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Kaype Abreu
Kaype Abreu
Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Colaborou com Estadão, Gazeta do Povo, entre outros.
começa hoje

Mercado espera mais um corte da Selic, mas qual será o passo seguinte do BC?

Maioria das instituições prevê que a Selic cairá de 4,5% para 4,25% ao ano na reunião que começa hoje e que este será o último corte do atual ciclo

Kaype Abreu
Kaype Abreu
4 de fevereiro de 2020
6:02 - atualizado às 6:36
Roberto Campos neto
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Imagem: Raphael Ribeiro/BCB

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que começa nesta terça-feira (4) e termina amanhã deve promover mais um corte na taxa básica de juros, a Selic: de 4,5% para 4,25%.

A avaliação do mercado é de que os dados mais fracos de atividade econômica — com a produção industrial recuando 1,2% em novembro — e os primeiros sinais de que a alta da inflação registrada a partir de novembro não vai perdurar — com o IPCA-15 de janeiro desacelerando — dão espaço para mais uma redução na taxa.

A perspectiva de mais uma redução nos juros é majoritária, mas não chega a ser um consenso entre os analistas. Das 58 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, do Grupo Estado, 47 esperam a queda da taxa. E você, o que acha? Deixe seu comentário logo abaixo desta matéria.

O ciclo de cortes da Selic começou em julho de 2019 — até então a taxa estava em 6,5%. Nas reuniões seguintes, o Copom reduziu a taxa até chegar a 4,5%. Mas, após o encontro de dezembro, o mercado ficou em dúvida se o período de sucessivas reduções na Selic havia chegado ao fim, em especial porque a inflação medida pelo IPCA acelerou no final do ano.

Para cortar a Selic, o Copom precisa estar seguro de que os preços estão sob controle — pois a taxa básica de juros é uma ferramenta da instituição para alcançar a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), estipulada em 4% para 2020.

Ao reduzir a Selic, a tendência é diminuir os custos do crédito e incentivar a produção e o consumo. Por outro lado, os juros mais baixos significam rendimentos menores para as aplicações de renda fixa.

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Inflação perde força...

A razão para o otimismo das instituições financeiras quanto a inflação é a prévia registrada pelo IPCA-15 de janeiro: o indicador variou 0,78%, ante 1,05% de dezembro.

Segundo a consultoria inglesa Oxford Economics, o choque do preço das carnes adicionou 0,7 ponto porcentual ao IPCA. "Com a provável reversão deste choque, esperamos que a inflação caia de volta para um nível abaixo da meta em 2020", disse o economista da consultoria Marcos Casarin em avaliação mais recente.

O boletim Focus, publicação do Banco Central que reúne estimativas do mercado para diversos indicadores, prevê a inflação a 3,4% em 2020. "Tudo caminha para um corte", diz o analista da Capital Research, Felipe Silveira.

...mas dólar merece atenção

Segundo Silveira, a projeção atual para a inflação abre janela para se discutir mais um corte após esta reunião do Copom. Mas a cotação do dólar — que fechou a R$ 4,249 nesta segunda, após disparar 7% em janeiro — deixa dúvidas sobre qual será a sinalização do BC.

A depreciação do real mexe com o preço de produtos importados e matérias-primas como o trigo — base para a preparação de alimentos comuns aos lares brasileiros, entre eles massas e pães. A alta do preço desses produtos poderia fazer com que o IPCA avançasse mais do que o esperado.

Outro fator que pode mexer com o câmbio é a baixa participação do investidor estrangeiro em negócios locais. A oferta e a demanda da moeda estrangeira impacta na cotação do dólar — e, ao menos em 2019, houve uma decepção do mercado local em relação a entrada de investidores no Brasil.

"A maior parte dos leilões ainda não aconteceu e a bolsa registrou mais saída do que entrada de recursos estrangeiros", lembra Silveira. "A tensão entre os Estados Unidos e Irã, além do surto do novo coronavírus, também fortalecem o dólar".

Coronavírus vai mexer na Selic?

O surto do novo coronavírus se tornou mais um elemento de instabilidade dos mercados. No entanto, ainda é cedo para avaliar o impacto que a doença pode ter na economia — e, consequentemente, no posicionamento do Banco Central —, segundo Nicolas Saad, da Persevera Asset Management.

"Mas desde a crise de 2008 os bancos centrais estão mais atentos ao risco imposto pelo cenário econômico global", diz Saad — que também destaca a atuação do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). "A postura acomodativa deles é importante".

Na semana passada, o Fed manteve os juros na faixa entre 1,50% e 1,75%. Após decisão, presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, disse que ainda era cedo para falar sobre o coronavírus. "A situação é inicial. Não vou especular sobre seus impactos", disse, indicando que a doença é monitorada.

Em relatório, o Itaú — que também espera um corte na Selic — diz acreditar que os efeitos do coronavírus tendem a ser passageiros e que, "a médio prazo, esses desenvolvimentos configuram pressão negativa sobre a atividade econômica global, e um potencial risco de baixa para a recuperação no Brasil".

Mais reformas, mais quedas?

As decisões do Fed ajudaram o mercado local a projetar o posicionamento do Copom em 2019. Também entrou na conta a reforma da Previdência, aprovada pelo Senado em outubro.

Embora o presidente do BC em mais de uma ocasião tenha negado que existisse uma relação entre cortes da Selic e o avanço do projeto, parte do mercado precificou a queda da taxa básica conforme as expectativas do avanço da reforma.

Neste ano, o Congresso tem ao menos dois grandes projetos que fazem parte dos objetivos econômicos do governo: a reforma tributária e a administrativa. Mas ambas não devem ter o mesmo peso que a Previdência nas expectativas do mercado.

Para o economista chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, mais importante do que o desenrolar dos acontecimentos em Brasília é a confiança de que a agenda vai prosperar. "No governo [de Michel] Temer a reforma [da Previdência] não foi aprovada, mas o BC cortou os juros", diz.

Saad, da Persevera, diz que não há por que relacionar Selic às reformas. A alteração na taxa básica de juros leva ao menos nove meses para impactar a economia, enquanto a mudança nas regras do regime de aposentaria visam equilibrar as contas públicas nas próximas décadas.

De olho nesses prazos, o gestor da SPX Capital, Rogério Xavier, declarou ser contra uma redução da Selic neste mês. Em evento com investidores, ele disse que os efeitos de uma decisão agora só serão sentidos em 2021, quando a meta de inflação será de 3,75% — ou seja, sem margem em relação às projeções atuais do mercado.

Para Xavier, o risco de uma maior flexibilização agora é de o BC ter que elevar os juros lá na frente. Ao lado dele, Luis Stuhlberger, gestor do lendário fundo Verde, também afirmou ser contra novas reduções da Selic.

E depois?

Das 47 instituições que esperam uma queda de 0,25% na Selic, 34 dizem acreditar que o ciclo de afrouxamento monetário termina com essa redução, ainda segundo o Projeções Broadcast. O levantamento diz que sete instituições vêem novo corte de juros, para 4,00%, e uma espera a Selic em 3,50%.

Para Saad, da Persevera, o BC deveria deixar a porta aberta para novas reduções porque, na visão da gestora, a recuperação da economia ainda pode decepcionar o mercado. "A gente está digerindo as etapas finais da recessão", diz.

Cardoso, do Daycoval, diz que vê na comunicação do BC uma indicação de que o ciclo de cortes está próximo do fim. "Mais do que a decisão na próxima reunião, o que a gente espera é que a instituição dê um sinal de que os juros vão ficar baixo por muito tempo".

Já o Itaú diz que, em qualquer caso, o comitê deve destacar que seus próximos passos dependerão da evolução dos dados econômicos, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

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