🔴 QUER INVESTIR NAS MELHORES CRIPTOMOEDAS DO MOMENTO? SAIBA COMO CLICANDO AQUI

O voo

Esse é o verdadeiro ESG, que se escora na ética e no propósito. O resto é perfumaria, de gente que está mais preocupada com posts no LinkedIn do que em propriamente tratar bem as pessoas do seu entorno e seus clientes

17 de novembro de 2020
10:50 - atualizado às 18:41
ESG investimento planta moedas
Imagem: Shutterstock

Goza a euforia do voo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o
de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu voo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens
na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e
de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.”

Menotti Del Picchia

“Que sabes tu do fim?”

Começo com essa provocação de Menotti Del Picchia para falar do final. Mais precisamente do final de 2020. O ano que se mostrou duríssimo durante a maior parte do tempo pode terminar muito melhor do que supõem as estimativas de consenso.

“Voa e canta enquanto resistirem as asas.” A persistência, a disciplina e a paciência acabam recompensadas. O investimento é um exercício de terminativa, não de iniciativa. O jogo só acaba quando termina. Ou talvez nem acabe. É uma caminhada infinita, stairway to heaven. E você é tão bom quanto seu último trade. Importa o que está à nossa frente e a capacidade de aceitar o destino, a famosa serenidade em acatar as coisas que não podemos mudar, a coragem para mudar as coisas que podemos e a sabedoria para diferenciar as coisas. Amor fati em Nietzsche, beatitude em Espinosa.

Depois das dificuldades, talvez encerremos o ano com ativos de risco impensáveis há pouco tempo. 

O estrangeiro, depois de muito tempo ausente, volta a comprar Bolsa brasileira com algum vigor — num mar de tantos trilhões de liquidez, talvez os R$ 17 bilhões de fluxo estrangeiro líquido em novembro na B3 não sejam assim tão vigorosos para eles, mas, para um mercado grande com uma porta pequena, parece substancial para fazer preço por aqui, numa dinâmica que historicamente forma-se em clusters e, portanto, sugere arrombamento adicional pela frente. 

Leia Também

Os resultados trimestrais das empresas brasileiras, conforme muito bem apontados pelos gestores da Dahlia em entrevista à Bloomberg, são uma surpresa positiva por dia. Talvez eu esteja um pouco velho, cão velho sob a necessidade de aprender truques novos, mas ainda acredito naquela coisa antiga de que ações são empresas, que acabam seguindo os lucros. Podemos ter dias pontuais de queda para B3 e Magalu, dado o rotation global, mas, com essa dinâmica de resultados, cedo ou tarde as coisas convergem.

E, como insisto com frequência, por mais que nossas estradas, tempo e vento aparentemente caminhem para desabar no abismo, a verdade é que tomamos a direção contrária quando a aproximação do precipício é grande. O Brasil, nem sei bem por que, goza de uma força gravitacional antagônica àquela dos buracos negros. Passadas as eleições municipais, há algum espaço para a retomada das conversas de formas e cuidado com nossa trajetória fiscal, que, aliás, pode ser melhor do que a esperada mediante recuperação da economia acima das projeções. Reformas não por boniteza, claro, mas por precisão.

Encontrei o lindo poema de Menotti Del Picchia enquanto assistia à inspiradora conversa do senhor Luiz Seabra, fundador da Natura, no canal “Escolha pela Vida” nesse final de semana. Ela me fora encaminhada por um amigo gestor, com posição nas ações da Natura. Registro aqui meus agradecimentos públicos, porque foi um momento muito rico para mim. Fica como sugestão. Há tanta coisa ali. Uma trajetória empreendedora de muito sucesso, mas, acima de tudo, uma visão sobre a vida de muita profundidade e sabedoria. Quem foi mesmo que inventou essa separação entre “o sujeito na física” e “o profissional na jurídica”? Fico pensando em pessoas que se travestem para entrar numa empresa. Só pode ser isso. Deixam sua verdadeira identidade do lado de fora e vestem um uniforme de personagem corporativo ao cruzar a porta do escritório. Aliás, vale também para o home office? Estou confuso. Tela azul. Poderia ser uma menção ao ótimo podcast de tecnologia dos jovens brilhantes e disruptivos da Empiricus , mas é só minha frustração diante da dificuldade de encontrar gente de verdade neste mundo.

Refleti bastante a partir das palavras do senhor Luiz Seabra. Em alguma medida, ele é o oposto da turma da 3G, do Jorge Paulo. A forma com que ele fala de China, Grécia, filosofia, medo, relações humanas. Para alguns, é só erudição, pensamentos diletantes e outro jeito de ver as coisas. Pode ser. Mas eu acho que é mais do que isso. E não quero ofender ninguém com meu comentário. Para mim, porém, esse posicionamento está muito mais bem preparado para os dias atuais e os desafios das próximas décadas do que a obstinação por corte de custos e o culto do dinheiro pelo dinheiro, sem um propósito de vida muito claro. Esse é o verdadeiro ESG, que se escora na ética e no propósito. O resto é perfumaria, de gente que está mais preocupada com posts no LinkedIn do que em propriamente tratar bem as pessoas do seu entorno e seus clientes. Os travestis do marketing pessoal. “A gente contrata essa moça grávida e logo posta nas redes. Bingo! Sai barato.”

É um privilégio podermos, como brasileiros, contar com empreendedores como essa turma da Natura, referências globais que, no meu entendimento, devem estar entre as líderes de performance em Bolsa nos próximos anos. No final do dia, é tudo sobre gente.

Essas eleições municipais me lembraram do quanto os brasileiros gostam de falar mal do governo. Os impostos são muito altos. Os serviços públicos são ruins. Os privilégios de políticos e de algumas castas do funcionalismo acentuam a desigualdade social. O Estado existe apenas para alimentar a si mesmo, diante de um faminto Leviatã. Existe muita corrupção. 

Tudo isso é verdade. Mas se você perguntar para a maior parte dos críticos onde está o dinheiro deles, provavelmente vai encontrar como resposta: está lá financiando a dívida pública, como se pudéssemos criar algum valor a partir disso.

A geração de valor, seja para si ou para a sociedade, costuma vir do setor privado. E, portanto, se somos tão críticos da esfera pública, talvez pudéssemos pensar em financiar justamente as empresas privadas, por meio do mercado de capitais. 

Você pode fazer isso e se tornar sócio de empresas maravilhosas. Felizmente, ainda há no mundo pessoas como o senhor Luiz Seabra. As ações da Natura estão te esperando. Se temes que teu mistério seja uma noite, elas podem enchê-lo com estrelas.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?

17 de março de 2025 - 20:00

Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante

12 de março de 2025 - 19:58

Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º

5 de março de 2025 - 20:01

Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump

26 de fevereiro de 2025 - 20:00

Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável

19 de fevereiro de 2025 - 20:01

Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808

10 de fevereiro de 2025 - 20:00

A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek

3 de fevereiro de 2025 - 20:01

Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?

29 de janeiro de 2025 - 20:31

Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal

11 de dezembro de 2024 - 15:00

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”

4 de dezembro de 2024 - 20:00

Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou

27 de novembro de 2024 - 16:01

Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

18 de novembro de 2024 - 20:00

Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2

7 de outubro de 2024 - 20:00

Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo

2 de outubro de 2024 - 14:40

A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano

30 de setembro de 2024 - 20:03

Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar