São só garotos: o papel dos homens à causa das mulheres e o impacto nos seus investimentos
Companhias com maior diversidade de gênero demonstram retornos maiores e tendem a ter uma performance superior à média; entenda

Talvez, a princípio, este possa parecer um texto para mulheres.
Um olhar um pouco mais treinado poderia perceber se tratar de algo também voltado aos “apoiadores”, a homens simpáticos às causas das mulheres, em seu ambiente de trabalho e no mercado financeiro — “apoiadores" normalmente são necessários para materializar as demandas das minorias; sem ajuda, sempre fica mais difícil.
De fato, o Day One de hoje se endereça a esses dois públicos. Confesso o desejo de aumentar a participação de mulheres entre os investidores totais da B3 e entre os assinantes da Empiricus. Infelizmente, elas ainda são minoria entre os dois grupos. “Infelizmente” aqui envolve até mesmo um critério objetivo: vários estudos de finanças comportamentais apontam para, na média, um resultado mais positivo das carteiras femininas comparativamente àquelas dos homens. Ou seja, se tivéssemos mais mulheres investindo, o resultado agregado tenderia a ser melhor.
Mas este texto se dedica ainda mais a um terceiro grupo: aos homens que acham que não têm nada a ver com a questão feminina.
Começo com o que já se torna uma tradição às segundas-feiras, com a sugestão para ouvir nosso podcast Empiricus Puro Malte, no Spotify e na Apple. Entre outras coisas, falamos de características particulares de homens e mulheres, que, inclusive, nos colocam, na média, em grande desvantagem.
Estudos gerais em Finanças Comportamentais, tendo Terrance Odean como expoente, indicam que o investidor típico negocia ações com frequência excessiva, concentra demais e realiza lucros rápido demais, enquanto enfrenta grande dificuldade para realizar prejuízos (vem do viés da aversão à perda; ninguém quer tangibilizar um prejuízo, uma dor, ainda que a marcação a mercado já o tenha feito para você). Se você vende o que sobe e carrega o que cai, basicamente está se desfazendo do que vai bem e ficando com o que vai mal. O resultado a longo prazo é que você morre com uma carteira de micos na mão.
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As mulheres, na média, negociam menos e, assim, arcam com menores custos de transação e se permitem ficar mais tempo com suas posições, deixando exposições vencedoras em seus portfólios serem carregadas por um prazo maior. As mulheres também tendem a ter menos excesso de confiança e mais ponderação em seus investimentos, o que se desdobra em carteiras mais diversificadas e balanceadas, cujas performances são superiores lá na frente.
Há inclusive associações entre o comportamento feminino em Bolsa e o value investing clássico. Rendeu até livro: “Warren Buffett investe como as mulheres”.
Desde que comecei a estudar com mais profundidade o tema de ESG (questões de meio ambiente, sociais e de governança), identifiquei uma série de estudos acadêmicos que refuta o clichê original de que a adoção dessas práticas ensejaria perda de retorno. Mais recentemente inclusive, vários papers indicam uma correlação positiva entre performance das carteiras de investimento e respeito à temática ESG.
Um dos temas ainda incipientes, sobretudo no Brasil, é o W-ESG, a união direta entre tópicos particulares de igualdade de gênero e o ESG mais geral. A questão está entre as prioridades da ONU, por exemplo, como meta para o desenvolvimento sustentável, sendo seu objetivo número 5. Diz algo como: “garantir às mulheres total e efetiva participação e igualdade de oportunidades de liderança em todos os níveis de tomada de decisão, nas esferas política, econômica e administração pública”.
De forma bem simples, para acompanhar a evolução da igualdade de gênero, a ONU monitora dois indicadores principais: i) a proporção de mulheres nos Parlamentos nacionais e em cargos políticos locais; e ii) a participação de mulheres em posição de liderança empresarial. Em termos agregados, os últimos dados disponíveis apontam que menos de 25% dos assentos nos Parlamentos são ocupados por mulheres. Em termos empresariais, a participação feminina em posições de liderança nas empresas do S&P 500 é de apenas 26,5%; em conselhos de administração, suas cadeiras representam 21,2%. Das empresas do MSCI ACWI (índice global de ações do Morgan Stanley), 78% tem menos de 30% de mulheres em seus conselhos de administração e 10% não têm sequer uma mulher sentada no board.
Chamo atenção para uma coisa: esse não é um papo progressista em favor de minorias apenas (embora até pudesse ser o caso; lembre-se de que perseguir igualdade de oportunidades é uma das essências do liberalismo). O ponto por vezes negligenciado sobre o assunto é que uma maior participação feminina, nas diretorias e nos conselhos de administração, traria maiores retornos empresariais e, por conseguinte, performances superiores das respectivas ações listadas em Bolsa.
Companhias com maior diversidade de gênero demonstram retornos maiores e tendem a ter uma performance superior à média. Ao menos dois estudos foram enfáticos nessa questão: “Delivering Through Diversity”, da McKinsey, de 2018; e “When Woman Lead, Firms Win”, da S&P Global, de 2019.
Já o estudo “Women in Business Leadership Boost ESG Performance”, da IFC, de 2019, mostra que uma liderança empresarial feminina está associada, na média, a um incremento de práticas em favor do meio ambiente, reduz problemas de exploração do trabalho e diminui práticas antiéticas. Tudo isso, por sua vez, estaria atrelado a uma melhor performance de longo prazo. O mesmo estudo mostrou que conselhos de administração com ao menos três membros de cada gênero têm uma probabilidade 79% superior de substituir CEOs cuja performance é ruim.
Por fim, outro estudo da McKinsey, batizado “The Power of Parity: How Advancing Women’s Equality Can Add US$ 12 trillion to Global Growth”, estimou que um maior empoderamento às mulheres poderia adicionar US$ 28 trilhões ao crescimento do PIB mundial até 2025.
Em resumo, estamos falando de mais mulheres, mais resultado. Geração de renda e riqueza, dinheiro no bolso.
Estudo da Franklin Templeton, por exemplo, partiu de critérios simples, objetivos e diretos. Basicamente, selecionou empresas cujas lideranças e participação nos conselhos de administração eram superiores a três, e que gozavam de alta pontuação nos critérios de ESG (quartil superior nas três letras). Além disso, suas ações deveriam constar no índice MSCI World Women’s Leadership (grosseiramente, um índice do Morgan Stanley que relaciona empresas com liderança feminina). Então, a partir de um backtest e de critérios de diversificação mínima, chegou a uma carteira entre 30 e 35 ações.
Esse portfólio gerou um excesso de retorno anual sobre o S&P de 3,95 pontos percentuais desde 2015. Seu rendimento anualizado foi de 14,68%, contra 10,73% do índice, para um Sharpe Ratio de 1,08, contra 0,65 do benchmark. Se considerarmos o intervalo de 2017 a 2020, o excesso de retorno pula para 4,47 pontos percentuais anuais.
A conversa é objetiva e, se nos debruçarmos sobre o tema, podemos ter algumas conclusões importantes:
— Se você é um empreendedor ou um gestor de equipe, aumentar a participação feminina em seu time tende a elevar o resultado agregado.
— Se você é um investidor de ações, adicionar um filtro em sua análise que persiga maior participação de mulheres nas diretorias e nos conselhos de administração das empresas pode auxiliá-lo na seleção de papéis vencedores.
— Se você é casado e/ou conta com outra mulher de sua confiança (não me interprete mal, falo de mãe, irmã, tia, filha, amiga), pode delegar-lhe a função de gerenciamento patrimonial.
— Se a B3, a CVM, a Anbima, a Apimec, o Tesouro Direto ou qualquer outra instituição fizer campanhas em prol do aumento da participação feminina em empresas e como investidoras de ativos financeiros, a sociedade como um todo deve ganhar.
Como forma de enaltecer a importância e a superioridade das mulheres, além de tentar dar uma pequena contribuição em favor de seu maior protagonismo, encerro hoje com dois convites.
Na quarta-feira, vou fazer uma Live com a psicanalista Maria Lucia Homem, às 19h. Salve na agenda. Sou um grande fã da Maria, leitor de seus livros e aluno dos seus cursos na Casa do Saber (estou ansioso para o próximo; Jair, você pediu o comentário, então está aqui!) — sou também muito grato por ela ser assinante da Casa. Para mim, ela é uma das maiores intelectuais brasileiras e voz ativa na questão do “feminino”. E, para fechar com chave de ouro: é investidora das boas.
E peço atenção especial para o novo curso da Bettina Rudolph, que vai explorar os mercados mais assimétricos do Brasil e do exterior. A ideia é dar um grande salto, em especial àqueles que já acompanhavam a Bettina desde o início da Sua Jornada Financeira. E se você ainda não a acompanha, acho que vale a pena entrar em contato e conhecê-la com mais profundidade.
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