Por que a bomba fiscal não estourou nos mercados?
No clássico desenho animado que passava na TV na minha infância, o faminto Coiote tenta capturar o veloz Papa-Léguas usando as bombas e armadilhas fabricadas pela ACME. Mas elas teimam em não funcionar, ou só funcionam contra o próprio Coiote.
A Câmara dos Deputados pode ter armado uma bomba fiscal do tipo ACME ao aprovar na noite de ontem o projeto de ajuda financeira a Estados e municípios.
Foi uma verdadeira surra no governo, que perdeu por 431 votos a 70. Pela proposta, a União terá de compensar a perda de arrecadação dos entes da federação neste ano em consequência da pandemia do coronavírus.
Estamos falando em coisa de R$ 80 bilhões, na melhor das hipóteses. E qual será a contrapartida dos governos estaduais e municipais? Nenhuma.
Pois bem, eu chamo de bomba ACME porque ela foi armada, mas (ainda) não estourou. No mercado financeiro, onde a reação costuma ser imediata, foi um dia relativamente tranquilo. A bolsa subiu e o dólar ficou praticamente estável.
O que aconteceu? Primeiro, é preciso dizer que o projeto acabou não saindo um desastre completo porque alguns pontos, como o aumento do limite de endividamento dos Estados, foram retirados.
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Ainda assim, trata-se de uma sinalização péssima para o equilíbrio das contas públicas, que já vão se deteriorar diante dos gastos necessários para conter os efeitos da pandemia.
Em momentos assim, é natural que os investidores aumentem as apostas na alta dos juros no longo prazo. Mas as taxas que são negociadas na B3 fecharam em queda hoje.
O UBS tem uma explicação para a bomba (ainda) não ter estourado, e ela tem relação com outro projeto em tramitação no Congresso, que dá maiores poderes ao Banco Central atuar no mercado. O Kaype Abreu conta para você o que dizem os economistas do banco suíço.
No Azul ou no Vermelho?
Todos sabem que a vida não está fácil para ninguém, especialmente para as companhias aéreas. Como se pandemia do coronavírus não bastasse, a Azul ainda por cima passou por um adicional de incerteza: David Neeleman, fundador e atual presidente do conselho de administração da empresa, vendeu 9 milhões de ações da empresa. Uma movimentação desse porte na base acionária atrai atenção e alimenta desconfiança, mas, afinal, o que ela de fato significa? O Victor Aguiar traz a resposta nesta matéria.
Sinal vermelho
Com o isolamento imposto pelo coronavírus, quem vai querer comprar um carro para ficar parado na garagem? O presidente do BV, antigo Banco Votorantim, afirmou que a instituição registrou uma queda de 80% nos financiamentos de veículos em março em razão da pandemia. Em entrevista ao Estadão, Gabriel Ferreira também fez uma comparação sobre o comportamento da inadimplência agora com a greve dos caminhoneiros.
Quem dá menos?
A riqueza do Brasil sofrerá graves danos do novo coronavírus, pelo que mostra a Moody’s. Economistas da agência de risco veem um encolhimento de 6% do PIB do país, bem acima da média do mercado financeiro. As consequências para a economia da América Latina em geral não serão menores: a contração na região deverá ser duas vezes maior do que a do ano da crise financeira. Você confere todos os números nesta matéria.
Governador infectado
Wilson Witzel, governador do Estado do Rio de Janeiro, disse que contraiu a covid-19, segundo comunicado oficial. Witzel afirmou que manterá as restrições e as recomendações médicas trabalhando do Palácio da Guanabara, sua residência oficial. O político pediu que a população cumpra as exigências do isolamento social. Ele também falou sobre os sintomas que sentiu da doença.
Roberto Benigni ou Woody Allen?
O mercado tem dado sinais de otimismo — para isso, basta ver o S&P 500, só 5% abaixo do patamar de 2019. Mas isso está certo mesmo? Os investidores estão apostando numa recuperação dos lucros em 2021? E o temor de uma segunda onda? Há alguma ideia do que se pode ter quando bancos centrais imprimem dinheiro do jeito que fazem hoje? Na coluna de hoje, o Felipe Miranda conta por que prefere Woody Allen a Roberto Benigni nesse cabo de guerra de visões sobre a crise.
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