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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Check up dos investimentos

O que considerar na hora de avaliar o desempenho da sua carteira – e quais ferramentas podem te ajudar

Montei um guia para você saber tudo que precisa levar em consideração na hora de avaliar o desempenho da sua carteira de investimentos, principalmente se você investe por meio de diversas instituições financeiras. Também listei algumas ferramentas que podem te ajudar na empreitada.

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
25 de fevereiro de 2020
5:30 - atualizado às 9:09
Equilíbrio de seixos
Ao avaliar a carteira, é preciso buscar o equilíbrio entre risco, retorno e custos, mantendo o olho no perfil e nos objetivos. Imagem: Shutterstock

Depois do surgimento das plataformas on-line e fintechs, investir ficou mais fácil e barato, e produtos financeiros de qualidade se tornaram acessíveis.

Mas esse fenômeno trouxe também um efeito colateral: com a facilidade e o baixo custo da diversificação - não só de ativos, como de instituições financeiras -, o investidor pode ficar meio perdido na hora de avaliar o desempenho e os riscos da sua carteira como um todo.

Quem concentra todos os investimentos em uma única instituição financeira que ofereça assessoria de investimento normalmente tem sua carteira montada por um especialista e pode acompanhar a rentabilidade global on-line ou via aplicativo.

Em que pese que assessores de investimentos possam ter conflitos de interesse, ainda assim eles procuram montar uma carteira que respeite o seu perfil de investidor e objetivos, com uma boa relação risco-retorno e sugestões de realocação quando alguma coisa não vai bem.

A consultoria independente, sem compromisso com uma única instituição financeira, também é uma alternativa. Quem tem mais grana pode recorrer a um planejador financeiro; quem tem menos bala na agulha tem a opção dos robôs de investimento, que montam carteiras diversificadas e de baixo custo a partir de algoritmos.

Mas quem voa solo no mercado financeiro, escolhendo seus próprios ativos, distribuindo seus investimentos por diversas instituições financeiras e comprando ações diretamente, pode acabar tendo dificuldade de acompanhar a rentabilidade global da sua carteira e saber se, de fato, está fazendo um bom negócio.

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Outro desafio que se apresenta para a pessoa física - e que não é novo - é a diversificação adequada. Diversificar não é simplesmente espalhar loucamente o seu dinheiro por um monte de ativos. Isso está mais para pulverização, e pode te levar a outro problema: a má relação risco-retorno - correr risco demais para retorno de menos.

5 fatores para avaliar na carteira

Para avaliar adequadamente sua carteira, o investidor precisa considerar cinco fatores:

1. Diversificação

Depois de poupar consistentemente, montar uma carteira diversificada é a coisa mais importante para o sucesso dos seus investimentos. A diversificação mitiga os riscos, uma vez que as eventuais perdas num investimento podem ser parcial ou totalmente compensadas pelos ganhos em outro. Ela nos protege dos soluços do mercado e, principalmente, daqueles eventos que não conseguimos prever.

Só que diversificar não é o mesmo que pulverizar. Não basta ter uma porção de ativos em várias instituições financeiras. Você precisa ter ativos com características diferentes, nas proporções adequadas ao seu perfil (conservador, moderado ou arrojado) e objetivos (curto, médio e longo prazos), de modo que a combinação deles traga um bom retorno com o mínimo de risco.

Cada classe de ativos tem um determinado tipo de comportamento, nível de risco e potencial de retorno, tendo desempenho pior ou melhor de acordo com o cenário econômico. Assim, cada uma delas tem uma função dentro da carteira.

É interessante que a sua carteira tenha ativos destinados a proteger o seu patrimônio - reserva de emergência em renda fixa conservadora, além de proteção contra a inflação e a alta do dólar -, bem como investimentos que tenham capacidade de se valorizar e multiplicar as suas reservas.

Investimentos geradores de renda, como aqueles que pagam cupom de juros, aluguéis e dividendos, também são interessantes para proteção, além de atenderem às necessidades de quem precisa desses recursos para arcar com as próprias despesas.

O problema é que, mesmo quando investimos em classes de ativos diferentes, podemos não estar adequadamente diversificados.

