar os primeiros oito meses de sua administração arrumando a casa para garantir que a CVC continuasse funcionando, Andrade agora consegue começar a pensar em como melhorar e expandir as operações e aumentar as vendas.
Além da estabilização financeira da companhia, ele passou a contar com a retomada da demanda, puxada pelo turismo nacional, que responde por mais de 60% do faturamento. As vendas totais de setembro atingiram 35% do total registrado no mesmo período de 2019. Parece pouco, mas vale lembrar que, em abril, esse percentual foi de 2%.
“O turismo doméstico volta razoavelmente mais rápido porque é o que é possível de se fazer neste momento. Com as fronteiras fechadas e o dólar alto, as pessoas preferem ficar mais próximas de casa” — Leonel Andrade, CVC
Dentro do turismo doméstico, as viagens regionais são as que apresentam crescimento robusto. A companhia avalia que destinos como praias, campo e hotéis com espaços ao ar livre devem permanecer como a preferência dos brasileiros nos próximos meses. Roteiros de carro para cidades na vizinhança também são tendência.
A CVC espera chegar ao fim do ano com vendas equivalentes a 50% e 60% do apurado no ano passado. A situação só deve voltar a níveis normalizados em 2023, porque as viagens internacionais, que respondem por 20% das vendas, ainda dependem da vacinação das pessoas e de um recuo do dólar. E o segmento de viagens corporativas só vai reagir com a retomada das convenções e feiras, algo que também não deve ocorrer enquanto não houver uma imunização.
Andrade não acredita que a pandemia vai mudar de maneira estrutural o mercado de turismo, ainda que viagens a trabalho possam diminuir. “A maior parte, o que move [o segmento de viagens corporativas], são os grandes eventos, feiras, convenções. Isso vai voltar, as pessoas querem interagir, e esses eventos são importantes para fechar negócios”, afirmou.
De olho na alta renda
Enquanto aguarda a retomada das viagens internacionais e corporativas, a CVC investe na diversificação de produtos para viajantes domésticos. Um deles é o Travel Boutique. Conforme adiantado por Andrade ao Seu Dinheiro, trata-se de um produto voltado para o público de alta renda.
A CVC vai oferecer uma seleção de roteiros de viagens, hospedagens e serviços sob medida, como gastronomia assinada por chefs, atendimento 24 horas desde o momento do check in, café da manhã a qualquer hora do dia e traslados exclusivos para realização de passeios privativos.
Para isso, a companhia fechou acordos com hotéis de alto padrão como Palácio Tangara e Emiliano, ambos em São Paulo, Txai, em Itacaré (BA), e Pousada Etnia, em Trancoso (BA).
A iniciativa marca a entrada da CVC no mercado de alta renda. Até então a companhia tinha seus produtos voltados para a classe média. “Ao longo do ano, com a pandemia, a alta renda não foi para o exterior, então criou-se um público gigantesco para o mercado doméstico que quer ter exclusividade”, afirmou Andrade.
A empresa está apostando no poder de consumo desta fatia da população. De acordo com a pesquisa “World Travel Market Trends Report”, da consultoria Euromonitor, o gasto médio do turista de alta é de cerca de US$ 20 mil em cada viagem, oito vezes mais do que os cerca de US$ 2,5 mil gastos por um turista tradicional.
A novidade se junta ao serviço de locação temporária de residências Vacation Homes Collection (VHC), que até fevereiro atuava apenas nos Estados Unidos.
Até agora, no País, estão catalogados 40 apartamentos em Gramado (RS) e, até o final de 2020, devem ser oferecidas residências em Canela (RS), Bombinhas (SC), litoral norte de São Paulo a partir da Riviera de São Lourenço, Península de Maraú (BA) e Praia do Forte (BA), totalizando 1 mil propriedades disponíveis para locação no País.
O movimento é uma forma da CVC de acompanhar as mudanças no mercado de turismo, que começaram desde antes da pandemia, com novas empresas promovendo o fim da intermediação feita pelas operadoras entre viajantes e serviços. Para Andrade, as disrupções provocadas pela tecnologia não devem parar por aí, por isso é preciso acompanhar as novidades.
