Queda de ações das gigantes de tecnologia faz medo rondar o mercado; o que está por trás do movimento?
Apesar da correção, segundo o Bank of America, as FAAMG (Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, Google) ainda estão sendo negociadas 41% acima da média móvel de 200 dias; colunista analisa o movimento de baixa
“The oldest and strongest emotion of mankind is fear, and the oldest and strongest kind of fear is fear of the unknown.” – H.P. Lovecraft
Já abri o jogo no passado sobre meu interesse por literatura criada durante o romantismo. Hoje, trago outra de minhas inclinações: o terror. Não poderia citar outra pessoa que não Howard Phillips Lovecraft, escritor americano do início do século 20 e também uma das personalidades mais importantes para a formação dos pilares do que o gênero é hoje, nos mais diversos sentidos.
Influenciado principalmente por Edgar Allan Poe e Robert Chambers, entre outros, Lovecraft estabeleceu um novo paradigma com sua criatividade, lançando as bases da ficção científica contemporânea. A história não conta o que poderia ter sido, apenas o que de fato foi. Há quem argumente que o autor é fruto de seu tempo, quando era necessário quebrar barreiras do conceito de medo, uma vez que as pessoas que viram os horrores da Primeira Guerra Mundial dificilmente seriam abaladas por qualquer coisa.
Para mim, a genialidade de Lovecraft é única e seria memorável independente do tempo em que tivesse vivido – refletir sobre a indiferença cósmica em um mundo no qual somos insignificantes à mercê de forças aleatórias é fronteiriço e desolador.
Imageticamente, na semana passada, o medo rodeou o mercado.
Os índices globais começaram a cair, principalmente devido à performance das empresas de tecnologia, as quais tiveram desempenho destacável nos últimos meses, tendo ganhado notável aprofundamento nos últimos dias.
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Apesar da correção, segundo o Bank of America, as FAAMG (Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, Google) ainda estão sendo negociadas 41% acima da média móvel de 200 dias. Discute-se, contudo, se o sell-off fora responsabilidade de algum rotation setorial por parte dos agentes, que estariam avaliando exposição em outros segmentos que ficaram para trás, ou de uma salutar correção depois das subsequentes altas recentes.
Além dos fatores racionais, ainda existiriam os irracionais, relacionados com os vieses do investidor. O medo, como em Lovecraft, assume forma de euforia. Então, por mais que o ajuste tivesse sido natural, o movimento reflexivo e dialético de fundos sistemáticos, por exemplo, contribuindo com a queda simplesmente para ajustar alguma posição diante da desvalorização, teria elevado o grau de relação entre os ativos, forçando as Bolsas a caírem mais direcionalmente, de maneira uniforme. A pressão de estarmos diante de uma nova bolha, assusta o mercado, definitivamente.
Diferente dos anos 2000, entretanto, as empresas de tecnologia têm se tornado robustas, com resultados e consolidações antes inexistentes. Logo, podem até cair mais um pouco nos próximos dias, em uma continuidade da semana passada, mas as tendências estruturais de médio e longo prazo devem prevalecer sob os holofotes. O futuro é necessariamente tecnológico; por isso, é difícil não ficar construtivo.
Até mesmo por conta disso, passei a procurar por outro culpado que não somente um esgotamento de alta das ações de tecnologia. Não importa muito para onde eu olhava, a resposta era a mesma: Softbank.
Para quem não sabe, se trata de uma holding japonesa, com sede em Tóquio, que detém participações em muitas empresas de tecnologia e energia, por meio de fundos como o Vision Fund, o maior fundo de venture capital focado em tecnologia do mundo, com mais de US$ 100 bilhões em capital.
Na semana passada, as ações do SoftBank caíram 8% enquanto sua estratégia recente na Nasdaq era revelada aos investidores. Ao que tudo indica, o Softbank comprou opções em cerca de US$ 50 bilhões de ações subjacentes. O movimento definitivamente dinamizou o setor de tecnologia, cujo tamanho impulsiona mercados mais amplos.
Basicamente, o que foi feito foi o seguinte:
O SoftBank comprou quase a mesma quantidade de opções de compra (calls) relacionadas às ações subjacentes que comprou anteriormente para capturar o movimento de altas de tecnologia.
Ao mesmo tempo, a instituição também vendeu opções de compra (calls também) a preços muito mais altos, o que permitiu que o SoftBank tirasse vantagem do boom de ações no curto prazo e, então, obtivesse esses benefícios descarregando sua posição com contrapartes dispostas.
As opções de compra dão o direito de comprar, enquanto as opções de venda dão o direito de vender. Os comerciantes podem explorar esses contratos de derivativos para fazer apostas direcionais em ações ou proteger suas carteiras.
Assim, a dinâmica do mercado pode ser parcialmente explicada por investimentos como o da SoftBank. A atividade de opções tem sido tão robusta que ajudou a intensificar a recuperação das ações de tecnologia e desencadear um impulso incomum nos mercados. A estratégia se chama positive gamma.
Embora a enorme aposta do Softbank em ações de tecnologia americanas tenha funcionado por enquanto, em algo como US$ 4 bilhões em lucros não realizados, uma retração no mercado poderia corroer os retornos de forma bastante acentuada, explicando a queda nas ações do Softbank.
Entendo que a recente correção tenha sido natural depois de tantas altas, mas o receio permanece. Como já tratamos aqui, a MMT e o Fed têm ajudado a manter os mercados em alta. Ou seja, não são os fundamentos que impulsionam os mercados, mas, sim, a árvore do dinheiro. No caso, devemos seguir o dinheiro, mas com responsabilidade. Dessa forma, hedges são importantes em portfólio equilibrados, como metais (ouro e prata) e moedas fortes (dólar, euro, franco suíço, iene e libra esterlina.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Outra alternativa ainda são posições em países emergentes. Na Ásia, por meio de infraestrutura e tecnologia na China, de maneira estrutural e na América Latina, com devida atenção a commodities e infraestrutura, de maneira conjuntural – atenção para o Brasil que está na mira internacional depois de ter perdido muito valor em termos dolarizados.
São pensamentos diligentes como os que apresentei aqui que o leitor poderá encontrar no Palavra do Estrategista, best-seller aqui da Empiricus sob a tutela de nosso sócio fundador e CIO, Felipe Miranda. Convido a todo a conferir o que nosso estrategista-chefe tem pensado em se tratando de suas melhores ideias de investimento.
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