Pode ser que a maioria ou mesmo todos os investimentos da carteira tenham correlação positiva, isto é, que seus retornos tenham a tendência a se moverem na mesma direção - quando um sobe, o outro sobe; e quando um cai, o outro também cai.

Nesse caso, quando tudo estiver bem, os retornos serão formidáveis, mas quando o cenário estiver ruim, sua carteira vai sofrer.

É importante ter ativos com correlação negativa - cujos retornos se movam em direções opostas - ou descorrelacionados, isto é, que não tenham uma relação forte entre si, nem positiva, nem negativa, para que haja um retorno satisfatório em qualquer cenário.

Finalmente, diversificação, ao contrário do que muita gente pensa, não segue a lógica do “quanto mais melhor”. Uma carteira diversificada demais pode ser mais arriscada e/ou menos rentável do que uma carteira menos diversificada. Não se deve passar do ponto!

2. Risco-retorno

Não existe investimento sem risco e, em geral, quanto maior o risco, maior o potencial de retorno - afinal, os investidores exigem um retorno maior para aceitar correr o risco proposto.

Mas quanto risco você deve aceitar correr para obter um retorno interessante? Quanto risco você poderia correr, levando em conta seus objetivos e perfil? E o retorno que você deseja é factível dentro do prazo disponível e num nível de risco razoável?

A diversificação também ajuda a equilibrar essa relação entre risco e retorno, de modo que o investidor receba o máximo de retorno com o mínimo de risco.

Se arriscamos de menos, “deixamos dinheiro na mesa”, isto é, deixamos de lucrar tudo que poderíamos sem necessariamente correr mais risco; mas também não podemos correr risco demais para retorno de menos, nem incorrer num risco tal que os grandes retornos obtidos possam ser perdidos logo em seguida.

O risco também precisa estar adequado ao seu perfil e aos seus objetivos. Tem muita gente por aí investindo reserva de emergência em fundo imobiliário e até em bitcoin, quando as aplicações certas para esse tipo de objetivo são as de renda fixa conservadora.

Também tem gente que não tem perfil para investir um grande percentual dos recursos em ações, mas fica se coçando quando o mercado está em alta e todo mundo está ganhando dinheiro. Aí, quando se depara com um retorno negativo no futuro, se desespera e vende na hora errada, amargando prejuízos.

3. Rentabilidade global

Uma questão particularmente complicada para quem investe em diversas instituições financeiras é o acompanhamento da rentabilidade global da carteira.

Mas a rentabilidade da carteira é muito mais importante do que o retorno de cada investimento separadamente. Afinal, se você investe de maneira diversificada, o que você quer é justamente que os ganhos e perdas da carteira se equilibrem de forma que, no final, o resultado ainda seja bom o suficiente para te deixar um pouquinho mais rico.

Mais que isso: você deve verificar se, no longo prazo, sua carteira é capaz de superar ou, pelo menos, acompanhar certos indicadores de mercado.

Por exemplo, se você está investindo para fazer o seu patrimônio crescer, é fundamental que o retorno seja capaz de superar a inflação.

E se você está diversificando em investimentos com risco superior ao da renda fixa conservadora, certamente vai querer que o retorno da carteira também seja capaz de superar a taxa básica de juros (Selic/CDI), que representa o retorno que você conseguiria correndo o mínimo de risco.

4. Custos e taxas de administração

Ficar de olho nos custos também é essencial na hora de investir, pois taxas de administração e impostos podem comer uma parte considerável da sua rentabilidade. Mas hoje, com a possibilidade de abrir conta gratuitamente em diversas instituições financeiras, não tem mais desculpa para permanecer em produtos caros e ruins.

Por exemplo, para investir em ações, você pode optar por uma corretora que não cobre taxa de corretagem nem de custódia; já para o Tesouro Direto, prefira as corretoras que não cobram taxa de agente de custódia, o que, hoje, inclui até os grandes bancos.