“A gente também vai ter que entrar no mundo digital”, disse. “Mas temos uma marca confiável, temos distribuição física em todo lugar e vamos agregar tecnologia, omnicanalidade, novos produtos. Novas tecnologias e entrantes são uma ameaça se você não se transforma.”
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Em busca de dividendos? Curadoria seleciona os melhores FIIs e ações da bolsa para os ‘amantes’ de proventos (PETR4, BBAS3 e MXRF11 estão fora)
Money Times, portal parceiro do Seu Dinheiro, liberou acesso gratuito à carteira Double Income, que reúne os melhores FIIs, ações e títulos de renda fixa para quem busca “viver de renda”
R$ 4,1 bilhões em concessões renovadas: Copel (CPLE6) garante energia para o Paraná até 2054 — e esse banco explica por que você deve comprar as ações
Companhia paranaense fechou o contrato de 30 anos referente a concessão de geração das usinas hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Equatorial (EQTL3) tem retorno de inflação +20% ao ano desde 2010 – a gigante de energia pode gerar mais frutos após o 3T24?
Ações da Equatorial saltaram na bolsa após resultados fortes do 3º tri; analistas do BTG calculam se papel pode subir mais após disparada nos últimos anos
‘Mãe de todos os ralis’ vem aí para a bolsa brasileira? Veja 3 razões para acreditar na disparada das ações, segundo analista
Analista vê três fatores que podem “mudar o jogo” para o Ibovespa e a bolsa como um todo após um ano negativo até aqui; saiba mais
Grupo Mateus: Santander estabelece novo preço-alvo para GMAT3 e prevê valorização de 33% para as ações em 2025; saiba se é hora de comprar
O banco reduziu o preço-alvo para os papéis da varejista de alimentos em relação à 2024, mas mantém otimismo com crescimento e parceria estratégica
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) voltam a ficar no radar das privatizações e analistas dizem qual das duas tem mais chance de brilhar
Ambas as empresas já possuem capital aberto na bolsa, mas o governo mineiro é quem detém o controle das empresas como acionista majoritário
Lucro dos bancos avança no 3T24, mas Selic alta traz desafios para os próximos resultados; veja quem brilhou e decepcionou na temporada de balanços
Itaú mais uma vez foi o destaque entre os resultados; Bradesco avança em reestruturação e Nubank ameaça desacelerar, segundo analistas
Warren Buffett não quer o Nubank? Megainvestidor corta aposta no banco digital em quase 20% — ação cai 8% em Wall Street
O desempenho negativo do banco digital nesta sexta-feira pode ser explicado por três fatores principais — e um deles está diretamente ligado ao bilionário
Banco do Brasil (BBAS3) de volta ao ataque: banco prevê virada de chave com cartão de crédito em 2025
Após fase ‘pé no chão’ depois da pandemia da covid-19, a instituição financeira quer expandir a carteira de cartão de crédito, que tem crescido pouco nos últimos dois anos
CEO da AgroGalaxy (AGXY3) entra para o conselho após debandada do alto escalão; empresa chama acionistas para assembleia no mês que vem
Além do diretor-presidente, outros dois conselheiros foram nomeados; o trio terá mandato até a AGE marcada para meados de dezembro
Ações do Alibaba caem 2% em Nova York após melhora dos resultados trimestrais. Por que o mercado torce o nariz para a gigante chinesa?
Embora o resultado do grupo tenha crescido em algumas métricas no trimestre encerrado em setembro, ficaram abaixo das projeções do mercado — mas não é só isso que explica a baixa dos ativos
Ação da Americanas (AMER3) dispara 200% e lidera altas fora do Ibovespa na semana, enquanto Oi (OIBR3) desaba 75%. O que está por trás das oscilações?
A varejista e a empresa de telecomunicações foram destaque na B3 na semana mais curto por conta do feriado de 15 de novembro, mas por motivos exatamente opostos
Oi (OIBR3) dá o passo final para desligar telefones fixos. Como ficam os seis milhões de clientes da operadora?
Como a maior parte dos usuários da Oi também possui a banda larga da operadora, a empresa deve oferecer a migração da linha fixa para essa estrutura*
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos