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Estadão Conteúdo
em conferência virtual

‘Evitamos empresa que não considera o meio ambiente’, diz guru dos emergentes

Mark Mobius, que ficou globalmente conhecido por sua atuação na Franklin Templeton, afirma que não aportaria em uma empresa que destruísse a Amazônia

Estadão Conteúdo
22 de julho de 2020
12:56 - atualizado às 13:00
Mark Mobius
Mark Mobius, Gestor do fundo Mobius Capital Partners - Imagem: VALERIA GONÇALVEZ

Considerado o guru dos mercados emergentes, o americano Mark Mobius afirma que não aportaria em uma empresa que destruísse a Amazônia. "Meio ambiente é muito importante (para investidores) e está se tornando ainda mais", diz ele, que participa hoje de uma conferência online promovida pelo BTG Pactual.

Mobius se tornou globalmente conhecido por sua atuação na empresa de investimentos Franklin Templeton, na qual ficou por mais de 30 anos. Hoje, à frente do Mobius Capital Partners - que tem fundos de investimentos destinados a empresas de médio porte de países emergentes -, diz estar otimista com a recuperação do mercado brasileiro e que tem apostado em companhias dos setores de saúde e educação. A seguir, trechos da entrevista.

O senhor já disse estar otimista com o Brasil, porque a economia está reabrindo. Há quem diga que a crise do coronavírus pode ser mais longa aqui por não ter havido um 'lockdown' completo. Como vê essa possibilidade?

Há um pânico global e irracional em relação ao vírus. O número de pessoas infectadas pode ser grande, mas o de mortes não é. O Brasil é um país grande e mais variado que os Estados Unidos, no sentido de que vocês têm muitas áreas que são diferentes umas das outras. Então vocês têm graus diferentes de infecção. Por isso, acho que o Brasil se sairá bem disso. Pode haver pânico, mas a realidade é que a vida continua e, se você olhar para os preços da Bolsa, vê que o mercado está indo muito bem.

No Brasil, morreram mais de 80 mil pessoas. Esse não é um motivo para pânico?

Muitos hospitais no Brasil e no mundo, quando alguém morre, dizem que foi de coronavírus. Essas pessoas podem ter morrido de outras coisas. Às vezes, alguém tem um problema de coração e aí o coronavírus piora a situação. É preciso ser cuidadoso com números.

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Qual o impacto dessa crise sanitária na economia do Brasil?

Globalmente, acho que estamos em uma recuperação em formato de V. No Brasil, acho que vai haver uma recuperação muito rápida no ano que vem. Provavelmente, no fim deste ano, você começará a ver a recuperação. Há empresas no Brasil que agilizaram a transição do offline para o online. Isso vai ter um grande impacto em muitas companhias.

A Bolsa brasileira também está se recuperando. Há espaço para continuar subindo?

É verdade que a Bolsa brasileira está com uma recuperação incrível. O Ibovespa (principal índice da Bolsa) já subiu uns 60% desde que atingiu o ponto mais baixo. Nos EUA, foi 50%. O Brasil está indo melhor do que os EUA nessa recuperação, mas, claro, o Brasil caiu mais do que os EUA. Acho que logo estaremos onde estávamos no começo deste ano.

É hora para comprar na Bolsa?

Teria sido melhor comprar em abril ou maio, mas o mercado agora está abaixo do que estava em janeiro. Então acredito que ainda haja muita oportunidade no Brasil.

Que tipos de empresa o senhor está apostando no Brasil?

Gostamos de empresas relacionadas aos setores de saúde, como as que fazem diagnósticos, e de educação, que podem ir bem online. Gostamos também do varejo, particularmente companhias que combinam vendas online com offline.

No fim de 2018, em entrevista ao Estadão, o sr. disse estar entusiasmado com as propostas de reformas de Jair Bolsonaro. Até agora, só a reforma da Previdência passou. Continua otimista?

Por causa da covid-19, muita coisa teve de ser adiada, mas acho que a intenção do governo é boa. Naquela época, disse que não era para achar que tudo seria realizado, porque isso é muito difícil. Mas, se ele fizer um terço do que pretendia, será uma conquista grande.

O meio ambiente é hoje um dos principais temas de debate no Brasil. O sr. o considera um ponto relevante quando decide seus investimentos?

Muito. Nosso fundo se dedica a melhorar governança corporativa, o ESG (sigla em inglês para indicadores ambientais, sociais e de governança). Trabalhamos com todas as empresas em que investimos para garantir que tenham a governança correta. Se não tiver boa governança, não se pode fazer nada em relação ao meio ambiente. Por isso, enfatizamos para as pessoas nas empresas com as quais lidamos que é preciso melhorar a governança e, então, o meio ambiente e a responsabilidade social. Definitivamente, meio ambiente é muito importante e está se tornando ainda mais importante.

O sr. investiria em uma empresa que destrói a Amazônia?

Não. Evitamos esse tipo de empresa.

Se um país não preserva o ambiente. O sr. investe?

Olhamos para as empresas. Muitas vezes vemos que elas têm uma posição diferente da do país. Gostamos de empresas que, às vezes, vão contra o que os governos estão fazendo, que estão fazendo um trabalho melhor do que o governo.

O sr. sempre apoiou Donald Trump, mas ele pode perder a eleição. Como vê uma possível economia americana sob a administração de Joe Biden?

Qualquer presidente vai ter dificuldade para fazer grandes mudanças. Se Biden for eleito, o governo irá mais para um modelo social Mas acho que não haverá grande mudança em comércio nem em gastos públicos. Trump teve grandes programas de gasto público, o que normalmente é algo que os democratas fazem.

O sr. mudará seus investimentos se Biden vencer?

Não mudaria. Muitas coisas que Trump fez são difíceis de serem revertidas. Ele fez várias desregulamentações, não será fácil mudar isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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