Para a reserva de emergência, a melhor pedida são os fundos Tesouro Selic de taxa zero; e
para os objetivos de curtíssimo prazo ou mesmo aquela reserva para aproveitar as oportunidades de investimento que surgirem, a melhor pedida são as contas de pagamento que rendem 100% do CDI, também sem cobrar taxa.

No caso dos fundos de investimento, a regra geral é que fundos passivos (que se limitam a seguir a média de desempenho do mercado) não têm uma gestão complexa, não devendo, portanto, cobrar taxas altas.

Para simplesmente seguir o CDI, os fundos Tesouro Selic sem taxa hoje em dia são imbatíveis na combinação de baixo risco com retorno aderente ao indicador de referência.

Já para o mercado de ações, os ETF surgem como as pedidas mais baratas para se acompanhar os índices da bolsa, como o Ibovespa, os índices setoriais e o Índice Small Caps, formado pelas ações de empresas de menor valor de mercado.

Os ETF são fundos de índice: eles replicam a composição da carteira dos índices de ações a fim de acompanhar seu retorno. Eles têm cotas negociadas em bolsa, como se fossem ações.

Também existem fundos de ações indexados que não são ETF e que permitem aplicações e resgates via plataformas de investimento. Alguns chegam a ser mais baratos que os ETF equivalentes, mas a maioria é mais cara.

Já no caso dos fundos ativos de ações e multimercados, o mais comum é o chamado “dois com vinte” - 2% de taxa de administração e 20% de taxa de performance (aquela que incide sobre o retorno que excede o indicador de referência que o fundo procura superar).

Não são as taxas mais baratinhas do mundo, mas tem fundo de ações por aí cobrando 5%, 7% de taxa de administração, sem apresentar, no entanto, um retorno que o justifique.

Quando se fala em custos, também é preciso prestar atenção à questão dos impostos. Girar demais a carteira pode ser danoso para o seu retorno, porque resgates de certos tipos de fundos e títulos de renda fixa no curto prazo são tributados a alíquotas maiores.

Finalmente, há que se preocupar com os custos das transferências de recursos de uma instituição financeira para outra quando o investidor tem mais de uma conta para investir. Pagar por TED e DOC hoje em dia está ficando fora de moda, pois não faltam bancos digitais que oferecem contas gratuitas e não cobram pelo serviço.

5. Liquidez

Este é um risco que muitas vezes é ignorado pelos investidores. A liquidez é a facilidade de resgatar ou vender um ativo para transformá-lo em dinheiro. O ideal é que o investidor defina bem os objetivos e seus prazos, de modo a adequar a liquidez dos ativos aos seus diferentes horizontes de investimento.

Por exemplo, se você já tem um bom patrimônio, não precisa que todos os recursos permaneçam aplicados em investimentos conservadores de liquidez imediata. Talvez você possa alocar uma parte das suas reservas em investimentos de menor liquidez, visando prazos mais longos.

Outra situação que você quer evitar é uma carteira repleta de imóveis e fundos de investimento de resgate demorado - daqueles que levam mais de 30 dias para pagar os pedidos de resgate - e nenhuma reserva de emergência.

Ferramentas e serviços ajudam na análise

Quem investe por várias instituições e não conta com a assessoria de um planejador financeiro normalmente acompanha a sua carteira por meio de uma planilha de Excel ou Google Sheets. Mas hoje já existem ferramentas para ajudar o investidor.

Análise de portfólio gratuita

O robô de investimentos Magnetis, por exemplo, oferece um serviço gratuito de análise de portfólio mesmo para não clientes. O investidor precisa preencher um formulário e enviar os extratos ou prints das telas das áreas logadas das suas instituições financeiras, mostrando o nome detalhado de cada ativo e o valor alocado em cada um.

Os especialistas da Magnetis analisam todos os cinco fatores listados anteriormente com a ajuda de algoritmos, e depois entram em contato com o investidor para dar os resultados e fazer sugestões de realocação, se for o caso. O objetivo é otimizar a diversificação e a relação risco-retorno da carteira.

“A gente pergunta sobre os objetivos da pessoa, se ela está satisfeita com a rentabilidade e se gostaria de ser mais arrojada”, diz Rafaela Silveira, especialista de investimentos da Magnetis.

As mudanças sugeridas podem incluir a alocação em uma carteira da Magnetis - é claro que a ferramenta acaba funcionando como uma maneira de captar clientes -, mas bons produtos que estejam adequados ao perfil do cliente não são retirados, podendo até ganhar peso maior. De toda forma, o investidor recebe a avaliação e não precisa seguir as recomendações da Magnetis, se não quiser.

A Magnetis é um serviço que oferece carteiras de investimento diversificadas com aporte inicial de mil reais e aplicações mensais a partir de R$ 100. Os rebalanceamentos são automáticos, e a taxa de administração é de 0,4% ao ano sobre o patrimônio investido, caindo para 0,3% no caso de valores superiores a R$ 500 mil. Carteiras de até R$ 5 mil são isentas de cobrança.

Apps para acompanhar a rentabilidade

Algumas fintechs oferecem ainda ferramentas para você acompanhar o retorno global da sua carteira de investimentos. De todas as que eu testei, as que eu mais gostei foram, nesta ordem, a Kinvo, a Gorila Invest e a Real Valor, disponíveis nas versões web e mobile, tanto para iOS quanto para Android.

Em todas elas você precisa preencher à mão os seus investimentos, informando o produto, a data de aplicação e o valor investido.

Não há integração automática com plataformas de investimento ainda - apenas a Gorila dispõe de integração com algumas corretoras de criptomoedas. A Real Valor, contudo, oferece a opção de importar os ativos que ficam armazenados no Canal Eletrônico do Investidor (CEI), como ações e títulos públicos.

Além disso, nenhuma das três oferece, ainda, suporte para Certificados de Operações Estruturadas (COE). Na Gorila você até consegue incluir esse tipo de produto, mas o valor não é atualizado diariamente. Permanece o valor do aporte inicial até o vencimento.

Depois de inserir os investimentos, as ferramentas calculam o retorno das aplicações e a rentabilidade geral da carteira desde o início e em diferentes períodos, como mês, ano e 12 meses, além de compará-la com indicadores como Ibovespa, CDI e IPCA (no Kinvo também dá para comparar com a poupança).

Você também consegue observar o percentual alocado em cada ativo, a evolução do patrimônio e eventos como o pagamento de proventos (dividendos e cupons de juros de títulos públicos, por exemplo), podendo até ser avisado nas datas em que eles ocorrerem.

Dos três, o que eu mais gostei foi o Kinvo, pois ele oferece análise de risco-retorno e projeção do desempenho da carteira em três cenários, do mais pessimista ao mais otimista. Só que, ao contrário dos outros dois apps, ele não é gratuito. A assinatura custa R$ 14,90 por mês ou R$ 119,90 por ano, mas é possível testar por sete dias gratuitamente.

Na análise de risco-retorno, o Kinvo mostra o Índice de Sharpe e a volatilidade da carteira, bem como o beta de cada ativo.

O Índice de Sharpe consiste na divisão do retorno acima da taxa livre de risco (Selic/CDI, no caso do Brasil) pela volatilidade do investimento. Então, quanto maior o Índice de Sharpe, melhor o retorno em relação ao risco - mas lembre-se de que se trata do risco de mercado, isto é, de oscilação dos preços. Riscos de crédito e liquidez não entram nessa avaliação.

Já o beta é um índice que mostra quanto um ativo oscila em relação a determinado referencial (no caso do Kinvo, em relação à carteira).

Quanto à precisão das informações, porém, os valores dos três apps diferem um pouco daqueles mostrados nos extratos das instituições financeiras para quase todos os ativos. O que mais se aproximou, do ponto de vista do saldo global, foi o Real Valor, seguido do Kinvo e do Gorila.

Os apps puxam os dados diretamente das bases da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do CEI, mas pode haver um certo atraso em relação às informações exibidas pelas corretoras e plataformas de investimento.

No caso dos títulos de renda fixa privada, pode haver diferenças nas formas de calcular a rentabilidade entre as corretoras, os bancos e os aplicativos.

*Matéria atualizada com correção nas taxas de administração da Magnetis.

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